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Governo fecha acordo para criar zonas exportadoras
Acerto entre Mantega e líderes partidários garante benefícios a empresas nesses pólos
Projeto está no Senado; tamanho dos benefícios e possível concorrência desleal com outros setores produtores geram polêmica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) fechou ontem um
acordo com os líderes partidários do Senado para aprovar o
projeto de lei que regulamenta
as ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação).
Segundo o projeto, as empresas instaladas em ZPEs terão
vantagens tributárias na compra de insumos condicionadas
à venda de pelo menos 80% de
sua produção ao exterior. A amplitude dos benefícios e a possibilidade de concorrência desleal com os demais produtores
tornaram a proposta polêmica.
Pelo acerto, as empresas das
ZPEs serão beneficiadas com
suspensão tributária, e não a
isenção prevista no texto em
análise do Senado.
A diferença é que, no segundo caso (isenção), o produtor fica livre dos tributos quando
compra máquinas ou matérias-primas e ainda tem direito a um
crédito tributário -um valor a
ser pago pelo governo. Na suspensão, a compra de insumos
não gera crédito tributário.
Não é mais possível, porém,
mudar esse e outros pontos do
projeto, que já foi votado pela
Câmara e está na segunda e última votação pelo Senado. Por
isso, o texto será votado no formato atual e sofrerá vetos do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que editará uma medida
provisória para estabelecer as
regras acordadas ontem.
"Será uma MP complicadíssima", avalia o senador Aloizio
Mercadante (PT-SP). Será preciso definir ainda como tributar a produção das ZPEs destinada ao mercado interno -que
não terá tratamento tributário
especial- e compatibilizar os
novos benefícios com os já existentes na Zona Franca de Manaus e na Lei de Informática.
O governo quer limitar as
ZPEs às regiões mais pobres do
país. "Queremos evitar zonas
em regiões onde haveria concorrência desleal com a produção local", disse Mantega. Pelo
projeto, um conselho governamental avaliará, caso a caso, os
pleitos de criação de ZPEs.
Existem atualmente 17 ZPEs
no país, mas elas não estão em
funcionamento porque não foram regulamentadas. Quatro
tiveram as obras de infra-estrutura concluídas: Imbituba (SC),
Teófilo Otoni (MG), Rio Grande (RS) e Araguaína (TO).
Bate-boca
Pela manhã, os senadores da
Comissão de Assuntos Econômicos deixaram de lado a votação do projeto que cria as ZPEs
para assistir a um bate-boca entre o petista Mercadante e Tasso Jereissati (PSDB).
Insatisfeito com o adiamento
da votação do projeto, do qual é
relator, Tasso deixou a reunião
da CAE depois de negociar a
mudança de datas. Voltou minutos depois, quando soube
que Mercadante, como presidente da comissão, fizera um
discurso contrário ao projeto.
"Vossa Excelência está completamente fora de sua função.
Se quer discutir o projeto, levante dessa cadeira [de presidente da comissão] e venha
aqui falar como um senador
mortal", gritou Tasso.
O bate-boca subiu de tom
quando Tasso deixava a reunião novamente e Mercadante
reafirmou seu direito de discutir o projeto e ocupar a presidência ao mesmo tempo.
"Não tem [esse direito]", gritou Tasso. "O senhor está de
brincadeira com livrinho na
mão e assessor te botando número. Deixe de bobagem", disse, numa referência ao assessor
da CAE que levara o regimento
interno a Mercadante.
O senador petista alegou que
se baseava no artigo 89 do regimento interno. "Olha só, também ganhei um livrinho igual
ao de Vossa Excelência. Tenha
mais humildade, deixe o livrinho de lado e vamos discutir",
atacou Tasso, que ainda disse
que o petista era conhecido no
Senado por "passar por cima de
todos e deitar regras".
Mercadante retrucou dizendo que Tasso é que deveria ser
mais humilde e respeitar os
funcionários do Senado. O petista encerrou a discussão do
projeto e passou à discussão do
próximo item da pauta.
Problemas
Para o advogado Ives Gandra
da Silva Martins, professor
emérito de direito da Universidade Mackenzie, o governo não
poderá usar a expressão suspensão porque ela se aplicaria a
um processo provisório, o que
não é o caso.
Gandra diz que se o governo
conceder isenção haverá o problema de as empresas terem direito a crédito. "A solução seria
o governo definir o benefício
das ZPEs como alíquota zero,
uma vez que esta não gera crédito, conforme decisão do Supremo [Tribunal Federal]."
Outra solução seria adotar o
mesmo mecanismo usado hoje
com o drawback (benefício na
importação, desde que a mercadoria seja reexportada).
Segundo Gandra, "haveria
suspensão de tributação nas
entradas nas ZPEs; na exportação, a suspensão desapareceria
e seria aplicada a imunidade
tributária". Os 20% vendidos
ao mercado interno seriam tributados normalmente.
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