UOL


São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUEDA-DE-BRAÇO

Grupo da Fiesp promete demitir se não houver redução de direitos; para sindicatos, saída é diminuir juros

Metalúrgicas ameaçam parcelar férias

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários paulistas do setor metalúrgico ameaçaram ontem iniciar uma onda de demissões se o governo não reduzir juros e se os trabalhadores não aceitarem o fim de direitos trabalhistas.
Entre as exigências estão o fim do pagamento do descanso semanal remunerado (domingos e feriados), redução do adicional noturno de 35% para 20%, suspensão temporária do contrato de trabalho, revisão dos acordos para repor a inflação e o parcelamento do pagamento das férias.
A proposta, feita pelos empresários do Grupo 9 da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é que as medidas sejam adotadas em caráter temporário. Esses empresários empregam 450 mil metalúrgicos no Estado de São Paulo.
A ameaça de demissão foi feita durante encontro com sindicalistas da Força Sindical, menos de três meses após as empresas terem concedido antecipações salariais de 10% ou abonos para repor perdas da inflação nos salários. Em abril, a Folha antecipou que os acordos emergenciais de reposição salarial feitos entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo poderiam resultar em demissões em dois a três meses. Ontem, os empresários pediram a revisão desses acordos -por empresa ou setor- porque as indústrias estão "sem fôlego" para cumpri-los.
"Não há como controlar o desespero das indústrias. Não vamos firmar compromisso de que em 15 dias não vão ocorrer demissões. Não há como evitar cortes", disse o empresário Miguel Rodrigues Júnior, coordenador do grupo de empresários.
A entrega de uma "pauta emergencial" dos patrões para negociar direitos e baratear custos trabalhistas para enfrentar a crise econômica no setor acontece a cinco dias da reunião do Copom (Comitê de Política Econômica).
"Com o fim do descanso semanal remunerado, pode haver uma economia na folha de pagamento de 18% a 20%", disse Valdemar de Andrade, outro representante das empresas. "Se não forem adotadas medidas como essas, vai sobrar para o trabalhador."
Andrade também afirmou que a mudança na atual política econômica, com a redução de juros, poderá "amenizar a situação" e, talvez, evitar as demissões.
"Vem se alastrando a quebradeira de pequenas e médias empresas no nosso setor, que fornece para a construção civil. Há mais de 20 anos não se via uma situação como essa [de retração nas vendas]. É um momento difícil, é preciso unir esforços", disse Miguel Vaiani Neto, representante das indústrias de artefatos de metais não-ferrosos.
Diferentemente de outros encontros entre trabalhadores e empresários, a reunião de ontem foi aberta aos jornalistas.
A primeira reação dos sindicalistas da Força ao receberem a pauta foi criticar a política econômica do governo.
"Se o governo não baixar os juros e não mudar a atual política econômica, não há o que fazer. O que não dá é para jogar esse ônus para o trabalhador", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.
Paulinho e representantes dos sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo, Osasco e Guarulhos pediram trégua de 15 dias para não haver demissões e recusaram a pauta dos patrões.
Na próxima terça-feira, dia em que começa a reunião do Copom, a Força faz manifestação em frente ao prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo.
"Negociar a retirada de direitos para manter o emprego significa precarizar o trabalho", disse Carlos Alberto Grana, secretário geral da CUT. Para o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos, Adi dos Santos Lima, a pauta é "inaceitável".


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Opinião econômica: O governo Lula e a lengalenga de Malan
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.