São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O melhor ano em um quarto de século

Alta do PIB não supera 2004, mas conjunto da obra é mais equilibrado. Falta aproveitar a sorte para melhorar mais

FOI O MELHOR ano da economia desde 1995, a "era do real". O crescimento do PIB em 2007, 5,4%, não foi maior que o de 2004 (5,7%). A alta do investimento (13,4%) foi algo inferior à de 1994 (14,3%). O ritmo de elevação do consumo privado (6,5%) perdeu para os 8,6% de 1995. Mas, além de os resultados estarem próximos dos recordes, o conjunto da obra de 2007 é superior. Como os anos entre o colapso do início dos 80 e o real foram uma tragédia, 2007 registrou a melhor marca em um quarto de século.
O crescimento ora se dá em relação a um nível mais elevado de investimento e consumo. Apesar de o governo gastar cada vez mais, a dívida pública cai, embora devagar. A inflação está baixa, sem artifícios como o câmbio quase fixo. A dívida externa está controlada desde 2006.
Tucanos e suas viúvas se roerão de inveja e ressentimento. Lula já escancarou a bica de asneiras econômicas e jactâncias. A maioria das pessoas, que têm mais o que fazer do que ler estatísticas e comparações globais, gosta do que vê e compra.
Vai-se dizer que o Brasil está bem devido à China, da qual se tornou dependente. É verdade, em parte. Mas "achado não é roubado". Ou, lembre-se João Cabral, que dizia não acreditar em inspiração poética, mas, quando ela "vinha", a aproveitava. Lula aproveitou pouco sua sorte: arrumou o rolo externo, melhorou o setor imobiliário, criou uma camada de "microconsumidores".
Não fez loucuras. De resto, adotou, grosso modo, a economia de FHC 2.
O país só agora cresce em torno da média do mundo. Cresce quase como a Coréia, um país muito mais rico e industrializado que o Brasil, ora "em crise" com um PIB tão "lento".
Poderíamos crescer num ritmo entre o coreano e o chinês. Mas nosso barquinho continua a subir apenas quando a maré levanta o de todo mundo. Sim, nosso barquinho poderia estar furado -e não está. Mas o que tem sido feito para incrementá-lo? Não há projeto inovador no governo Lula na área fiscal, no incentivo à incorporação de setores de ponta na economia (mais ciência, tecnologia, educação), reforma nas nossas incríveis burocracia e Justiça etc.

O pacote que não era
O pacote cambial do governo não era pacote nem era cambial. Melhor. Exportadores tiveram alívio burocrático e tributário. Podem agora deixar no exterior os dólares que faturam, desburocratização que reduz custos. Não vão pagar mais IOF. Mas isso tem mais cara de melhorar a rentabilidade do empresário do que as exportações.
Os não-residentes que compram títulos do governo vão pagar IOF, o que deve reduzir um pouco o fluxo dessas operações, mas não sua tendência, ao menos enquanto os juros forem extravagantes. O governo não mexeu no bruto mercado de futuros, no qual a coisa pega e em que não-residentes faturam grosso com juros, eventualmente, ganham com a alta do real (eventualmente que já dura cinco anos) e dão impulso extra à valorização da moeda.
O "pacote", em si, pouco mexerá no câmbio. Mas vamos supor que o pior acontecesse na economia mundial, e o real começasse a se desvalorizar de modo algo selvagem, lá pela primavera. Vamos ter um "pacote cambial reverso"?


vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: PIB / contexto global: PIB brasileiro fica em bloco intermediário
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.