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QUEDA-DE-BRAÇO
Grupo da Fiesp promete demitir se não houver redução de direitos; para sindicatos, saída é diminuir juros
Metalúrgicas ameaçam parcelar férias
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresários paulistas do setor
metalúrgico ameaçaram ontem
iniciar uma onda de demissões se
o governo não reduzir juros e se
os trabalhadores não aceitarem o
fim de direitos trabalhistas.
Entre as exigências estão o fim
do pagamento do descanso semanal remunerado (domingos e feriados), redução do adicional noturno de 35% para 20%, suspensão temporária do contrato de
trabalho, revisão dos acordos para repor a inflação e o parcelamento do pagamento das férias.
A proposta, feita pelos empresários do Grupo 9 da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), é que as medidas sejam adotadas em caráter temporário. Esses empresários empregam 450 mil metalúrgicos no Estado de São Paulo.
A ameaça de demissão foi feita
durante encontro com sindicalistas da Força Sindical, menos de
três meses após as empresas terem concedido antecipações salariais de 10% ou abonos para repor
perdas da inflação nos salários.
Em abril, a Folha antecipou que
os acordos emergenciais de reposição salarial feitos entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo poderiam resultar em demissões em dois a três meses. Ontem,
os empresários pediram a revisão
desses acordos -por empresa ou
setor- porque as indústrias estão "sem fôlego" para cumpri-los.
"Não há como controlar o desespero das indústrias. Não vamos firmar compromisso de que
em 15 dias não vão ocorrer demissões. Não há como evitar cortes",
disse o empresário Miguel Rodrigues Júnior, coordenador do grupo de empresários.
A entrega de uma "pauta emergencial" dos patrões para negociar direitos e baratear custos trabalhistas para enfrentar a crise
econômica no setor acontece a
cinco dias da reunião do Copom
(Comitê de Política Econômica).
"Com o fim do descanso semanal remunerado, pode haver uma
economia na folha de pagamento
de 18% a 20%", disse Valdemar de
Andrade, outro representante das
empresas. "Se não forem adotadas medidas como essas, vai sobrar para o trabalhador."
Andrade também afirmou que
a mudança na atual política econômica, com a redução de juros,
poderá "amenizar a situação" e,
talvez, evitar as demissões.
"Vem se alastrando a quebradeira de pequenas e médias empresas no nosso setor, que fornece
para a construção civil. Há mais
de 20 anos não se via uma situação como essa [de retração nas
vendas]. É um momento difícil, é
preciso unir esforços", disse Miguel Vaiani Neto, representante
das indústrias de artefatos de metais não-ferrosos.
Diferentemente de outros encontros entre trabalhadores e empresários, a reunião de ontem foi
aberta aos jornalistas.
A primeira reação dos sindicalistas da Força ao receberem a
pauta foi criticar a política econômica do governo.
"Se o governo não baixar os juros e não mudar a atual política
econômica, não há o que fazer. O
que não dá é para jogar esse ônus
para o trabalhador", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.
Paulinho e representantes dos
sindicatos dos metalúrgicos de
São Paulo, Osasco e Guarulhos
pediram trégua de 15 dias para
não haver demissões e recusaram
a pauta dos patrões.
Na próxima terça-feira, dia em
que começa a reunião do Copom,
a Força faz manifestação em frente ao prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo.
"Negociar a retirada de direitos
para manter o emprego significa
precarizar o trabalho", disse Carlos Alberto Grana, secretário geral
da CUT. Para o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos, Adi dos Santos Lima, a pauta
é "inaceitável".
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