São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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BIOSSEGURANÇA

Sem aprovação de lei, comércio de soja modificada geneticamente deve ser autorizado por mais um ano

Governo prepara nova MP dos transgênicos

FERNANDO RODRIGUES
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem uma lei e com uma situação de fato ocorrendo em parte do país, o governo federal se prepara para editar uma nova medida provisória para autorizar o comércio de soja transgênica por mais um ano. Segundo a Folha apurou, o Planalto já dá como certa a necessidade de baixar uma nova MP.
Será a segunda MP editada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do assunto. No ano passado, o governo já havia liberado a comercialização de soja transgênica.
A validade da MP do ano passado era para a safra 2003/2004. Agora, é necessária uma nova medida para legalizar a venda da safra 2004/2005, que já começa a ser planejada.
A idéia era resolver o assunto em definitivo por meio da aprovação da Lei de Biossegurança, enviada à Câmara no ano passado. Ocorre que os deputados não aprovaram o texto como o Planalto queria, houve alterações no que hoje está no Senado. Os senadores não votam a lei porque não sabem exatamente qual é a posição do governo.
Na Esplanada dos Ministérios, Roberto Rodrigues (Agricultura) tem uma posição mais liberal em relação ao plantio de soja transgênica. Marina Silva (Meio Ambiente) é menos flexível. O presidente da República não arbitra a disputa, e o assunto está em suspenso no Senado.
A única possibilidade de não ser necessária uma nova MP é os senadores votarem a Lei de Biossegurança e devolverem o texto para os deputados chancelarem sem mudanças -tudo isso até outubro, no meio do processo eleitoral nos municípios. Depois de outubro, as sementes transgênicas já estarão sendo plantadas no Rio Grande do Sul.

Vazio
Indagado ontem sobre o assunto, Roberto Rodrigues reconheceu haver um problema para Lula: "Se chegarmos a um vazio [jurídico], teremos que resolver o assunto com o presidente". O ministro da Agricultura, entretanto, nega em público que uma nova MP seja um fato consumado. "Não há decisão nem interesse em emitir uma MP", declarou.
A declaração de Rodrigues é para consumo externo, pois há muito constrangimento no Palácio do Planalto a respeito do assunto. No ano passado, o tema rendeu desgaste político para Lula. O deputado federal Fernando Gabeira (sem partido-RJ) deixou o PT criticando o presidente a respeito da forma como foi liberada a comercialização da soja transgênica.
Outro aliado de primeira hora de Lula, o governador Roberto Requião (PMDB-PR), faz muitas críticas sobre a ambigüidade do Planalto. Ontem, informado de que uma nova MP é quase certa, Requião declarou: "É uma loucura. Isso é uma autorização para a Monsanto [multinacional que vende as sementes transgênicas] cobrar royalties. Se a MP vier mesmo, será a legalização do contrabando, pois essas sementes todas entram no Brasil de maneira ilegal. No Paraná, vamos continuar a proibir soja transgênica".
A indecisão de Lula foi explorada no ano passado pelos opositores da soja transgênica. Em 30 de julho de 2001, o então pré-candidato à Presidência da República deu uma entrevista na qual afirmava que era "no mínimo burrice" a liberação da soja transgênica no Brasil.
À época, Lula também declarou: "Em vez de o Brasil ficar tentando disputar mercado com os Estados Unidos, seria muito melhor que o Brasil aprimorasse a nossa produção de soja não-transgênica e tentasse fazer com que a nossa soja tivesse mais penetração no mercado europeu e no mercado japonês".
Já presidente da República, deu uma entrevista em agosto do ano passado ao programa dominical "Fantástico", da Rede Globo, e disse: "Já fui politicamente muito contrário. Hoje, cientificamente, tenho dúvidas".


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