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CRISE NO CAMPO
Com orçamento apertado, governo deixa verba de R$ 1 bi destinada a elevar cotação da soja como resto a pagar
Conta de pacote agrícola fica para 2007
SHEILA D'AMORIM
FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o orçamento apertado e a
necessidade de manter o ajuste
fiscal neste ano, a fórmula encontrada pela equipe econômica para
liberar mais dinheiro para agricultura foi transferir a responsabilidade pela nova dívida para o
próximo governo. Assim, o R$ 1
bilhão que o ministro Roberto
Rodrigues (Agricultura) anunciou, ontem, que será gasto nas
próximas semanas para elevar a
cotação da soja ficará como resto
de 2006 a pagar em 2007.
A medida, anunciada às pressas
para tentar esvaziar os protestos
do setor marcados para a semana
que vem -e que são liderados
pelos produtores de soja de Mato
Grosso-, deverá permitir que 20
milhões de toneladas do produto
sejam comercializadas com preços melhores. Segundo os cálculos da Agricultura, dos 55 milhões
de toneladas da safra atual, 30 milhões ainda não foram vendidas.
O governo irá pagar de R$ 1,5 a
R$ 6 a mais por saca de 60 kg de
soja, dependendo da região onde
está o produtor. A localização dele, explicou Rodrigues, é o que determina o prejuízo por causa do
valor elevado do frete para fazer o
produto chegar aos grandes centros de consumo e exportação, como São Paulo e Paraná.
Por isso, Estados como Mato
Grosso acumulam mais prejuízos
e deverão ser mais beneficiados.
Pegando como referência um
preço médio atual da saca em torno de R$ 16, com a compensação
que será dada pelo governo, o
produtor poderá vendê-la por até
R$ 22. Essa diferença será bancada com dinheiro do Orçamento.
O problema é que o governo já
está com margem apertada no
Orçamento deste ano e os técnicos da área econômica vêm quebrando a cabeça nas últimas semanas para fixar o valor que será
obrigatoriamente bloqueado, de
forma a assegurar economia equivalente a 4,25% do PIB em 2006.
Inicialmente estimado em R$ 20
bilhões, o contingenciamento pode ser um dos maiores dos últimos anos. Por isso, a operação-abafa montada pelo governo para
fazer frente à crise dos produtores
teve que lançar mão de mecanismo complicado, a ser desdobrado
em quatro etapas.
Na primeira delas, que se iniciará no dia 23, o governo fará leilões
de créditos para determinar o novo valor máximo da saca de soja
que será parcialmente bancado
com dinheiro público. Comerciantes, indústrias, cooperativas e
compradores de soja em geral
irão adquirir contratos que darão
direito a créditos com o governo.
Com base nesses créditos, numa
segunda etapa, eles comprarão
soja, que será entregue numa data
futura, e se comprometerão a pagar o preço acima do valor atual
de mercado para os produtores.
Como o governo só irá desembolsar a diferença entre o valor
atual de mercado e o acertado nos
contratos com os produtores no
ano que vem, os compradores
que pagarem mais pela soja tomarão empréstimos no sistema bancário no montante correspondente. Em 2007, receberão o crédito
do governo e quitarão a operação.
"Dado o esforço fiscal [para este
ano], que é bastante grande, optou-se por esse modelo", disse
Bernard Appy, secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
O anúncio de ajuda não interrompeu o protesto de agricultores
no Paraná. O presidente da federação da agricultura no Estado,
Ágide Meneguette, chamou o reforço de financiamento da safra
de ""pacotinho requentado".
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