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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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CONTAS PÚBLICAS

Ministério de Minas e Energia já prepara estudo para alterar forma de contabilizar despesa de estatais

Governo quer mudar cálculo de meta fiscal

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com ou sem um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo pretende modificar o cálculo das metas fiscais, permitindo uma expansão dos investimentos das empresas estatais. As mudanças serão discutidas com os técnicos do Fundo que vêm ao país até o fim do mês.
De acordo com o chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, o Ministério de Minas e Energia prepara estudos para que os investimentos da Eletrobrás não sejam integralmente registrados como gastos comuns.
Já existe alguma flexibilização em relação à Petrobras, principal empresa pública brasileira. Mas a avaliação é que ela é insuficiente.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, diz que o governo tem interesse em melhorar a qualidade das contas públicas, mas que não fará "mágicas contábeis".
"Esse processo tende a acompanhar normas definidas internacionalmente pelo Fundo, mas não é o FMI que determina isso", diz.
Os investimentos das estatais sofrem limitações hoje, pois as empresas precisam ter resultados positivos (lucro) para contribuir no cumprimento da meta fiscal do setor público.
A meta principal é a de superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros). Como os investimentos das empresas são registrados como despesas comuns, não contribuem para a meta de superávit.
Mas esses investimentos, muitas vezes feitos com recursos próprios das empresas, têm uma alta taxa de retorno. Ou seja, geram riquezas novas para o país.

Flexibilização
Em 2002 o governo incluiu uma regra de flexibilização dos investimentos da Petrobras, mas o mecanismo nunca foi utilizado.
No atual acordo com o FMI, o país se comprometeu a gerar R$ 54,2 bilhões de superávit primário até setembro. Os investimentos da Petrobras foram fixados em R$ 9,6 bilhões para o período. Se a empresa investisse mais que isso, a meta seria reduzida no mesmo montante. Mas isso não ocorreu.
Com a exceção da companhia petrolífera, todas as demais estatais têm seus investimentos contabilizados simplesmente como gastos, o que impacta no cálculo do déficit público. Isso limita a capacidade do Estado, por exemplo, de investir em infra-estrutura.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse na reunião do FMI no mês passado que o governo não deseja retirar do cálculo do déficit público, de forma generalizada, o investimento de estatais. "Nossa prioridade não é criar critérios novos de contabilidade; é melhorar as contas e não as formas como os números são apurados", disse ele, na ocasião.
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, cita exemplos de países que têm metas fiscais altas sem contar com as empresas estatais. "Em geral são os países com melhor "rating" [avaliação sobre capacidade de pagamento de dívidas] que têm superávit mais alto. E sem incluir as estatais."
É o caso, segundo ele, do grupo de países formado pela Europa Ocidental e os EUA, que tiveram superávit de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2000 e 2001.
O superávit programado pelo governo brasileiro até 2007 é de 4,25% do PIB. As estatais entram com 0,7 ponto percentual do total. Para 2004, estão previstos investimentos de R$ 31,8 bilhões das estatais federais. Somente a Petrobras terá R$ 24,3 bilhões.

Metas sociais
A inclusão de metas sociais em um eventual novo acordo com o Fundo, de acordo com os economistas do governo, não mexeria no cálculo de receitas e despesas. "Se você tira algo do cálculo, outros setores terão que fazer mais economia", diz Miranda.
Ele lembra que 72% dos gastos são na área social. Essas despesas não poderiam, portanto, ser apartadas da meta.
Mas tanto ele como o secretário do Tesouro afirmam que um gasto social importante previsto para o próximo ano é a reativação do setor de saneamento básico.
Uma das molas para isso é a PPP (Parceria Público-Privada). E os técnicos do FMI ainda deverão opinar sobre a forma de inclusão da PPP na contabilidade pública.
Isso porque a PPP -que deverá ser anunciada amanhã pelo ministro Guido Mantega (Planejamento)- é uma concessão pública que garante à empresa uma rentabilidade mínima em troca da obra feita.
O governo pretende colocar esses gastos no Orçamento à medida que eles forem feitos. Dessa forma, a despesa com a obra seria dividida pelos 20 ou 30 anos da parceria.
Mas um novo acordo com o Fundo é ainda uma possibilidade. O ministro Palocci já falou que, caso o governo decida pela prorrogação do relacionamento direto com o Fundo, o acordo será de um ano e os valores envolvidos não seriam desembolsados. É o chamado acordo de precaução.
A missão do FMI fará a última revisão no acordo atual (de US$ 30 bilhões, assinado no ano passado) para disponibilizar ao país a parcela de US$ 8 bilhões.


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