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PÉ NO FREIO
Consultorias e bancos estimam crescimento próximo de zero ou até retração sobre os últimos três meses de 2002
Economia fica parada no 1º trimestre de Lula
ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A estréia do indicador mais importante da economia no governo
Lula deverá ser marcada por estagnação ou até encolhimento.
Estimativas recentes de bancos e
consultorias indicam que o desempenho do PIB brasileiro ficará
próximo de zero ou mesmo negativo no primeiro trimestre de
2003 em relação aos últimos três
meses do ano passado.
Apesar de variadas, quase todas
as previsões para os primeiros
três meses de 2003 são pessimistas. Oscilam entre expansão módica de 0,3% e retração de 1,4%.
No último trimestre de 2002, a
economia já crescia a ritmo lento:
se expandiu 0,72% em relação ao
período entre julho e setembro.
Já se comparada com o primeiro trimestre de 2002, a economia
deve registrar expansão entre
1,5% e 2%. Mas economistas têm
preferido comparar a estimativa
do PIB no primeiro trimestre deste ano com o do trimestre encerrado em dezembro passado, pois
a base dos primeiros três meses de
2002 estava muito deprimida.
No ano passado, o crescimento
no primeiro trimestre havia sido
de 1,34% em relação aos últimos
três meses de 2001.
Um dos reflexos perversos de
uma economia que não cresce é
sobre o emprego. Com o PIB em
queda, as empresas podem se
sentir pressionadas a demitir.
"O que observamos neste início
de ano não foi muito animador.
Os setores voltados para o mercado doméstico não foram bem, e
os empresários continuaram com
difícil acesso a crédito", afirma
Robério Costa, economista do Citibank, que projeta queda de 1,4%
para o PIB no primeiro trimestre.
O dado oficial do PIB trimestral
será divulgado no próximo dia 29.
A escalada dos juros é apontada
por economistas como a principal
vilã do baixo desempenho da economia esperado para o primeiro
trimestre. Isso porque encarece o
crédito, o que desestimula investimentos e freia o consumo.
"Não daria para esperar um
crescimento com alguma força no
primeiro trimestre com os juros
nos patamares a que chegaram.
Além disso, a alta da inflação afetou o poder aquisitivo das pessoas", afirma Cristiano Souza,
economista da MB Associados.
A taxa básica de juros (Selic) está atualmente em 26,5% ao ano,
nível mais elevado desde 99. O
Copom aumentou os juros básicos repetidas vezes nos últimos
meses com a intenção de conter a
escalada dos preços.
A combinação da disparada da
inflação e do consequente aperto
monetário resultou em queda da
confiança dos consumidores e
numa alta taxa de inadimplência.
"Os efeitos desses quatro fatores, inflação elevada, juros altos,
confiança abalada do consumidor
e grande inadimplência, deverão
fazer a economia ter crescimento
zero ou até negativo no primeiro
trimestre", diz Roberto Padovani,
sócio da consultoria Tendências.
Com isso, a indústria é o segmento que mais tem sofrido. O
setor produziu 3,4% menos em
março do que em fevereiro, excluídos efeitos sazonais típicos de
cada período, segundo dados do
IBGE. Antes da divulgação desses
números, o Ipea já previa que o
primeiro trimestre poderia ser
marcado por ligeira retração.
"A política adotada pelo governo até o momento tem afetado
diretamente o segmento. Com juros tão elevados, não há espaço
para a indústria reagir", diz Alan
Marinovic, da ABM Consulting.
Outro setor que também patina
é o de serviços. Para Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, o
mau desempenho do comércio e
de subsetores como os de telefonia e energia elétrica estão entre
as causas mais importantes da
desaceleração econômica.
Até agora, com indústria e serviços mal das pernas, a economia
tem sido salva pelo setor exportador, segundo economistas.
Muitos deles esperam, no entanto, que a combinação de recuo
da inflação e queda de juros possa
colocar a economia brasileira no
eixo do crescimento novamente.
Mas essa opinião não é unânime. Para Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, além de
afrouxar a política monetária, o
governo também precisa adotar
medidas estruturais específicas
-como políticas agressivas de
crédito- se quiser fazer a economia crescer a taxas mais altas.
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