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PATTI WALDMEIR
O gênio da internet
Apesar de existirem riscos, compartilhar conhecimento on-line pode levar a avanços notáveis para todos nós
O FILÓSOFO e economista Friedrich Hayek nasceu no século 19. Teria ele previsto acidentalmente o gênio da internet?
Em 1973, Hayek escreveu: "Cada
membro da sociedade pode ter apenas uma fração do conhecimento de
posse de todos, e [...] a civilização repousa sobre o fato de que todos nos
beneficiamos do conhecimento que
não possuímos".
Isso certamente soa como um manifesto a favor dos blogs e wikis. Assim como a democracia, eles se baseiam na idéia maravilhosamente
igualitária de que até os mais inferiores de nós têm uma contribuição
a dar. Mas isso pode ser verdade?
O professor Cass Sunstein, um dos
maiores pensadores da internet nos
EUA, escreveu um novo livro intrigante, "Infotopia: How Many Minds
Produce Knowledge [Infotopia:
quantas mentes produzem conhecimento]", em que ele afirma que as
visões de Hayek sobre o gênio dos
mercados são igualmente válidas
para a internet.
Cada indivíduo tem um conhecimento incompleto das coisas que
realmente importam, mas, se nos
unirmos e compartilharmos o que
sabemos, poderemos solucionar
nossos problemas, quer isso signifique definir preços ou encontrar soluções baseadas em volumes maciços de informação distribuída.
O professor Sunstein afirma, por
exemplo, que compartilhar informação científica on-line sanaria alguns dos piores problemas do sistema de patentes dos EUA e promoveria a inovação de maneira muito
mais eficaz. Muitas empresas já estão usando wikis para fazer os funcionários pensarem juntos on-line,
com melhoras na eficiência.
Nada é perfeito, é claro: os mercados podem ser distorcidos por falsidade ou manipulação, e a internet
também pode. Como a maioria dos
participantes de blogs e wikis não
tem participação financeira na precisão da informação que transmite,
os incentivos econômicos que impulsionam os mercados geralmente
não se aplicam à internet.
O compartilhamento de informação parece ser movido por uma
combinação de ego e espírito público: as pessoas genuinamente querem comunicar seu conhecimento.
O americano adulto médio conectado em banda larga depende dessa
informação agregada para um conjunto surpreendente, senão assustador, de informações sobre a vida cotidiana. Nossa casa sofreu recentemente um surto de piolhos, e obtive
muito mais conhecimento sobre o
tema no Google do que do médico.
Nas eras pré-banda larga, eu poderia ter tentado aproveitar a sabedoria coletiva sobre essa praga perguntando a parentes ou vizinhos. Mas
garimpei a sabedoria global usando
o Google e descobri a melhor dica
até agora: lavar o cabelo das crianças
com Coca-Cola. Por que eu mesma
não pensei nisso?
Bem, como diriam Hayek e Sunstein, essa é a condição humana: ninguém tem todas as respostas. Mas
alguns de nós não estamos só mal-informados; estamos errados.
A Wikipedia insistiu em sua seção
sobre piolhos em que eu lavasse os
cabelos de minhas filhas com xampu para cães. O médico disse que não
era uma boa idéia.
O professor Sunstein reconhece
todos os potenciais defeitos desses
projetos colaborativos. "Para agregar informação, a internet oferece
um grande risco, assim como uma
promessa extraordinária", ele escreve. No mundo digital, obter as opiniões, certas ou erradas, de milhões
de pessoas é virtualmente fácil. "Todo dia, pessoas de mentalidade semelhante podem se encontrar em
câmaras de eco criadas por elas mesmas, levando a erros grosseiros, confiança indevida e extremismo injustificado", ele diz.
As Bolsas de previsão on-line, por
exemplo, em que pessoas comuns
apostam no resultado de eventos,
foram mais precisas que os pesquisadores para prever o resultado da
última eleição presidencial nos
EUA. Mas, quando se tratou de prever a identidade do indicado de
George W. Bush para a presidência
da Suprema Corte, as massas estavam terrivelmente mal informadas.
Embora 75 milhões de americanos leiam blogs, segundo uma pesquisa do Pew Internet & American
Life, poucos achariam que todos os
blogs são acurados.
O pensamento em grupo pode ser
perigoso. Mas, segundo o professor
Sunstein, a sabedoria de muitos é
uma grande coisa e compartilhar conhecimento on-line pode levar a
avanços notáveis para as empresas,
os governos e todos nós.
PATTI WALDMEIR é colunista do "Financial Times", jornal
em que este texto foi publicado originalmente.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES
Excepcionalmente, hoje, a coluna de JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN não é publicada.
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