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LUÍS NASSIF
A crise que se aprofunda
Os indicadores econômicos refletem a realidade com defasagem. Os de março já comprovaram queda na
atividade econômica. A julgar
pelo que se recolhe de impressões por todos os cantos sobre a
atividade econômica, vem um
pirambeira pela frente.
No ano passado a atividade
econômica foi sustentada pelas
exportações. O mercado interno patinou. Neste ano, o mercado interno continua despencando e, se o câmbio continuar
caindo, não vai encontrar o
contrapeso da melhoria das
exportações.
Pior: estamos embarcando
novamente em todos os sofismas e erros de análise que
marcaram o infausto ano de
1995.
Um deles foi brandido nesta
semana por Marcos Lisboa, o
correto secretário de Política
Econômica. Mostrou dados
isolados de recuperação de emprego como sinal de que a economia não está tão ruim assim. Não levou em conta a defasagem entre as medidas econômicas, as conseqüências sobre as vendas, depois sobre a
produção, depois sobre o emprego. É só conferir os indicadores de emprego em julho.
De sua parte, porta-vozes da
ala midiática da economia da
PUC-RJ, como o economista
Rogério Werneck, têm se especializado em fugir do tema
principal, com uma capacidade de sofismar inacreditável.
Em artigo em "O Estado de
S.Paulo" de sexta passada, o
economista investe contra os
"desenvolvimentistas". Segundo ele, essa linha de pensamento pediu uma política de substituição de importações por
não acreditar no mercado.
Houve a desvalorização cambial, e o mercado se incumbiu
de acertar as contas externas,
sem necessidade de política alguma, diz ele.
O que os chamados "desenvolvimentista" sempre propuseram -se por tal se pensar
em pessoas como Nakano e
Bresser, Serra e os Mendonça
de Barros- foi a manutenção
da desvalorização cambial para induzir esse processo de
substituição de importações e
criação de superávits comerciais.
A discussão, agora, é outra, e
dela Werneck fugiu com a
maior sem-cerimônia. Ele admite que a desvalorização
cambial acertou as contas externas. Quando se pensa em
um intelectual olhando a realidade, admitindo o óbvio (algo
tão raro em intelectuais ideológicos), o efeito da desvalorização sobre as contas externas
e, por consequência, investindo contra o pensamento vulgarizado da turma da PUC, o
que faz nosso acadêmico? Utiliza o resultado para atacar a
"outra turma", justamente a
que defendia a depreciação
cambial, e se cala sobre o cerne
da questão: se o BC deve permitir a revalorização do real e,
assim procedendo, se o equilíbrio externo será mantido. O
sentimento de grupo é uma
guilhotina sobre o pensamento
intelectual independente, como comprova Werneck.
Durante quatro anos o país
começou a preparar uma nova
geração de exportadores, pequenas empresas organizando-se em consórcios, ousando
lançar produtos inovadores,
rompendo as barreiras culturais da exportação. Todo esse
trabalho de fermentação desabrochou quando o câmbio explodiu no ano passado. Agora,
a cada percentual de valorização, mata-se uma parcela dessas empresas. Quando o câmbio retornar ao patamar acima dos R$ 3,00, um investimento de quatro anos terá sido
jogado pela janela.
E-mail
luisnassif@uol.com.br
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