São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Falação e confusão galopantes


Medo da inflação substitui o de recessão; juros em alta e economias em baixa é coisa inédita desde os anos 1970

"DEU BOBEIRA" nos bancos centrais do mundo, diz Armínio Fraga a respeito do motivo do aumento general da inflação pelo mundo. Fraga falava de inflação e gasto público ontem no Congresso. O economista decerto entende do riscado muito mais que quase todos nós. Mas, francamente, o mundo todo parece levar um baile do carrossel de indicadores econômicos disparatados.
De meados de 2007 até abril, o BC americano cortou os juros em mais de 60% e rolou US$ 1 trilhão de créditos barateados e facilitados a fim de evitar falências bancárias e a asfixia do crédito, que, no entanto, ainda sofre de falta de ar. De maio para cá, Ben Bernanke, o presidente do Fed, passou a estrilar sobre inflação e a fazer campanha pelo dólar forte.
A ameaça de colapso de crédito e recessão braba passou assim tão rápido, sem deixar traços, que a preocupação maior, talvez agora exclusiva, voltou a ser a inflação?
Sim, há o estridente efeito do petróleo e a comida caras, além do dólar desvalorizado. Mas o salário médio real do trabalhador americano cai faz sete meses, para não falar da depressão profunda do setor imobiliário e conexos e da dificuldade das empresas de repassar aumento de custos. Aliás, os salários parecem contidos em todo o mundo rico, e não é de hoje. A inflação será toda importada da Ásia ("ChÍndia" e Oriente Médio e seu petróleo)?
Para aumentar a confusão, na semana passada saíram nos EUA dados ruins, mas aparentemente pouco confiáveis de desemprego, e hoje saíram dados aparentemente bons, mas também estranhos, sobre aumento de vendas no varejo. De resto, medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI), a inflação americana até abril se desacelerava um pouco em relação ao resultado no entanto ruim de 2007 (4,1%).
É evidente que a inflação estoura metas e "zonas de conforto" pelo mundo inteiro, da China aos EUA, passando por Índia, Rússia e Europa. Mas a economia ocidental, digamos, está em "estado interessante" e não se sabe o que vai parir. Bernanke e cia. vão mesmo aumentar juros e tentar fortalecer o dólar? Ou vão ficar só na política monetária verbal?
O que, se é o caso, vão combinar com o BC Europeu, cujos juros são quase o dobro dos americanos e devem aumentar também em breve?
O caso é ainda mais divertido porque os governos de vários países ricos têm cortado ou estudam cortar impostos, como aqueles sobre combustíveis, a fim de aliviar os preços, estimular economia fraquejantes e aplacar a ira crescente do consumidor. Barack Obama, embora ainda não apite nada, faz campanha por corte de impostos "para trabalhadores e classe média". Mas qual a idéia?
Estimular ou conter a economia?
Do outro lado do campo, as maiores economias "emergentes" promovem aperto monetário. Em tese, devem crescer menos daqui para 2009. Por ora, vinham sustentando a tese do descasamento (da crise dos EUA) e até algo mais, pois ajudavam a azeitar a máquina econômica dos países centrais. Apertando suas cravelhas monetárias, em tese jogam areia no crescimento mundial.
Está uma confusão do demo. Juro em alta em período de declínio econômico será uma novidade de três décadas -da era da estagflação.

vinit@uol.com.br


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