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Especialistas afirmam que medidas são insuficientes
Reduzir carga tributária e investir em infra-estrutura trariam mais efeito, dizem analistas
Ponto considerado mais
positivo é a linha para investir
em desenvolvimento de
ciência e tecnologia, mas
ainda assim há ressalvas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Diminuir a carga tributária e
investir pesadamente em infra-estrutura teriam um efeito
muito maior de estímulo à indústria brasileira do que o conjunto de medidas anunciadas
ontem pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, na opinião de
especialistas no assunto. "Uma
política industrial efetiva é feita
com mais do que incentivos
pontuais a determinadas
áreas", diz Nuno Fouto, professor da FIA (Fundação Instituto
de Administração).
Uma das principais críticas à
Política de Desenvolvimento
Produtivo diz respeito à meta
de aumentar o volume de investimentos privados. "Eles dependem essencialmente do
crescimento da economia e das
expectativas. Seria recomendável que o governo cortasse os
seus gastos correntes e pensasse em melhorar estradas, portos, fornecimento de energia
elétrica, para que os empresários se sentissem realmente seguros em aumentar a produção", defende José Luiz Rossi
Júnior, professor de macroeconomia do Ibmec-SP.
"Por mais que o governo tenha boa vontade, existem aspectos de política macroeconômica que dificultam que os objetivos sejam atingidos, como
os juros elevados", acrescenta
Arthur Barrionuevo, professor
da FGV (Fundação Getulio
Vargas).
Os resultados do plano no fomento às exportações também
são questionados. Juan Quirós,
ex-presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção da
Exportação e Investimento) e
vice-presidente da Fiesp, chama a política de "teoria". Segundo ele, dois pontos não foram resolvidos. Primeiro, o
acesso aos recursos por pequenas e médias empresas: a exigência de garantias de 100% a
130% do valor pleiteado é um
grande limitador. Além disso,
não está prevista a criação de
um comitê de gestão, que faça o
trabalho de acompanhar a aplicação da política industrial.
Quirós explica que o governo
federal entregou o acompanhamento do pacote nas mãos do
CNDI (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Industrial),
órgão criado pelo ex-ministro
Luiz Fernando Furlan. "O conselho pode acompanhar a implantação da política, mas as
urgências que vão tomando a
agenda dos ministros [que formam o conselho] podem tirá-los desse acompanhamento e
as medidas anunciadas ontem
podem não andar", alerta ele,
que participou, ainda na Apex,
da formulação da primeira política industrial da gestão Lula.
O grande ponto positivo é a
linha para investimento em desenvolvimento de ciência e tecnologia, mas ainda assim os
pesquisadores fazem ressalvas.
"Não acho que crédito seja a
melhor forma de financiar pesquisa. Sabendo que são consideráveis as chances de um projeto não dar certo, as companhias podem não querer tomar
os empréstimos", comenta
Barrionuevo.
Processo
Já Mario Sergio Salerno, professor da Escola Politécnica da
USP, gostou do pacote. "As metas estão bem definidas, o arcabouço geral é bem-feito. Políticas são sempre uma porta -só
saberemos se vão dar certo no
futuro. Mas é grande as chances de que essas funcionem",
diz. "Importa é que haja um
processo de longo prazo, ou seja, a política vai sendo aprimorada ao longo do tempo. Por
exemplo, a linha de crédito para pesquisa é melhor do que a
que existia antes, o que significa que o país está avançando."
Colaborou AGNALDO BRITO ,
da Reportagem Local
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