|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE DA DÍVIDA
Ex-secretário do Tesouro norte-americano diz que história mexicana é exemplo e afirma ter esperanças no Brasil
Criador do Plano Brady vê sucesso na recuperação da AL
RICHARD LAPPER
JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando o México tirou de circulação os seus últimos títulos
Brady, nesta semana, ninguém ficou mais feliz do
que o homem que criou esses títulos, 14 anos atrás.
"Não é o final de nada", diz Nicholas Brady, ex-secretário do Tesouro norte-americano que convenceu os maiores bancos mundiais a trocar bilhões de dólares
em empréstimos sob moratória
pelos novos papéis. "É tudo parte
da lenta marcha para o progresso
que foi pressagiada pelo lançamento do Plano Brady."
O plano, que teve o apoio das
instituições multilaterais, marcou
o final da crise da dívida latino-americana dos anos 80.
A despeito da moratória argentina em 2001, da queda no ritmo
de crescimento da região, das tensões sociais e do descontentamento político, Brady, hoje presidente da Darby Investment Overseas, uma empresa especializada
em investimentos latino-americanos, mantém o otimismo. "Existe
um futuro cheio de esperança para a livre empresa e para a democracia na América Latina."
O Plano Brady para o México,
que foi aprovado em 1990, ajudou
o país a reingressar nos mercados
financeiros internacionais depois
da estagnação dos anos 80. "Ninguém estava muito ansioso por
adotá-lo", diz Brady. "Diziam que
a idéia não funcionaria."
O México agora tem seus títulos
classificados como "investment
grade", o que permite que os
maiores fundos de pensão mundiais adquiram esses papéis, e está
habilitado a tomar empréstimos
em dólares com taxas de juros
apenas 3 pontos percentuais mais
altas que as dos EUA.
Consenso de Washington
A Polônia provavelmente conseguirá resgatar em breve os seus
títulos Brady. Mas a Argentina e o
Equador estão em moratória.
Brady, no entanto, confia em
que o exemplo do México, e não o
da Argentina, seja a regra. O problema, diz ele, é que as reformas
liberais -a mistura de abertura
comercial, política fiscal severa e
privatizações conhecida como
Consenso de Washington- tenham agora se desacelerado.
"Um fator que contribuiu bastante para fazer do Plano Brady
um sucesso foram as reformas",
diz. "À medida que o progresso
nas reformas se desacelera, a situação deixa de parecer tão brilhante. É preciso manter as reformas em curso, ou o dinheiro procurará outros mercados."
Embora os críticos do Consenso
de Washington aleguem que as
reformas progrediram rápido demais, Brady diz que elas na verdade não avançaram o bastante.
Baixo impacto
O ex-secretário se reconforta
com o fato de que a moratória argentina não tenha causado contágio intenso. "Nos anos 80, a cada
vez que surgia um sinal de crise o
mercado de títulos de dívida
emergente levava um tombo."
Em contraste, depois da moratória argentina não houve contágio. "Uma crise específica já não
afeta mais o mercado como um
todo. O conhecimento de como as
coisas funcionam se difundiu."
Acima de tudo, Brady está esperançoso em que, sob o presidente
Lula, o Brasil revigore as reformas. "O Brasil tem uma imensa
oportunidade de sucesso, e os
EUA deveriam apoiá-lo ao máximo. Estou extraordinariamente
esperançoso quanto ao Brasil."
Texto Anterior: Marcha lenta: Eurolândia deve crescer metade do previsto Próximo Texto: México conclui resgate de todos os títulos Brady Índice
|