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Serra fecha acordo com Lula na Previdência
Acerto estabelece que União não cobrará dívida de R$ 15 bilhões de SP com o INSS, que Estado contestava na Justiça
Mário Covas negociou, sem sucesso, entendimento semelhante com FHC; Lula diz que faz mais por Serra
do que tucano por Covas
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador José
Serra fecharam acordo para a
União não cobrar dívida de cerca de R$ 15 bilhões de São Paulo
com o INSS (Instituto Nacional
de Seguro Social).
O acordo se refere à regularização da contribuição previdenciária de 200 mil funcionários ativos e aposentados contratados pelo governo paulista
desde 1974. Em troca do "perdão" dos R$ 15 bilhões, Serra
reconhecerá uma dívida com o
INSS de cerca de R$ 400 milhões, relativa a 5.000 dos 200
mil funcionários. Serra assumirá oficialmente no sistema previdenciário do Estado a responsabilidade pelos outros 195 mil,
o que já faz na prática.
O acerto porá fim a uma disputa iniciada em 1999, quando
o então governador Mário Covas entrou na Justiça contra o
governo do também tucano
Fernando Henrique Cardoso.
Em 2001, São Paulo obteve na
primeira instância federal decisão favorável para que não fosse exigida contribuição ao INSS
de exatamente 199.397 servidores ativos e inativos. Mas essa decisão foi anulada, e hoje há
embate no STF (Supremo Tribunal Federal).
Na próxima semana, a AGU
(Advocacia Geral da União)
apresentará o acordo ao relator
da disputa no STF, Joaquim
Barbosa. A AGU pedirá parecer
do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza.
A Folha apurou que já há entendimento para que o Ministério Público apóie e o Supremo homologue o acordo. Consultado por Lula, o advogado-geral da União, José Antonio
Dias Toffoli, disse que não valia
a pena "litigar por litigar" e defendeu um ajuste de contas.
A confusão começou em
1974, quando São Paulo contratou em caráter temporário
servidores, a maioria professores, usando um artifício: o funcionário era contratado em janeiro e demitido em dezembro
vários anos seguidos.
O INSS entendeu que era um
serviço de natureza permanente e que esses funcionários deveriam contribuir à Previdência federal. Um grupo menor
de servidores, em cargos de
confiança, também não contribuiu ao INSS. Desde então, 200
mil funcionários contribuíram
ao regime previdenciário paulista, não ao INSS.
Em maio deste ano, Serra se
reuniu com o então ministro da
Previdência Social, Luiz Marinho, hoje candidato a prefeito
de São Bernardo do Campo pelo PT. Sindicalista, Marinho
propôs um acordo para legalizar a situação dos 200 mil e evitar que a Receita Federal inscrevesse o débito de R$ 15 bilhões do INSS na dívida ativa
da União, o que inviabilizaria
operações de empréstimo no
exterior a São Paulo e até repasses de recursos federais.
Ao mesmo tempo, o entendimento é vantajoso para o governo federal por evitar que o
INSS tenha de arcar com a aposentadoria de servidores e lutar
na Justiça por anos para receber os R$ 15 bilhões.
Em discursos recentes,
quando Lula disse que fez mais
por Serra do que FHC fez por
Covas, ele se referiu a gestos de
boa vontade administrativa,
como o acordo costurado por
Marinho, que chegou a assinar
um documento em reunião
com o governador. Sem sucesso, Covas tentou entendimento
parecido com o governo FHC.
Boas relações
O acordo também interessa a
Lula por manter boa relação
com Serra, que pode vir a sucedê-lo no Palácio do Planalto,
caso se viabilize no PSDB e vença a eleição. O Planalto e o Palácio dos Bandeirantes já fizeram
acordo sobre o futuro da Cesp
(Companhia Energética de São
Paulo) e negociam a compra da
Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, além de outras parcerias na
infra-estrutura.
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