São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RETOMADA

Segundo o presidente, indicadores positivos devem ser recebidos com "cautela" e país deve rejeitar surtos de crescimento

Lula abandona retórica do "espetáculo"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou no seu programa quinzenal de rádio, "Café com o Presidente", transmitido ontem, que recebe com "otimismo e ao mesmo tempo com cautela" as notícias de que a produção industrial no país bateu recorde.
"Queremos que o modelo de crescimento da economia brasileira tenha um crescimento sustentável, que se dê durante vários anos seguidos. Nós não queremos aquele crescimento que cresce um ano e no ano seguinte não cresce mais. Por isso é que nós temos cautela", disse Lula.
O tom do presidente consolida o abandono definitivo da retórica do ""espetáculo do crescimento" anunciado por ele próprio em junho de 2003. O ano passou, o PIB (Produto Interno Bruto) de 2003 ficou negativo e todas as autoridades da área econômica adotaram um tom mais cauteloso, próximo à linha do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Para o ministro, é preciso investir na recuperação dos fundamentos da economia que possibilitem que o crescimento seja sustentável.
Lula ecoou esse discurso em algumas ocasiões anteriores, como na abertura do Fórum Nacional, em maio. Ontem, sacramentou a mudança retórica.
"Estou otimista, mas consciente que temos que trabalhar muito mais para que a economia cresça de verdade, de forma sustentada e duradoura. Esse é o nosso objetivo e vamos fazer isso. Temos apenas que ter consciência que estamos no caminho certo", afirmou.
Segundo Lula, os indicadores da retomada do crescimento econômico, como o recorde da produção industrial, representam a colheita do que o governo plantou em 18 meses do seu mandato. Nesse período, afirmou, seu governo trabalhou de forma "muito dura para arrumar a casa".
"O Brasil nunca teve tanto crédito disponível como tem hoje para a agricultura, para a agricultura familiar e para as pessoas físicas. Um trabalhador pode tomar dinheiro emprestado e depois ser descontado na sua folha de pagamento. [Por isso] Os bancos têm emprestado dinheiro a juros mais baratos", afirmou.
Lula disse também que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem "muito dinheiro para investimento, para empresas que têm projetos para fazer a economia brasileira crescer, para gerar empregos, para distribuir renda".
Quanto à oferta de emprego, o presidente afirmou que, com o reaquecimento da produção, num primeiro momento, as empresas preferem pagar hora extra, até ter certeza de que o crescimento é "para valer".
"O emprego formal está crescendo não tanto quanto nós queríamos, mas é o maior crescimento desde 1992. A capacidade ociosa da empresa está sendo ocupada, não, ainda, do jeito que nós queríamos, mas já é a maior ocupação desde 1992. Estamos fazendo as coisas com a tranqüilidade com que precisam ser feitas."
Segundo Lula, os empresários estão acreditando no Brasil, na política que o governo coloca em prática, e já começam a contratar novos trabalhadores com carteira profissional assinada.
O presidente disse ser importante lembrar que o crescimento do país ocorre desde setembro de 2003. "Ele vem crescendo mês a mês, um pouquinho em cada mês, mas de forma sustentável."
Lula afirmou que está cumprindo parte do seu sonho e previu que em dezembro o governo federal levará o programa de transferência de renda Bolsa-Família para 6,5 milhões de famílias.
(WILSON SILVEIRA)


Texto Anterior: Óleo: País deve perder US$ 5 bi em petróleo, prevê ANP
Próximo Texto: Analistas começam a revisar PIB para cima
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.