São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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INVESTIMENTOS

Na segunda-feira, aplicações de renda fixa tiveram, em média, a pior remuneração diária desde dezembro de 2002

Mercado tenso afeta rentabilidade de fundos

ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A forte turbulência que tem afetado o mercado financeiro provocou estragos no retorno dos fundos de renda fixa, que amargaram rentabilidades negativas de até 1,22% na última segunda-feira. Dos 410 fundos dessa categoria abertos ao público, 100 amargaram perdas nesse dia, segundo dados do site Fortuna.
Na média, os fundos de renda fixa tiveram remuneração negativa de 0,01%. Essa é a maior perda registrada em um único dia desde 18 de dezembro de 2002, logo depois da eleição presidencial, quando essa categoria registrou retorno negativo de 0,1%.
Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), apenas nove fundos de renda fixa voltaram a apresentar retorno negativo na última terça-feira. A melhora ocorreu em conseqüência da recuperação do mercado financeiro no dia.
Os fundos de renda fixa representam 35% (o equivalente a cerca R$ 192 bilhões) de todo o patrimônio do mercado de fundos de investimento. Considerados aplicações de risco moderado, são bastante procurados por pequenos e médios investidores.
O problema, segundo analistas, é que os fundos de renda fixa estão sujeitos a fortes variações em períodos de volatilidade no mercado. Isso ocorre porque eles são afetados pelo movimento dos juros no mercado futuro.
Os fundos de renda fixa têm ganho quando os juros futuros recuam, mas tendem a sofrer perdas quando essas taxas sobem.
São aplicações que têm em suas carteiras títulos públicos e privados que oferecem retorno prefixado. Quando os juros sobem, ocorre o seguinte: a rentabilidade previamente fixada desses papéis passa a estar abaixo das taxas praticadas no mercado. Para corrigir esse ajuste nos juros, o preço desses títulos sofre uma depreciação, o que pode fazer com que as cotas dos fundos de investimento fiquem negativas e estes apresentem perdas de rentabilidade.
Foi exatamente o que ocorreu na segunda-feira. As taxas no mercado futuro dispararam devido ao temor de alta de juros nos Estados Unidos.
Esse movimento acarretou fortes perdas aos fundos de renda fixa. A rentabilidade dos 20 fundos com piores desempenho variou de -0,33% a -1,22%.
Na semana passada, como os juros futuros já estavam subindo a um ritmo lento, alguns fundos amargaram retorno negativo. Com isso, há fundos que, neste mês (até o último dia 10), já devolveram toda a rentabilidade obtida em março passado, que, em média, foi de 1,15%.
Apesar disso, desde o início do governo Lula até a segunda-feira passada, os fundos de renda fixa tiveram retorno positivo de 30,33%. A indústria de fundos como um todo apresentou rentabilidade de 30,58% no período.

Correção das cotas
Nas últimas semanas, alguns fundos DI, considerados aplicações de risco baixo, chegaram a ter retorno negativo em determinados dias. Isso porque esses fundos aplicam em títulos pós-fixados, que vêm perdendo valor devido à maior percepção de risco.
As fortes correções sofridas por alguns fundos em apenas um dia reforçam as suspeitas de analistas de que alguns gestores não estariam cumprindo a determinação de corrigir a cota dos fundos diariamente.
Procurada pela Folha, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), instituição responsável pela fiscalização dos fundos, não concedeu entrevista ontem.
As fortes oscilações que atingiram o mercado brasileiro na última segunda-feira tiveram efeitos ainda mais negativos sobre aplicações mais arriscadas, como os fundos multimercados e os de ações. Alguns tiveram perdas de 2% a até 10% em um único dia.
Se forem considerados os fundos de todas as categorias, a rentabilidade média na última segunda-feira foi de -0,11%.


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