|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BATE-BOCA
Instituto vê manipulação de previsões divulgadas
Ipea questiona as estimativas do mercado no relatório Focus, do BC
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo técnico do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) sustenta que as previsões de inflação do mercado, divulgadas semanalmente pelo
Banco Central, não refletem a verdadeira expectativa dos agentes
econômicos. A sugestão feita pelos autores de que o mercado
"manipularia" os dados para tentar influenciar na condução da
política monetária causou revolta
entre departamentos econômicos
de bancos e consultorias.
O estudo sustenta que não há
evidência de que nem BC nem
mercado, pelo que divulgam em
seus relatórios, prevêem com ""razoável" nível de acerto os indicadores de inflação.
"Não foi a intenção do estudo
mostrar que o mercado tenta manipular o BC", diz o economista
Elcyon Lima, co-autor da nota
técnica do Ipea. "Mas as previsões
tiveram margem de erro grande.
Como o "mercado" é competente,
dispõe de pessoas capacitadas, fica a desconfiança de que não informe a verdadeira expectativa de
inflação, de que exista um jogo
com o BC", completa.
As expectativas de inflação do
mercado são compiladas semanalmente pelo relatório Focus do
BC. São usadas pela instituição
como orientação para conduzir a
política monetária. Além de divulgar várias estimativas do mercado, o BC torna públicos os nomes das cinco instituições que
vêm apresentando num período
de seis meses maior grau de acerto em suas previsões, as "top 5".
Para Elson Teles, economista-chefe do Banco Boreal - instituição que, segundo o BC, é a que
melhor tem estimado o desempenho da inflação no curto prazo-
o estudo do Ipea é "profundamente equivocado".
Segundo Teles, a divulgação pelo BC das instituições que mais
acertam o comportamento dos
indicadores econômicos estimula
os departamentos de pesquisa
dos bancos a se esforçarem para
fazer as previsões mais certeiras
possíveis. Já para Lima, do Ipea,
os bancos tendem a querer divulgar as previsões que lhes pareçam
"mais adequadas".
De acordo com Joel Bogdanski,
gerente de política monetária do
Itaú e ex-coordenador da equipe
do BC que implantou o regime de
metas de inflação, a sofisticação
dos modelos de previsão de inflação dos bancos varia. Segundo
ele, o BC conhece as falhas da pesquisa e só a usa para ter orientação da tendência de inflação: "Essas expectativas não são usadas
pelo BC de forma mecânica para
basear a política monetária".
O estudo
O que o economista Elcyon Lima e sua assistente, Brisne Céspede, fizeram foi testar o nível de
acerto das previsões divulgadas
pelo BC, a partir da pesquisa Focus, com as previsões calculadas
com base em outros modelos matemáticos, chamados lineares
simples. Concluem que as previsões do BC, principalmente as
que superam períodos de nove
meses, são muito falhas e que o
grau de acerto dos modelos lineares foi maior nesses casos.
Na maioria das vezes, segundo
o estudo, o mercado subestimou a
inflação futura -ou seja, previu
uma inflação menor do que aquela que se confirmaria.
No estudo do Ipea, a previsão de
inflação para 2003, feita em janeiro passado a partir de um dos modelos matemáticos, o Arima
(0,1,4), é de 13,58%. Na mesma
época, as previsões do Focus oscilavam um pouco acima de 11%.
Procurado para falar sobre o assunto, o Banco Central não quis
comentar o estudo do Ipea.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Nova política de telecomunicação agrada à agência Próximo Texto: Empréstimo: Brasil deve sacar mais US$ 9,3 bilhões do FMI Índice
|