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Produção foi planejada para preços mais altos
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
A acentuada baixa do preço
das commodities "vem num
momento delicado", afirma
Cesário Ramalho, presidente
da Sociedade Rural Brasileira,
ao se referir à proximidade do
plantio da nova safra de verão.
"Se esse recuo persistir, arrisca
inviabilizar a agricultura", diz.
Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra 2007/08 chegou ao recorde de 143,7 milhões de toneladas, 9,1% maior
em relação à temporada anterior. A meta do governo é que a
próximo ano agrícola alcance
150 milhões de toneladas, aumento de 4,4%.
Para Carlo Lovatelli, presidente da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness) e diretor do grupo Bunge, o recuo das
cotações é pontual. Mesmo que
as cotações não retomem os patamares recordes de alguns
meses atrás, tendem a permanecer elevadas. Os preços subiram muito depressa e agora há
um ajuste, avalia.
A surpresa com a intensidade
da queda das cotações das commodities abre espaço para que
os agricultores trabalhem "de
forma defensiva", embora os
fundamentos do mercado ainda sejam altistas -os estoques
permanecem baixos apesar das
previsões otimistas para a safra
americana. A avaliação é de César Borges de Sousa, vice-presidente do Conselho de Administração da Caramuru Alimentos.
O receio de que os preços não
evoluam a contento embute o
risco de que se plante menos do
que o esperado e se economize
em tecnologia, com aplicação
de menos fertilizantes e produtos para o manejo das lavouras.
"Todo mundo falava que os
preços eram firmes", diz Borges de Sousa, que também preside a Câmara de Milho e Sorgo.
Agora, o recuo no preço futuro
do barril do petróleo alimenta a
valorização do dólar, e os fundos de investimento debandam
da Bolsa de Chicago, onde buscavam refúgio em contratos
agrícolas contra o derretimento da moeda norte-americana.
Proteção financeira
Para Borges de Sousa, as indústrias de alimentos têm de se
proteger no mercado financeiro. A estratégia da Caramuru
usa simplicidade para organizar bem o hedge. Quando compra matéria-prima de agricultores, vende contratos em Chicago. E quando vende ao cliente
final, compra na Bolsa norte-americana. Sempre administrando os volumes, para evitar
despesas excessivas com o pagamento de margens.
A instabilidade do preço dos
grãos interfere no planejamento de outros setores. "Não é
bom. Não se sabe quanto o produto vai valer em seis meses",
diz Marcos Jank, presidente da
Unica (União da Indústria de
Cana-de-Açúcar). As projeções
de exportações brasileiras de
álcool aos EUA dispararam para o patamar de 5 bilhões de litros após o bushel do milho ter
alcançado valor recorde próximo de US$ 8 em Chicago. O
preço subiu pela perspectiva de
produção menor nos EUA, com
implicações na produção do
biocombustível. Agora, com o
bushel em torno de US$ 5 e previsão de safra maior nos EUA, o
setor de agroenergia do Brasil
tem de acompanhar o mercado
com atenção em dobro.
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