São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Turismo da crise: México



Reformista, contas públicas em ordem, aberto, México cresceu pouco durante "boom" global e terá recessão neste ano


O MÉXICO é a segunda maior economia da América Latina, mas deixamos de dar bola para nossos irmãos de infortúnio econômico, porém um pouquinho mais "ricos" do que nós (em PIB per capita). Mas, entre os anos 80 e 90, o México era notícia e o primeiro da classe: quebrava primeiro (quebrávamos a seguir), fazia "reformas" primeiro, supervalorizava o câmbio primeiro etc. Sim, o Chile, fez "reformas" ainda antes e se deu muito bem. Mas o Chile nada tem a ver com o Brasil. Sua economia é miúda. Parece aquela dos primeiros capítulos de livros básicos de macroeconomia: "Imagine uma economia com apenas dois produtos". É o Chile.
O México inaugurou a onda de quebras do desenvolvimentismo, em 1982. Começou a abrir a economia em 1985. Renegociou a dívida externa antes do Brasil. Em 1990, o presidente Carlos Salinas propôs o acordo de livre comércio da América do Norte, o Nafta. Salinas, depois reconhecido pilantra, foi paparicado pelo mercadismo, em palavras e dinheiro. De 1990 a 1994 ocorreu o "milagrito". Em fins de 1994, o México quebrava de novo. O "efeito tequila" abalou o eufórico início do Real no Brasil. Foi também a época do início do Nafta. Desde então, o México cresceu ainda menos do que nós. Nos cinco anos de "boom mundial" (2003-07), o Brasil cresceu em média 4% ao ano. O México, 3,3%.
O PIB mexicano cresceu 1,2% em 2008 (5,1% no Brasil). O banco central deles estima retração de 1,8% para 2009. Cerca de 85% das exportações vão para os EUA. As vendas para os americanos são 21% do PIB (na América Latina, fora o México, tal proporção é 5%). Cerca de 80% das exportações de veículos vão para os EUA. No início do ano, a exportação de veículos caiu 50% (contra o mesmo período de 2008). As de petróleo, 54% (dois terços da queda total de exportações).
Cerca de 35% da receita de impostos vem do petróleo. O tombo da arrecadação será ruim, mas não equivalente ao do preço do petróleo, pois os mexicanos travaram o preço, fizeram "hedge". Eles também não têm déficit fiscal desde 2005. O governo anunciou um pacote de estímulo fiscal de 1% do PIB. Mas as previsões de mercado dão que o PIB vai encolher uns 2,5% em 2009.
A inflação mexicana está em torno de 6%. Eles ainda temem que a desvalorização do peso esquente a chapa dos preços. O câmbio ficou em torno de 11 pesos por dólar durante quase todo este século, até meados de 2008. Mas agora anda em torno de 15. O tamanho relativo das reservas internacionais é bem inferior ao brasileiro, mas confortável. O déficit externo é semelhante ao brasileiro (1,8% do PIB). Mas deve crescer bem devido à baixa das exportações, à baixa do turismo e das remessas de trabalhadores mexicanos no exterior (2% do PIB). Dados a inflação resistente, a desvalorização cambial e o déficit em conta corrente, o BC tem cortado pouco os juros.
O México é um bom "case" de estudo de "reformas". É uma economia aberta (as exportações são 26% do PIB. No Brasil, 12%), que privatizou bem, com dívida pública e carga tributárias menores que as nossas e conduzida por economistas mais conformes à ortodoxia que os nossos. Mas progrediu pouco também; nos últimos anos, menos do que nós.

vinit@uol.com.br


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