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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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BATE-BOCA

Instituto vê manipulação de previsões divulgadas

Ipea questiona as estimativas do mercado no relatório Focus, do BC

DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo técnico do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sustenta que as previsões de inflação do mercado, divulgadas semanalmente pelo Banco Central, não refletem a verdadeira expectativa dos agentes econômicos. A sugestão feita pelos autores de que o mercado "manipularia" os dados para tentar influenciar na condução da política monetária causou revolta entre departamentos econômicos de bancos e consultorias.
O estudo sustenta que não há evidência de que nem BC nem mercado, pelo que divulgam em seus relatórios, prevêem com ""razoável" nível de acerto os indicadores de inflação.
"Não foi a intenção do estudo mostrar que o mercado tenta manipular o BC", diz o economista Elcyon Lima, co-autor da nota técnica do Ipea. "Mas as previsões tiveram margem de erro grande. Como o "mercado" é competente, dispõe de pessoas capacitadas, fica a desconfiança de que não informe a verdadeira expectativa de inflação, de que exista um jogo com o BC", completa.
As expectativas de inflação do mercado são compiladas semanalmente pelo relatório Focus do BC. São usadas pela instituição como orientação para conduzir a política monetária. Além de divulgar várias estimativas do mercado, o BC torna públicos os nomes das cinco instituições que vêm apresentando num período de seis meses maior grau de acerto em suas previsões, as "top 5".
Para Elson Teles, economista-chefe do Banco Boreal - instituição que, segundo o BC, é a que melhor tem estimado o desempenho da inflação no curto prazo- o estudo do Ipea é "profundamente equivocado".
Segundo Teles, a divulgação pelo BC das instituições que mais acertam o comportamento dos indicadores econômicos estimula os departamentos de pesquisa dos bancos a se esforçarem para fazer as previsões mais certeiras possíveis. Já para Lima, do Ipea, os bancos tendem a querer divulgar as previsões que lhes pareçam "mais adequadas".
De acordo com Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú e ex-coordenador da equipe do BC que implantou o regime de metas de inflação, a sofisticação dos modelos de previsão de inflação dos bancos varia. Segundo ele, o BC conhece as falhas da pesquisa e só a usa para ter orientação da tendência de inflação: "Essas expectativas não são usadas pelo BC de forma mecânica para basear a política monetária".

O estudo
O que o economista Elcyon Lima e sua assistente, Brisne Céspede, fizeram foi testar o nível de acerto das previsões divulgadas pelo BC, a partir da pesquisa Focus, com as previsões calculadas com base em outros modelos matemáticos, chamados lineares simples. Concluem que as previsões do BC, principalmente as que superam períodos de nove meses, são muito falhas e que o grau de acerto dos modelos lineares foi maior nesses casos.
Na maioria das vezes, segundo o estudo, o mercado subestimou a inflação futura -ou seja, previu uma inflação menor do que aquela que se confirmaria.
No estudo do Ipea, a previsão de inflação para 2003, feita em janeiro passado a partir de um dos modelos matemáticos, o Arima (0,1,4), é de 13,58%. Na mesma época, as previsões do Focus oscilavam um pouco acima de 11%.
Procurado para falar sobre o assunto, o Banco Central não quis comentar o estudo do Ipea.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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