São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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Brasil deve reduzir tarifas 1º, diz Schwab

Representante comercial dos EUA afirma que norte-americanos só baixam subsídios depois de sinalização brasileira

Embaixadora condiciona ação dos EUA a corte nas tarifas em bens industriais brasileiros, como químicos, eletrônicos, hospitalares

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Em encontro de cerca de três horas com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no sábado, a embaixadora Susan Schwab, representante comercial dos Estados Unidos, afirmou que os americanos não iriam reduzir os subsídios agrícolas enquanto não houvesse um grande corte das tarifas industriais no Brasil.
A dureza de Schwab provocou um desapontamento geral dos empresários ligados ao agronegócio que participaram do encontro. A expectativa era de que, no rastro da visita do presidente George W. Bush ao Brasil, houvesse uma disposição dos EUA de fazer algumas concessões ao Brasil. A negociadora americana tratou de jogar uma ducha de água fria.
Schwab não só não deu esperança de fazer qualquer concessão ao Brasil, como também apresentou uma lista com um pedido de uma ampla rebaixa tarifária - na maioria dos casos para zero- de diversos produtos industriais fabricados no Brasil. A lista de Schwab abrange os seguintes setores: produtos químicos, eletrônicos, meio ambiente, florestal e equipamentos hospitalares.
Schwab deixou clara a posição dos EUA e que o governo americano só vai se mexer depois que todos os demais países no âmbito da negociação da Rodada de Doha porem suas cartas na mesa.
Os EUA vão esperar o Brasil rebaixar suas tarifas, assim como os países do G-20 e também a União Européia reduzirem os subsídios agrícolas. Também estava presente à reunião no sábado, na Fiesp, Peter Algeier, co-presidente da Alca.

Cartas na manga
Consultor em relações internacionais e ex-embaixador do Brasil nos EUA e no Reino Unido, Rubens Barbosa, que também participou da reunião de sábado na Fiesp, que Schwab pode ter surpreendido os empresários, mas, para ele, que possui experiência em negociar há muitos anos com os EUA, o que ela fez foi só reiterar a posição americana.
"Quem não acompanha as negociações pode ter ficado surpreso com a dureza de Schwab, mas ela apenas usou da franqueza", diz.
Rubens Barbosa argumentou ainda que não seria na Fiesp também que Schwab iria jogar as cartas na mesa que os EUA pretendem jogar na Rodada de Doha. As negociações são entre governos e todos, por enquanto, estão escondendo suas cartas na manga. "Ninguém quer abrir sua estratégia", afirma Barbosa.
Os empresários, no entanto, pressionaram Schwab para que ela desse algum sinal de disposição dos EUA de fazer alguma concessão na área agrícola. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, disse que a negociação entre o Brasil e os EUA precisa ser ambiciosa e equilibrada.
O empresário Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de comércio exterior da Fiesp, disse que há, por enquanto, um desequilíbrio nas negociações com os EUA. Enquanto o Brasil mostra disposição de fazer algumas concessões na área industrial, os EUA se negam a baixar os subsídios agrícolas ou reduzir as tarifas cobradas para diversos produtos como suco de laranja, álcool e açúcar.
Também participaram da reunião de sábado, pelo lado do Brasil, o ex-ministro Roberto Rodrigues e os empresários José Luís Cutrale (suco de laranja), Marcos Jank (açúcar e álcool) e Andréia Veríssimo (carne). Giannetti disse, no entanto, que já a reunião de sexta-feira entre empresários industriais de outros setores com Susan Schwab já foi mais proveitosa. Ficou acertado que os dois lados iriam dar partida a algumas negociações setoriais.
Em abril desembarca no Brasil John Enger, que preside uma das maiores entidades empresariais dos EUA, com o objetivo de dar partida a essas negociações.
"Vamos iniciar algumas negociações bilaterais e depois encaminhar os resultados ao governo", afirmou Giannetti.


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