São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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"Crise pode frear corte de juros pelo Banco Central"

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise nos mercados internacionais poderá interromper o processo de redução dos juros pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro, que volta a se reunir em setembro para definir a taxa Selic.
A opinião é do professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Márcio Holland, para quem o país perdeu a oportunidade de ter reduzido mais agressivamente os juros no período de alta liquidez e relativa calmaria internacional que imperou até julho.
Em sua última reunião, o Copom reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,5%. Antes da turbulência da semana passada, muitos analistas acreditavam que o BC reduziria o ritmo dos cortes para 0,25 ponto percentual em setembro. Agora, já há dúvidas sobre nova redução da Selic.
"A frase clássica será "perdemos a oportunidade mais uma vez'", diz Holland. As atas do Copom citavam o cenário externo estável como um dos fatores que permitiam cortes nos juros. O eventual conservadorismo do BC será a principal conseqüência da crise na economia brasileira, segundo o professor da FGV. No mundo real, juros altos limitam o ritmo da atividade econômica. "Vamos continuar a ter dificuldade de crescer mais que 4,5% ou 5%."
Holland identifica a origem da turbulência muito além do mercado de crédito imobiliário de alto risco dos EUA (subprime).
Em sua opinião, a crise reflete os desequilíbrios estruturais da sociedade norte-americana, que acumulou na última década déficits fiscal e em conta corrente recordes. Enquanto essas distorções não forem corrigidas, diz, a instabilidade continuará. "A calmaria em que vivíamos acabou", afirma.
As turbulências podem ser aplacadas pela ação dos BCs, mas os focos de vulnerabilidade continuarão a existir, acredita. A correção do déficit em conta corrente norte-americano depende de um amplo acordo internacional, que leve a um rearranjo dos valores das moedas, semelhante ao acordo de Plaza assinado em 1985 entre Estados Unidos, Japão, França, Alemanha e Inglaterra.
Naquela ocasião, os cinco países decidiram a desvalorização do dólar em relação ao iene japonês e ao marco alemão. Nos dois anos seguintes, a moeda norte-americana perdeu 51% de seu valor em relação ao iene. O dólar vem se desvalorizando nos últimos meses, mas não na proporção suficiente para reduzir seu déficit, ressalta o professor da FGV.
Holland reconhece que não há disposição hoje para um acordo semelhante ao Plaza. Entre outras razões porque a China, que deveria permitir a valorização do yuan, não está interessada em uma queda expressiva do dólar. Com a maior parte de seu US$ 1,3 trilhão de reservas denominada em dólares, o país asiático veria seus ativos evaporarem na proporção de eventual desvalorização da moeda dos EUA.


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