São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Chefe do Bird pode perder cargo por causa da namorada

Constrangido, Paul Wolfowitz pede desculpas em entrevista e diz que cometeu um erro

Comitê-executivo do banco já analisa se vai puni-lo com demissão; associação de funcionários pede que ele renuncie à presidência


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O controvertido presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, está com seu cargo em risco e teve ontem sua demissão pedida pela associação de funcionários da instituição.
O comitê-executivo do Bird já analisa se adotará alguma medida, que pode ser a de demiti-lo, por causa de seu envolvimento em um escândalo de favorecimento financeiro a uma funcionária do banco - sua namorada.
Wolfowitz assumiu o Bird em meados de 2005 empunhando a bandeira do "combate à corrupção". Como um dos principais "falcões" da era Bush, ele foi um dos arquitetos da invasão do Iraque, em 2003, quando estava à frente do segundo cargo mais importante do Pentágono.
Ontem, ele foi submetido a um forte constrangimento por conta do caso em sua primeira aparição pública no encontro do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Bird.
"Eu cometi um erro. Sinto muito", disse Wolfowitz antes de abrir a sessão de perguntas aos jornalistas em entrevista coletiva. Das 13 questões permitidas, sete abordaram o caso.
O escândalo veio a público há alguns dias, quando a associação de empregados do Bird questionou a promoção de Shaha Riza, que trabalhava na chefia da área de comunicações do banco para o Oriente Médio.
Quando Wolfowitz assumiu o Bird, em 2005, seu relacionamento com Riza tornou-se público. Seguindo sua política para esses casos, o conselho de ética do banco recomendou a transferência dela a outro posto fora da instituição, mas com o salário ainda pago pelo Bird.
"Agi com boa fé ao implementar o meu entendimento sobre aquela recomendação", disse. Riza foi então indicada a uma vaga no Departamento de Estado para trabalhar sob a supervisão de Elizabeth Cheney, filha do vice dos EUA.
Antes da transferência, no entanto, o salário anual de Riza, de U$ 163 mil, foi aumentado para US$ 180 mil. Em meados de 2006, houve novo reajuste, de 7,5%, enquanto os funcionários do Bird tiveram 3,5%.
Riza passou a receber então US$ 193,5 mil por ano livre de impostos, cerca de US$ 7.000 a mais do que a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. Em setembro do ano passado, Riza deixou o Departamento de Estado e hoje trabalha para uma ONG que incentiva a democracia em países do norte da África. Mas recebe pelo Bird.
Wolfowitz não detalhou sobre até onde foi sua responsabilidade direta pelos aumentos dados à sua namorada -assim como ele, divorciada.
"Em retrospecto, gostaria que eu tivesse seguido meus instintos e me mantido fora dessas negociações. Eu cometi um erro. Eu sinto muito", disse.
Mas o serviço eletrônico do "Financial Times" afirmou que duas fontes do Bird atestaram que Wolfowitz recomendou diretamente ao chefe do departamento de recursos humanos do banco os aumentos para Riza por meio de um memorando.
Redigido em 11 de agosto de 2005, o documento especifica os valores a serem pagos e como os reajustes subseqüentes deveriam ser calculados.
Os termos e condições do memorando não foram discutidos ou aprovados pelo comitê de ética do Bird, nem pelo seu departamento jurídico.
Ontem, Wolfowitz pediu que seja "compreendido" em relação aos motivos que o levaram a tratar "desse doloroso dilema pessoal" quando tentava "navegar em águas desconhecidas" -uma referência à época em que assumiu o Bird e em que decidiu sobre o futuro de Riza.
A associação de empregados afirmou que a conduta de Wolfowitz "comprometeu a integridade" do banco e "destruiu a confiança dos funcionários em sua liderança". "Ele deve agora agir com honra e renunciar."
Muitos funcionários de carreira do Bird afirmam que Wolfowitz vem transformando o banco em um "braço financeiro" do governo dos EUA, emprestando mais a países que interessam a George W. Bush.
Ele levou para o banco Kevin Kellems, ex-porta-voz de Cheney e ex-funcionário do Pentágono, e Robin Cleveland, ex-assessor da Casa Branca para assuntos ligados à reconstrução do Iraque pós-invasão.
Kellems e Cleveland vêm atuando praticamente à margem da estrutura formal do banco. Ontem, na defensiva, Wolfowitz foi cobrado por isso.
"Ouvi as preocupações do comitê-executivo sobre isso e agora concordo com elas. Vou tentar encontrar um caminho para colocá-los melhor dentro da estrutura (do banco)", disse.
O porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, disse ontem que Wolfowitz goza de "total confiança" do governo dos EUA.
O comitê-executivo tem 24 membros. Otaviano Canuto representa o Brasil.


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