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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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PÉ NO FREIO

Consultorias e bancos estimam crescimento próximo de zero ou até retração sobre os últimos três meses de 2002

Economia fica parada no 1º trimestre de Lula

ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

A estréia do indicador mais importante da economia no governo Lula deverá ser marcada por estagnação ou até encolhimento. Estimativas recentes de bancos e consultorias indicam que o desempenho do PIB brasileiro ficará próximo de zero ou mesmo negativo no primeiro trimestre de 2003 em relação aos últimos três meses do ano passado.
Apesar de variadas, quase todas as previsões para os primeiros três meses de 2003 são pessimistas. Oscilam entre expansão módica de 0,3% e retração de 1,4%.
No último trimestre de 2002, a economia já crescia a ritmo lento: se expandiu 0,72% em relação ao período entre julho e setembro.
Já se comparada com o primeiro trimestre de 2002, a economia deve registrar expansão entre 1,5% e 2%. Mas economistas têm preferido comparar a estimativa do PIB no primeiro trimestre deste ano com o do trimestre encerrado em dezembro passado, pois a base dos primeiros três meses de 2002 estava muito deprimida.
No ano passado, o crescimento no primeiro trimestre havia sido de 1,34% em relação aos últimos três meses de 2001.
Um dos reflexos perversos de uma economia que não cresce é sobre o emprego. Com o PIB em queda, as empresas podem se sentir pressionadas a demitir.
"O que observamos neste início de ano não foi muito animador. Os setores voltados para o mercado doméstico não foram bem, e os empresários continuaram com difícil acesso a crédito", afirma Robério Costa, economista do Citibank, que projeta queda de 1,4% para o PIB no primeiro trimestre.
O dado oficial do PIB trimestral será divulgado no próximo dia 29.
A escalada dos juros é apontada por economistas como a principal vilã do baixo desempenho da economia esperado para o primeiro trimestre. Isso porque encarece o crédito, o que desestimula investimentos e freia o consumo.
"Não daria para esperar um crescimento com alguma força no primeiro trimestre com os juros nos patamares a que chegaram. Além disso, a alta da inflação afetou o poder aquisitivo das pessoas", afirma Cristiano Souza, economista da MB Associados.
A taxa básica de juros (Selic) está atualmente em 26,5% ao ano, nível mais elevado desde 99. O Copom aumentou os juros básicos repetidas vezes nos últimos meses com a intenção de conter a escalada dos preços.
A combinação da disparada da inflação e do consequente aperto monetário resultou em queda da confiança dos consumidores e numa alta taxa de inadimplência.
"Os efeitos desses quatro fatores, inflação elevada, juros altos, confiança abalada do consumidor e grande inadimplência, deverão fazer a economia ter crescimento zero ou até negativo no primeiro trimestre", diz Roberto Padovani, sócio da consultoria Tendências.
Com isso, a indústria é o segmento que mais tem sofrido. O setor produziu 3,4% menos em março do que em fevereiro, excluídos efeitos sazonais típicos de cada período, segundo dados do IBGE. Antes da divulgação desses números, o Ipea já previa que o primeiro trimestre poderia ser marcado por ligeira retração.
"A política adotada pelo governo até o momento tem afetado diretamente o segmento. Com juros tão elevados, não há espaço para a indústria reagir", diz Alan Marinovic, da ABM Consulting.
Outro setor que também patina é o de serviços. Para Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, o mau desempenho do comércio e de subsetores como os de telefonia e energia elétrica estão entre as causas mais importantes da desaceleração econômica.
Até agora, com indústria e serviços mal das pernas, a economia tem sido salva pelo setor exportador, segundo economistas.
Muitos deles esperam, no entanto, que a combinação de recuo da inflação e queda de juros possa colocar a economia brasileira no eixo do crescimento novamente.
Mas essa opinião não é unânime. Para Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, além de afrouxar a política monetária, o governo também precisa adotar medidas estruturais específicas -como políticas agressivas de crédito- se quiser fazer a economia crescer a taxas mais altas.


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