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Chefe do Bird pode perder cargo por causa da namorada
Constrangido, Paul Wolfowitz pede desculpas em entrevista e diz que cometeu um erro
Comitê-executivo do banco já analisa se vai puni-lo com demissão; associação de funcionários pede que ele renuncie à presidência
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O controvertido presidente
do Banco Mundial (Bird), Paul
Wolfowitz, está com seu cargo
em risco e teve ontem sua demissão pedida pela associação
de funcionários da instituição.
O comitê-executivo do Bird
já analisa se adotará alguma
medida, que pode ser a de demiti-lo, por causa de seu envolvimento em um escândalo de
favorecimento financeiro a
uma funcionária do banco -
sua namorada.
Wolfowitz assumiu o Bird
em meados de 2005 empunhando a bandeira do "combate à corrupção". Como um dos
principais "falcões" da era
Bush, ele foi um dos arquitetos
da invasão do Iraque, em 2003,
quando estava à frente do segundo cargo mais importante
do Pentágono.
Ontem, ele foi submetido a
um forte constrangimento por
conta do caso em sua primeira
aparição pública no encontro
do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Bird.
"Eu cometi um erro. Sinto
muito", disse Wolfowitz antes
de abrir a sessão de perguntas
aos jornalistas em entrevista
coletiva. Das 13 questões permitidas, sete abordaram o caso.
O escândalo veio a público há
alguns dias, quando a associação de empregados do Bird
questionou a promoção de Shaha Riza, que trabalhava na chefia da área de comunicações do
banco para o Oriente Médio.
Quando Wolfowitz assumiu
o Bird, em 2005, seu relacionamento com Riza tornou-se público. Seguindo sua política para esses casos, o conselho de
ética do banco recomendou a
transferência dela a outro posto fora da instituição, mas com
o salário ainda pago pelo Bird.
"Agi com boa fé ao implementar o meu entendimento
sobre aquela recomendação",
disse. Riza foi então indicada a
uma vaga no Departamento de
Estado para trabalhar sob a supervisão de Elizabeth Cheney,
filha do vice dos EUA.
Antes da transferência, no
entanto, o salário anual de Riza,
de U$ 163 mil, foi aumentado
para US$ 180 mil. Em meados
de 2006, houve novo reajuste,
de 7,5%, enquanto os funcionários do Bird tiveram 3,5%.
Riza passou a receber então
US$ 193,5 mil por ano livre de
impostos, cerca de US$ 7.000 a
mais do que a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. Em setembro do ano passado, Riza deixou o Departamento de Estado e hoje trabalha para uma ONG que incentiva a
democracia em países do norte
da África. Mas recebe pelo Bird.
Wolfowitz não detalhou sobre até onde foi sua responsabilidade direta pelos aumentos
dados à sua namorada -assim
como ele, divorciada.
"Em retrospecto, gostaria
que eu tivesse seguido meus
instintos e me mantido fora
dessas negociações. Eu cometi
um erro. Eu sinto muito", disse.
Mas o serviço eletrônico do
"Financial Times" afirmou que
duas fontes do Bird atestaram
que Wolfowitz recomendou diretamente ao chefe do departamento de recursos humanos do
banco os aumentos para Riza
por meio de um memorando.
Redigido em 11 de agosto de
2005, o documento especifica
os valores a serem pagos e como os reajustes subseqüentes
deveriam ser calculados.
Os termos e condições do
memorando não foram discutidos ou aprovados pelo comitê
de ética do Bird, nem pelo seu
departamento jurídico.
Ontem, Wolfowitz pediu que
seja "compreendido" em relação aos motivos que o levaram
a tratar "desse doloroso dilema
pessoal" quando tentava "navegar em águas desconhecidas"
-uma referência à época em
que assumiu o Bird e em que
decidiu sobre o futuro de Riza.
A associação de empregados
afirmou que a conduta de Wolfowitz "comprometeu a integridade" do banco e "destruiu a
confiança dos funcionários em
sua liderança". "Ele deve agora
agir com honra e renunciar."
Muitos funcionários de carreira do Bird afirmam que Wolfowitz vem transformando o
banco em um "braço financeiro" do governo dos EUA, emprestando mais a países que interessam a George W. Bush.
Ele levou para o banco Kevin
Kellems, ex-porta-voz de Cheney e ex-funcionário do Pentágono, e Robin Cleveland, ex-assessor da Casa Branca para assuntos ligados à reconstrução
do Iraque pós-invasão.
Kellems e Cleveland vêm
atuando praticamente à margem da estrutura formal do
banco. Ontem, na defensiva,
Wolfowitz foi cobrado por isso.
"Ouvi as preocupações do comitê-executivo sobre isso e
agora concordo com elas. Vou
tentar encontrar um caminho
para colocá-los melhor dentro
da estrutura (do banco)", disse.
O porta-voz da Casa Branca,
Tony Fratto, disse ontem que
Wolfowitz goza de "total confiança" do governo dos EUA.
O comitê-executivo tem 24
membros. Otaviano Canuto representa o Brasil.
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