São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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Especialistas afirmam que medidas são insuficientes

Reduzir carga tributária e investir em infra-estrutura trariam mais efeito, dizem analistas

Ponto considerado mais positivo é a linha para investir em desenvolvimento de ciência e tecnologia, mas ainda assim há ressalvas


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Diminuir a carga tributária e investir pesadamente em infra-estrutura teriam um efeito muito maior de estímulo à indústria brasileira do que o conjunto de medidas anunciadas ontem pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, na opinião de especialistas no assunto. "Uma política industrial efetiva é feita com mais do que incentivos pontuais a determinadas áreas", diz Nuno Fouto, professor da FIA (Fundação Instituto de Administração).
Uma das principais críticas à Política de Desenvolvimento Produtivo diz respeito à meta de aumentar o volume de investimentos privados. "Eles dependem essencialmente do crescimento da economia e das expectativas. Seria recomendável que o governo cortasse os seus gastos correntes e pensasse em melhorar estradas, portos, fornecimento de energia elétrica, para que os empresários se sentissem realmente seguros em aumentar a produção", defende José Luiz Rossi Júnior, professor de macroeconomia do Ibmec-SP.
"Por mais que o governo tenha boa vontade, existem aspectos de política macroeconômica que dificultam que os objetivos sejam atingidos, como os juros elevados", acrescenta Arthur Barrionuevo, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Os resultados do plano no fomento às exportações também são questionados. Juan Quirós, ex-presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção da Exportação e Investimento) e vice-presidente da Fiesp, chama a política de "teoria". Segundo ele, dois pontos não foram resolvidos. Primeiro, o acesso aos recursos por pequenas e médias empresas: a exigência de garantias de 100% a 130% do valor pleiteado é um grande limitador. Além disso, não está prevista a criação de um comitê de gestão, que faça o trabalho de acompanhar a aplicação da política industrial.
Quirós explica que o governo federal entregou o acompanhamento do pacote nas mãos do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial), órgão criado pelo ex-ministro Luiz Fernando Furlan. "O conselho pode acompanhar a implantação da política, mas as urgências que vão tomando a agenda dos ministros [que formam o conselho] podem tirá-los desse acompanhamento e as medidas anunciadas ontem podem não andar", alerta ele, que participou, ainda na Apex, da formulação da primeira política industrial da gestão Lula.
O grande ponto positivo é a linha para investimento em desenvolvimento de ciência e tecnologia, mas ainda assim os pesquisadores fazem ressalvas.
"Não acho que crédito seja a melhor forma de financiar pesquisa. Sabendo que são consideráveis as chances de um projeto não dar certo, as companhias podem não querer tomar os empréstimos", comenta Barrionuevo.

Processo
Já Mario Sergio Salerno, professor da Escola Politécnica da USP, gostou do pacote. "As metas estão bem definidas, o arcabouço geral é bem-feito. Políticas são sempre uma porta -só saberemos se vão dar certo no futuro. Mas é grande as chances de que essas funcionem", diz. "Importa é que haja um processo de longo prazo, ou seja, a política vai sendo aprimorada ao longo do tempo. Por exemplo, a linha de crédito para pesquisa é melhor do que a que existia antes, o que significa que o país está avançando."


Colaborou AGNALDO BRITO , da Reportagem Local


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