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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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Para entidade, recuo de 11,8% se deve a juro alto e PIB não passará de 2%

Indústria tem queda recorde nas vendas em março, diz CNI

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As vendas do setor industrial caíram 11,82% em março, a maior queda em relação ao mês anterior, descontados os efeitos típicos de cada período (sazonais), desde janeiro de 1995, quando se inicia a série histórica da pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
A entidade constatou ainda que de janeiro a março deste ano os salários da indústria acumularam queda de 6,66% em relação ao mesmo período do ano passado, descontada a inflação, embora o pessoal empregado tenha aumentado 1,18%.
Outro dado preocupante captado pela pesquisa foi que o índice de utilização da capacidade instalada mantém uma trajetória de redução, iniciada em outubro de 2002, quando estava em 81,5%. Em março, fechou em 79,8%.
Segundo o economista Flávio Castelo Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, a queda recorde nas vendas reflete o aperto no crédito e nos juros posto em prática pelo governo desde o começo do ano.
"É claro que a atividade teve uma retração e que isso se deve ao aperto monetário e do crédito, que se intensificou em fevereiro."
O técnico da CNI disse que, só com uma não esperada queda de juros muito forte, a economia do país cresceria neste ano mais de 2% (o governo espera 2,5%). No início do ano, a CNI previu que a economia cresceria entre 1,8% e 2% (números não revisados).
Para Castelo Branco, mais importante que a média será se no final do ano os dados mostrarem expansão anualizada na casa dos 3%, apontando uma recuperação mais vigorosa em 2004.
Em fevereiro, as vendas da indústria tinham apresentado um forte crescimento, de 8,91% no indicador dessazonalizado. A queda de março reflete, em parte, a redução do número de dias trabalhados por causa do Carnaval, fato não captado pelo modelo de dessazonalização usado pela CNI.
No acumulado do ano o resultado das vendas é positivo em 4,67%, mas já muito abaixo dos 7,21% acumulados no primeiro bimestre do ano. Na comparação com março do ano passado, as vendas da indústria ficaram estáveis (alta de 0,04%).

Salários
Os salários reais da indústria apresentaram a sexta queda mensal consecutiva em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal. O último dado positivo (0,03%) foi em setembro do ano passado. Em março a queda foi de 1,43% sobre fevereiro e de 7,74% em relação a março do ano passado.
Na contramão, o pessoal empregado vem apresentando números positivos desde janeiro, na série com ajuste sazonal (mês a mês), e desde dezembro do ano passado na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
A discrepância entre o emprego e a renda mostra, segundo a análise de Castelo Branco, que as empresas estão acreditando que a crise é passageira e que há condições para uma retomada do crescimento no segundo semestre.
Por isso, elas estariam evitando fazer demissões, mas também não estão recompondo as perdas salariais trazidas pela inflação. "O ajuste está sendo pelo salário, e não pelo emprego", disse.


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