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"Crise pode frear corte de juros
pelo Banco Central"
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise nos mercados internacionais poderá interromper o processo de redução dos juros pelo Comitê de
Política Monetária do Banco
Central brasileiro, que volta
a se reunir em setembro para
definir a taxa Selic.
A opinião é do professor da
FGV (Fundação Getúlio Vargas) Márcio Holland, para
quem o país perdeu a oportunidade de ter reduzido mais
agressivamente os juros no
período de alta liquidez e relativa calmaria internacional
que imperou até julho.
Em sua última reunião, o
Copom reduziu a Selic em
0,5 ponto percentual, para
11,5%. Antes da turbulência
da semana passada, muitos
analistas acreditavam que o
BC reduziria o ritmo dos cortes para 0,25 ponto percentual em setembro. Agora, já
há dúvidas sobre nova redução da Selic.
"A frase clássica será "perdemos a oportunidade mais
uma vez'", diz Holland. As
atas do Copom citavam o cenário externo estável como
um dos fatores que permitiam cortes nos juros. O
eventual conservadorismo
do BC será a principal conseqüência da crise na economia brasileira, segundo o
professor da FGV. No mundo real, juros altos limitam o
ritmo da atividade econômica. "Vamos continuar a ter
dificuldade de crescer mais
que 4,5% ou 5%."
Holland identifica a origem da turbulência muito
além do mercado de crédito
imobiliário de alto risco dos
EUA (subprime).
Em sua opinião, a crise reflete os desequilíbrios estruturais da sociedade norte-americana, que acumulou na última década déficits fiscal e
em conta corrente recordes.
Enquanto essas distorções
não forem corrigidas, diz, a
instabilidade continuará. "A
calmaria em que vivíamos
acabou", afirma.
As turbulências podem ser
aplacadas pela ação dos BCs,
mas os focos de vulnerabilidade continuarão a existir,
acredita. A correção do déficit em conta corrente norte-americano depende de um
amplo acordo internacional,
que leve a um rearranjo dos
valores das moedas, semelhante ao acordo de Plaza assinado em 1985 entre Estados Unidos, Japão, França,
Alemanha e Inglaterra.
Naquela ocasião, os cinco
países decidiram a desvalorização do dólar em relação ao
iene japonês e ao marco alemão. Nos dois anos seguintes, a moeda norte-americana perdeu 51% de seu valor
em relação ao iene. O dólar
vem se desvalorizando nos
últimos meses, mas não na
proporção suficiente para reduzir seu déficit, ressalta o
professor da FGV.
Holland reconhece que
não há disposição hoje para
um acordo semelhante ao
Plaza. Entre outras razões
porque a China, que deveria
permitir a valorização do
yuan, não está interessada
em uma queda expressiva do
dólar. Com a maior parte de
seu US$ 1,3 trilhão de reservas denominada em dólares,
o país asiático veria seus ativos evaporarem na proporção de eventual desvalorização da moeda dos EUA.
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