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Cresce fatia estrangeira em empresas do país
Fundos aproveitam desvalorização que ações soferam em 2008 e aumentam participação no capital de companhias nacionais
Entre as empresas que tiveram seu quadro de acionistas alterado, estão Vale, Embraer, Eletrobrás,
Itaú Unibanco e Bradespar
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Fundos estrangeiros com patrimônio superior ao PIB brasileiro, que causaram turbulência na Bolsa e no câmbio ao retirar dinheiro do país em meio
à crise, não só retornaram como também aproveitaram a depreciação das ações para ampliar as fatias que detinham em
algumas das mais rentáveis
empresas nacionais.
Companhias como Banrisul,
Bradespar, Eletrobrás, Embraer, Itaú Unibanco, Lojas
Renner, Redecard, SLC Agrícola e Vale, entre outras, tiveram
alteração em seu quadro de
acionistas com a ascensão de
estrangeiros, que passaram a
ter pelo menos 5% de capital
desde setembro de 2008.
Segundo analistas, a ampliação da presença estrangeira no
capital de empresas nacionais é
uma revolução silenciosa, que
acontece nos pregões eletrônicos da Bolsa. Isso até um deles
obter 5% do capital e deixar o
anonimato -é obrigatório informar o mercado quando atingem esse patamar.
Alguns desses fundos trilionários falam em nome de milhões de pequenos investidores
da classe média americana e
europeia, como operários, funcionários públicos e profissionais liberais de meia-idade que
terceirizaram a eles a gestão da
poupança de toda uma vida.
"O Brasil tem sido um dos
mercados mais populares no
primeiro semestre do ano. Os
investidores são atraídos pela
recessão relativamente branda
do país, no contexto de desaceleração severa do restante do
mundo", diz Karina Litvack, diretora da britânica F&C.
Considerada porta-voz dos
estrangeiros na CVM, Litvack
liderou em 2008 grupo de 11 investidores que reclamaram de
desrespeito aos minoritários
nas fusões Aracruz/VCP e Tenda/Gafisa (leia na pág. B6).
Maior acionista individual da
Disney, a gestora americana Fidelity "descobriu" o Brasil no
início da década. Desde então,
vem ampliando a presença em
empresas como BM&FBovespa, Cosan, Gafisa e Vivo, além
de outras com participação
anônima (menos de 5%).
Para clientes de perfil mais
arrojado, a Fidelity diz que procura no Brasil empresas com
boas perspectivas de retorno
em longo prazo, gestão eficiente, contas transparentes e respeito ao acionista minoritário.
E o mais importante: liquidez.
Como podem precisar retirar
dinheiro a qualquer momento,
procuram não ficar presos a papéis de difícil negociação.
Apesar de o senso comum
apontar o capital externo como
muito instável, por fugir da Bolsa a qualquer solavanco, analistas lembram que nem todo dinheiro que vem de fora tem essa característica.
"O investidor que amplia sua
participação em uma empresa
a um montante de 5% ou mais
não pode ser encarado como
especulador. Esse investidor
buscou aproveitar muito mais
um preço favorável do que uma
oportunidade ligeira para especular", avalia Álvaro Bandeira,
diretor da corretora Ágora.
Os noruegueses do Skagen
Kon-Tiki fazem exigências adicionais: procuram empresas
com responsabilidade socioambiental e subavaliadas.
Em 2007, compraram participação na Nossa Caixa que
chegou a 6%, após as ações caírem até 40% depois de o governador José Serra vender a folha
de pagamento dos servidores.
Deixaram a posição após o Banco do Brasil acertar a compra do
banco paulista, que valorizou os
papéis em 200% em 2008.
Agora, os noruegueses estão
na Eletrobrás e tentam repetir
o feito com o Banrisul, em que
sua participação chegou a 5%
em novembro. "Como gestores,
buscam sempre informações
sobre a empresa", diz Alexandre Ponzi, diretor do Banrisul.
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