São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LEITE DERRAMADO

Participação da empresa em segmentos como o de leite longa vida caiu do ano passado para o início deste

Produtos da Parmalat perdem mercado

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A participação de mercado da Parmalat no Brasil não resistiu intacta a cinco meses de escândalos financeiros, pedido de concordata e uma polêmica intervenção judicial. Os principais beneficiados da derrocada foram a Nestlé, a Unilever e diversas marcas pequenas de leite longa vida.
De dezembro de 2002 a janeiro de 2003, a Parmalat possuía 14,4% do mercado de longa vida, segundo dados obtidos pela Folha. Entre novembro e dezembro de 2003, a participação caiu para 10,5%. O "market share" da multinacional italiana já vinha em queda no Brasil devido à política da empresa, adotada desde o ano retrasado, de reduzir a produção para aumentar a rentabilidade, após seguidos prejuízos.
Após o estouro da crise, o percentual desabou em dezembro e janeiro para 8,7%, segundo a AC Nielsen, que divulga seus levantamentos apenas para executivos de companhias. Cada ponto percentual equivale a 4.782 litros.
Os consumidores migraram principalmente para "outras marcas", item do levantamento que agrega marcas menores, que juntas possuem hoje 37,1% do mercado de longa vida. Entre outubro e novembro de 2003, essas marcas tinham 36,1% do mercado.
A marca Líder de longa vida também cresceu, de 3,3% em outubro e novembro para 3,8% entre dezembro e janeiro de 2004.
Em leite condensado, a marca mais afetada foi a Parmalat: em dezembro, a participação era de 7%, fatia que caiu para 4% em fevereiro. A marca Glória, também da Parmalat, recuou de 8% para 7% no mesmo período.
A Glória teve um tombo maior, no mesmo período, em leite em pó: passou de 8% para 5%.
Quem ganhou foi a Nestlé, que no mesmo período subiu de 52% para 54% com o tradicional leite condensado Moça, e de 47% para 48,5% para leite em pó.
A estimativa do mercado é que as vendas do molho de tomate Etti, outra marca da Parmalat, caíram 55% de novembro para cá.
Segundo uma rede de supermercados, 70% das vendas dos atomatados da multinacional italiana foram para a Unilever. O mesmo percentual teria sido registrado pela Nestlé nos segmentos leite condensado e iogurte.
Em segmentos onde a empresa tem participação muito pequena, como biscoitos, com a marca Duchen, também houve queda. Entre janeiro e fevereiro de 2002, a Parmalat possuía 2,6%. Em novembro e dezembro do ano passado, 1,6%.
Em janeiro e fevereiro deste ano, novo recuo, para 1,4%, o equivalente a 1.650 toneladas de biscoitos vendidos. Essa participação se dividiu entre diversos compradores do segmentado mercado de biscoitos.

Ativos
Após a matriz recuperar o comando sobre a empresa, depois de dois meses de intervenção judicial, diferentes segmentos da indústria de alimentos esperam que a multinacional se desfaça de marcas e fábricas.
O novo conselho de administração foi eleito no final do mês passado, após um acordo com o juiz da 42ª Vara Cível, Carlos Henrique Abrão, que havia determinado a intervenção, e a expectativa é que o plano para reestruturar a empresa envolva venda de ativos.
Para analistas do setor de alimentos, a solução mais viável é o fatiamento da empresa, que tem uma dívida de US$ 1,8 bilhão.
Isso porque, ao longo dos anos 90, a Parmalat foi uma compradora agressiva de marcas em setores como biscoitos, sucos e molho de tomate. Com a crise, o caminho seria vender as que não geram caixa para centrar esforços nas operações principais da empresa.
As marcas menos interessantes para a empresa e que podem ser vendidas, segundo consultores, são a Duchen, de biscoitos, cuja participação é muito pequena no mercado, e a Etti, de molhos de tomate, já que esse segmento é dominado pela Unilever, com a marca Knorr/Cica.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Capitalismo vermelho: China aumenta depósito compulsório
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.