São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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YOSHIAKI NAKANO

Política macroeconômica e eleições

A política macroeconômica baliza os juros, os tributos, o câmbio e os salários, ou seja, quem ganha e quem paga

A CAMPANHA eleitoral entra na fase decisiva nesta terça-feira com o horário eleitoral nas rádios e nas TVs. É oportuno lembrar que esse é o momento no qual se determinarão os rumos da ação do governo no período 2007/10. O debate sobre a política macroeconômica é central, pois ela determinará os rumos da economia e condicionará as demais políticas. A política macroeconômica determina o ritmo de expansão da economia e como será distribuída a riqueza produzida.
Ao fixar os objetivos e selecionar os meios para alcançá-los, ela beneficiará certos segmentos da sociedade em detrimento de outros, transferindo renda e riqueza. É assim, gerando incentivos e punições, que se definem os rumos da economia.
Infelizmente, essa transferência não é transparente para a maioria da população, pois os beneficiados sempre argumentarão que os preços relativos macroeconômicos, por meio dos quais a renda e a riqueza são transferidas de um segmento da população para outro, são determinados pelo mercado, e assim são "justos". Mas a verdade é que, direta ou indiretamente, a política macroeconômica tem o poder de determinar a taxa de juros, a carga tributária, a taxa de câmbio, os salários e o nível geral dos preços de bens e serviços (a inflação) e, dessa forma, quem ganha e quem paga.
Por exemplo, quando o governo permite uma apreciação cambial, reduz a remuneração do setor exportador em detrimento dos importadores (beneficia exportadores e trabalhadores no exterior). Além disso, o especulador financeiro que aplicar em ativos denominados em reais, além dos elevados juros, vai se beneficiar da apreciação cambial. É óbvio que eles terão todo o interesse em justificar a apreciação cambial, pois estarão ampliando seus ganhos. Cabe ao governo defender o interesse da maioria da população.
Da mesma forma, quando o BC pratica a política de juros mais alta do planeta, o governo transfere diretamente tributos pagos pela população para os detentores de títulos públicos, isto é, para o setor financeiro e os rentistas que vivem de juros. Indiretamente, comprimindo a demanda e mantendo o desemprego elevado, reduz a parcela dos salários que cabe aos trabalhadores. É por isso que a participação dos salários na renda nacional é hoje cerca de dez pontos percentuais menor do que no início da década de 90, quando se inicia a política de juros elevados e de aumento da carga tributária.
As sociedades podem ser consideradas democráticas se tiverem mecanismos institucionais que permitam à maioria da população determinar, ainda que indiretamente, os objetivos da política macroeconômica. As demandas e as necessidades da população devem ser transformadas pelo sistema político em objetivos de política econômica.
Apontar os instrumentos mais adequados para atingi-los é uma questão técnica na qual os economistas podem aconselhar os formuladores de política. E, se o processo eleitoral brasileiro e as nossas instituições políticas não são capazes de cumprir essa função de definir objetivos, que traduzem as demandas da população, cabe a esta exigir a reforma do próprio processo político.


YOSHIAKI NAKANO, 61, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).

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