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VINICIUS TORRES FREIRE
O melhor ano em um quarto de século
Alta do PIB não supera 2004,
mas conjunto da obra é mais
equilibrado. Falta aproveitar
a sorte para melhorar mais
FOI O MELHOR ano da economia
desde 1995, a "era do real". O
crescimento do PIB em 2007,
5,4%, não foi maior que o de 2004
(5,7%). A alta do investimento
(13,4%) foi algo inferior à de 1994
(14,3%). O ritmo de elevação do consumo privado (6,5%) perdeu para os
8,6% de 1995. Mas, além de os resultados estarem próximos dos recordes, o conjunto da obra de 2007 é superior. Como os anos entre o colapso do início dos 80 e o real foram
uma tragédia, 2007 registrou a melhor marca em um quarto de século.
O crescimento ora se dá em relação a um nível mais elevado de investimento e consumo. Apesar de o
governo gastar cada vez mais, a dívida pública cai, embora devagar. A inflação está baixa, sem artifícios como o câmbio quase fixo. A dívida externa está controlada desde 2006.
Tucanos e suas viúvas se roerão de
inveja e ressentimento. Lula já escancarou a bica de asneiras econômicas e jactâncias. A maioria das
pessoas, que têm mais o que fazer do
que ler estatísticas e comparações
globais, gosta do que vê e compra.
Vai-se dizer que o Brasil está bem
devido à China, da qual se tornou dependente. É verdade, em parte. Mas
"achado não é roubado". Ou, lembre-se João Cabral, que dizia não
acreditar em inspiração poética,
mas, quando ela "vinha", a aproveitava. Lula aproveitou pouco sua sorte: arrumou o rolo externo, melhorou o setor imobiliário, criou uma
camada de "microconsumidores".
Não fez loucuras. De resto, adotou,
grosso modo, a economia de FHC 2.
O país só agora cresce em torno da
média do mundo. Cresce quase como a Coréia, um país muito mais rico e industrializado que o Brasil, ora
"em crise" com um PIB tão "lento".
Poderíamos crescer num ritmo entre o coreano e o chinês. Mas nosso
barquinho continua a subir apenas
quando a maré levanta o de todo
mundo. Sim, nosso barquinho poderia estar furado -e não está. Mas o
que tem sido feito para incrementá-lo? Não há projeto inovador no governo Lula na área fiscal, no incentivo à incorporação de setores de ponta na economia (mais ciência, tecnologia, educação), reforma nas nossas
incríveis burocracia e Justiça etc.
O pacote que não era
O pacote cambial do governo não
era pacote nem era cambial. Melhor. Exportadores tiveram alívio
burocrático e tributário. Podem
agora deixar no exterior os dólares
que faturam, desburocratização
que reduz custos. Não vão pagar
mais IOF. Mas isso tem mais cara
de melhorar a rentabilidade do empresário do que as exportações.
Os não-residentes que compram
títulos do governo vão pagar IOF, o
que deve reduzir um pouco o fluxo
dessas operações, mas não sua tendência, ao menos enquanto os juros forem extravagantes. O governo não mexeu no bruto mercado de
futuros, no qual a coisa pega e em
que não-residentes faturam grosso
com juros, eventualmente, ganham
com a alta do real (eventualmente
que já dura cinco anos) e dão impulso extra à valorização da moeda.
O "pacote", em si, pouco mexerá
no câmbio. Mas vamos supor que o
pior acontecesse na economia
mundial, e o real começasse a se
desvalorizar de modo algo selvagem, lá pela primavera. Vamos ter
um "pacote cambial reverso"?
vinit@uol.com.br
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