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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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CRISE DA DÍVIDA

Ex-secretário do Tesouro norte-americano diz que história mexicana é exemplo e afirma ter esperanças no Brasil

Criador do Plano Brady vê sucesso na recuperação da AL

RICHARD LAPPER
JOHN AUTHERS

DO "FINANCIAL TIMES"

Quando o México tirou de circulação os seus últimos títulos Brady, nesta semana, ninguém ficou mais feliz do que o homem que criou esses títulos, 14 anos atrás.
"Não é o final de nada", diz Nicholas Brady, ex-secretário do Tesouro norte-americano que convenceu os maiores bancos mundiais a trocar bilhões de dólares em empréstimos sob moratória pelos novos papéis. "É tudo parte da lenta marcha para o progresso que foi pressagiada pelo lançamento do Plano Brady."
O plano, que teve o apoio das instituições multilaterais, marcou o final da crise da dívida latino-americana dos anos 80.
A despeito da moratória argentina em 2001, da queda no ritmo de crescimento da região, das tensões sociais e do descontentamento político, Brady, hoje presidente da Darby Investment Overseas, uma empresa especializada em investimentos latino-americanos, mantém o otimismo. "Existe um futuro cheio de esperança para a livre empresa e para a democracia na América Latina."
O Plano Brady para o México, que foi aprovado em 1990, ajudou o país a reingressar nos mercados financeiros internacionais depois da estagnação dos anos 80. "Ninguém estava muito ansioso por adotá-lo", diz Brady. "Diziam que a idéia não funcionaria."
O México agora tem seus títulos classificados como "investment grade", o que permite que os maiores fundos de pensão mundiais adquiram esses papéis, e está habilitado a tomar empréstimos em dólares com taxas de juros apenas 3 pontos percentuais mais altas que as dos EUA.

Consenso de Washington
A Polônia provavelmente conseguirá resgatar em breve os seus títulos Brady. Mas a Argentina e o Equador estão em moratória.
Brady, no entanto, confia em que o exemplo do México, e não o da Argentina, seja a regra. O problema, diz ele, é que as reformas liberais -a mistura de abertura comercial, política fiscal severa e privatizações conhecida como Consenso de Washington- tenham agora se desacelerado.
"Um fator que contribuiu bastante para fazer do Plano Brady um sucesso foram as reformas", diz. "À medida que o progresso nas reformas se desacelera, a situação deixa de parecer tão brilhante. É preciso manter as reformas em curso, ou o dinheiro procurará outros mercados."
Embora os críticos do Consenso de Washington aleguem que as reformas progrediram rápido demais, Brady diz que elas na verdade não avançaram o bastante.

Baixo impacto
O ex-secretário se reconforta com o fato de que a moratória argentina não tenha causado contágio intenso. "Nos anos 80, a cada vez que surgia um sinal de crise o mercado de títulos de dívida emergente levava um tombo."
Em contraste, depois da moratória argentina não houve contágio. "Uma crise específica já não afeta mais o mercado como um todo. O conhecimento de como as coisas funcionam se difundiu."
Acima de tudo, Brady está esperançoso em que, sob o presidente Lula, o Brasil revigore as reformas. "O Brasil tem uma imensa oportunidade de sucesso, e os EUA deveriam apoiá-lo ao máximo. Estou extraordinariamente esperançoso quanto ao Brasil."


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