São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

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Cresce fatia estrangeira em empresas do país

Fundos aproveitam desvalorização que ações soferam em 2008 e aumentam participação no capital de companhias nacionais

Entre as empresas que tiveram seu quadro de acionistas alterado, estão Vale, Embraer, Eletrobrás, Itaú Unibanco e Bradespar

TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fundos estrangeiros com patrimônio superior ao PIB brasileiro, que causaram turbulência na Bolsa e no câmbio ao retirar dinheiro do país em meio à crise, não só retornaram como também aproveitaram a depreciação das ações para ampliar as fatias que detinham em algumas das mais rentáveis empresas nacionais.
Companhias como Banrisul, Bradespar, Eletrobrás, Embraer, Itaú Unibanco, Lojas Renner, Redecard, SLC Agrícola e Vale, entre outras, tiveram alteração em seu quadro de acionistas com a ascensão de estrangeiros, que passaram a ter pelo menos 5% de capital desde setembro de 2008.
Segundo analistas, a ampliação da presença estrangeira no capital de empresas nacionais é uma revolução silenciosa, que acontece nos pregões eletrônicos da Bolsa. Isso até um deles obter 5% do capital e deixar o anonimato -é obrigatório informar o mercado quando atingem esse patamar.
Alguns desses fundos trilionários falam em nome de milhões de pequenos investidores da classe média americana e europeia, como operários, funcionários públicos e profissionais liberais de meia-idade que terceirizaram a eles a gestão da poupança de toda uma vida.
"O Brasil tem sido um dos mercados mais populares no primeiro semestre do ano. Os investidores são atraídos pela recessão relativamente branda do país, no contexto de desaceleração severa do restante do mundo", diz Karina Litvack, diretora da britânica F&C.
Considerada porta-voz dos estrangeiros na CVM, Litvack liderou em 2008 grupo de 11 investidores que reclamaram de desrespeito aos minoritários nas fusões Aracruz/VCP e Tenda/Gafisa (leia na pág. B6).
Maior acionista individual da Disney, a gestora americana Fidelity "descobriu" o Brasil no início da década. Desde então, vem ampliando a presença em empresas como BM&FBovespa, Cosan, Gafisa e Vivo, além de outras com participação anônima (menos de 5%).
Para clientes de perfil mais arrojado, a Fidelity diz que procura no Brasil empresas com boas perspectivas de retorno em longo prazo, gestão eficiente, contas transparentes e respeito ao acionista minoritário. E o mais importante: liquidez. Como podem precisar retirar dinheiro a qualquer momento, procuram não ficar presos a papéis de difícil negociação.
Apesar de o senso comum apontar o capital externo como muito instável, por fugir da Bolsa a qualquer solavanco, analistas lembram que nem todo dinheiro que vem de fora tem essa característica.
"O investidor que amplia sua participação em uma empresa a um montante de 5% ou mais não pode ser encarado como especulador. Esse investidor buscou aproveitar muito mais um preço favorável do que uma oportunidade ligeira para especular", avalia Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.
Os noruegueses do Skagen Kon-Tiki fazem exigências adicionais: procuram empresas com responsabilidade socioambiental e subavaliadas.
Em 2007, compraram participação na Nossa Caixa que chegou a 6%, após as ações caírem até 40% depois de o governador José Serra vender a folha de pagamento dos servidores. Deixaram a posição após o Banco do Brasil acertar a compra do banco paulista, que valorizou os papéis em 200% em 2008.
Agora, os noruegueses estão na Eletrobrás e tentam repetir o feito com o Banrisul, em que sua participação chegou a 5% em novembro. "Como gestores, buscam sempre informações sobre a empresa", diz Alexandre Ponzi, diretor do Banrisul.


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