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Aumento de servidor chega a 80% e supera setor privado
Elite do funcionalismo federal acumula ganhos acima da inflação no governo Lula
Gastos com pessoal vão ultrapassar 5% do PIB pela primeira vez na gestão petista; em dezembro, 8% ganhavam mais de R$ 8.500
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano depois de um pacote
de reajustes salariais que até
hoje mantém os gastos com
pessoal da União em alta, a elite
do funcionalismo público federal já acumula ganhos acima da
inflação, superiores aos padrões da iniciativa privada.
Nas dez carreiras mais valorizadas do Executivo federal,
todas de nível superior e quase
todas exclusivas do Estado, o
aumento real dos vencimentos
desde o primeiro governo Luiz
Inácio Lula da Silva varia de
15% a 80%, segundo levantamento feito pela Folha.
É mais que o suficiente para
incluir os servidores, uma das
bases políticas mais tradicionais do PT, entre os setores do
mercado de trabalho mais
bem-sucedidos dos últimos
quatro anos -e para levar, neste ano, os gastos com pessoal
acima do patamar de 5% do
PIB pela primeira vez sob Lula.
O menor ganho desse contingente no período, concedido
aos pesquisadores em ciência e
tecnologia com doutorado, corresponde ao maior percentual
apurado pelas pesquisas do Datafolha entre empresas privadas da Grande São Paulo -neste caso, a liderança fica com
ocupações de nível básico ligadas à produção, que reúne, entre outros, mestres-de-obras,
carpinteiros e eletricistas.
O trabalho realizado regularmente pelo Datafolha entre 113
empresas de grande e médio
porte dos setores de serviços,
comércio, indústria e construção civil aponta que as ocupações de nível superior tiveram
ganhos menores, de 8,9% em
média, enquanto diretores e
gerentes ficaram com 5,9%.
Os dados do governo federal
mostram que a melhora da remuneração pesa muito mais no
crescimento dos gastos do que
a polêmica ampliação do quadro de servidores promovida
pela administração petista, revertendo um processo de enxugamento que vinha desde o início da década passada.
Entre os civis do Executivo, o
quadro de ativos teve um crescimento de 16% de 2003 a
2006, quando o número de servidores chegou a 528,1 mil. As
despesas nesse segmento, porém, cresceram quatro vezes
esse percentual: de R$ 19,9 bilhões para R$ 32,6 bilhões, ou
64% -e, neste ano, é esperada
uma alta adicional de 17,8%.
Quase toda a expansão está
concentrada no pacote de benefícios concedido às vésperas
da campanha eleitoral de 2006,
com reajustes programados até
2009 -quando procuradores e
advogados da União passarão a
ganhar R$ 17 mil mensais e se
tornarão os servidores mais
bem remunerados do Executivo. No início de 2006, 4,8% dos
servidores ostentavam salários
acima dos R$ 8.500 mensais.
Em dezembro, eram 8%.
"Nós procuramos valorizar
as carreiras típicas de Estado e
também recuperamos algumas
carreiras da base que estavam
aviltadas", diz o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento), para
quem o governo Fernando
Henrique Cardoso deixou defasagens salariais no setor.
Das dez carreiras mais bem
pagas hoje, só três tiveram ganhos reais entre 1998 e 2002.
Mas os números desmentem o
congelamento dos salários alegado pelos sindicatos.
Bernardo acredita que a qualidade dos serviços prestados
pela elite dos servidores justifica os salários e cita o que considera duas das "ilhas de excelência" da administração, o Itamaraty e a Polícia Federal.
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