|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
YOSHIAKI NAKANO
Política macroeconômica e eleições
A política macroeconômica baliza os juros, os tributos, o câmbio e os salários, ou seja, quem ganha e quem paga
A CAMPANHA eleitoral entra na
fase decisiva nesta terça-feira
com o horário eleitoral nas
rádios e nas TVs. É oportuno lembrar que esse é o momento no qual
se determinarão os rumos da ação
do governo no período 2007/10. O
debate sobre a política macroeconômica é central, pois ela determinará
os rumos da economia e condicionará as demais políticas. A política macroeconômica determina o ritmo de
expansão da economia e como será
distribuída a riqueza produzida.
Ao fixar os objetivos e selecionar
os meios para alcançá-los, ela beneficiará certos segmentos da sociedade em detrimento de outros, transferindo renda e riqueza. É assim, gerando incentivos e punições, que se
definem os rumos da economia.
Infelizmente, essa transferência
não é transparente para a maioria da
população, pois os beneficiados
sempre argumentarão que os preços
relativos macroeconômicos, por
meio dos quais a renda e a riqueza
são transferidas de um segmento da
população para outro, são determinados pelo mercado, e assim são
"justos". Mas a verdade é que, direta
ou indiretamente, a política macroeconômica tem o poder de determinar a taxa de juros, a carga tributária, a taxa de câmbio, os salários e o
nível geral dos preços de bens e serviços (a inflação) e, dessa forma,
quem ganha e quem paga.
Por exemplo, quando o governo
permite uma apreciação cambial,
reduz a remuneração do setor exportador em detrimento dos importadores (beneficia exportadores e
trabalhadores no exterior). Além
disso, o especulador financeiro que
aplicar em ativos denominados em
reais, além dos elevados juros, vai se
beneficiar da apreciação cambial. É
óbvio que eles terão todo o interesse
em justificar a apreciação cambial,
pois estarão ampliando seus ganhos.
Cabe ao governo defender o interesse da maioria da população.
Da mesma forma, quando o BC
pratica a política de juros mais alta
do planeta, o governo transfere diretamente tributos pagos pela população para os detentores de títulos públicos, isto é, para o setor financeiro
e os rentistas que vivem de juros. Indiretamente, comprimindo a demanda e mantendo o desemprego
elevado, reduz a parcela dos salários
que cabe aos trabalhadores. É por isso que a participação dos salários na
renda nacional é hoje cerca de dez
pontos percentuais menor do que
no início da década de 90, quando se
inicia a política de juros elevados e
de aumento da carga tributária.
As sociedades podem ser consideradas democráticas se tiverem mecanismos institucionais que permitam à maioria da população determinar, ainda que indiretamente, os
objetivos da política macroeconômica. As demandas e as necessidades da população devem ser transformadas pelo sistema político em
objetivos de política econômica.
Apontar os instrumentos mais adequados para atingi-los é uma questão técnica na qual os economistas
podem aconselhar os formuladores
de política. E, se o processo eleitoral
brasileiro e as nossas instituições
políticas não são capazes de cumprir
essa função de definir objetivos, que
traduzem as demandas da população, cabe a esta exigir a reforma do
próprio processo político.
YOSHIAKI NAKANO, 61, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario
Covas (1995-2001).
Texto Anterior: Saiba mais: Órgão conta com diferentes bases de dados Próximo Texto: Preparar inventário de maneira correta evita dor de cabeça Índice
|