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BC decide intensificar compra de dólares
Para suavizar valorização do real, instituição vai adquirir volume maior de moeda estrangeira nas operações que faz no mercado
Meirelles diz a Lula que estratégia, que vem sendo defendida pela Fazenda, é saída de curto prazo para amenizar queda do dólar
KENNEDY ALENCAR
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central vai acelerar
a compra de dólares a fim de
tentar suavizar o processo de
valorização do real em relação
ao dólar. A estratégia será comprar mais dólares a cada lote
adquirido nas intervenções que
o BC faz para adquirir moeda
estrangeira.
Segundo a Folha apurou, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foi informado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que havia limitações para a ação de compra de dólares, mas que a instituição a intensificaria como
medida de curto prazo para
suavizar a valorização do real.
Meirelles foi claro. Disse a
Lula que essa ação não resolveria, mas ajudaria a conter uma
valorização ainda maior do
real. O presidente do BC frisou
que seria ação de curto prazo. A
política de o BC comprar mais
dólares vem sendo defendida
pelo Ministério da Fazenda há
algumas semanas.
Ele também disse ao presidente que ainda há espaço para
nova queda da taxa básica de
juros, a Selic, hoje em 8,75% ao
ano. No entanto, esse espaço
estaria cada vez mais estreito.
Ou seja, o governo deve esperar
eventuais reduções menores
do que as adotadas nas últimas
reuniões do Copom (Comitê de
Política Monetária). Nas palavras de um auxiliar do presidente, seriam reduções menores. No máximo, meio ponto
percentual, como na última
reunião, ou 0,25 ponto percentual. Dificilmente o BC fará novas diminuições na casa do 1
ponto percentual, como fez ao
longo do primeiro semestre.
O Copom é o órgão do BC
que se reúne para fixar a Selic.
O próximo encontro será entre
os dias 1º e 2 de setembro.
Nas palavras de um ministro,
o BC pretende "tonificar as intervenções" que vem fazendo
no mercado de câmbio desde
maio. Naquele mês, passada a
fase aguda da crise, a instituição atuou com foco na compra
direta de dólares que estão nas
carteiras dos bancos. Até a semana passada, as aquisições
somavam US$ 8,9 bilhões.
Em julho, a média foi de US$
94 milhões por dia, pouco perto do volume de recursos que
se movimenta no mercado de
câmbio, montante que varia
muito a cada dia, mas que pode
chegar a US$ 4 bilhões. No ano
passado, antes da crise, o BC
chegava a comprar US$ 1 bilhão num único dia para tentar
conter a queda do dólar.
Em março, o BC também
passou a resgatar os empréstimos em moeda estrangeira que
haviam sido concedidos a instituições financeiras entre o final de 2008 e o início de 2009,
quando as turbulências dos
mercados dificultaram o acesso do setor privado brasileiro a
linhas de crédito internacionais. Dos US$ 24 bilhões em linhas de crédito em dólar que o
BC injetou no mercado devido
à crise, US$ 20,1 bilhões já haviam sido quitados até o final
da semana passada.
Reflexos
A atuação do Banco Central
no câmbio tem dois efeitos: reforçar as reservas em moeda
estrangeira do país e colaborar
para uma desvalorização do
real. No primeiro caso, as intervenções nos últimos meses ajudaram as reservas a subir de
US$ 201,3 bilhões no final de
abril para US$ 212,6 bilhões na
última sexta-feira.
A pressão sobre a taxa de
câmbio é resultado do aumento
que a ação do BC provoca na
procura por dólares no mercado. Teoricamente, quanto
maior a demanda pela moeda
dos EUA, mais alta a sua cotação. Nos últimos meses, as
compras do BC não foram suficientes para reverter o efeito
que o ingresso de capital externo do Brasil tem tido sobre a
cotação do dólar, mas ajudaram
a tendência de alta do real. É essa ajuda que Meirelles disse a
Lula que pretende reforçar.
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