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OPINIÃO ECONÔMICA
Quanto é?
JOÃO SAYAD
A baixo , o que sabemos sobre
o sistema previdenciário no
Brasil:
1) a previdência privada é superavitária, ou seja, as contribuições pagas por empregados e empregadores são superiores aos
gastos com aposentadorias. Isso é
verdade se fizermos a contabilidade corretamente, isto é, retirando das despesas da Previdência os
gastos com garantia de renda mínima para trabalhadores rurais e
urbanos, que nunca contribuíram e nunca contribuirão. De
verdade, são gastos de assistência
social como o Fome Zero, que não
fazem parte da Previdência e não
deveriam ser financiados por contribuições dos empregados e empregadores que estão investindo
em aposentadoria;
2) assim, as contribuições dos
empregadores poderiam, em tese,
ser reduzidas, já que existe superávit e a contribuição sobre a folha de pagamento pode ter efeito
negativo sobre o emprego;
3) a previdência dos funcionários públicos apresenta déficit
-os gastos com aposentadorias
são maiores do que as contribuições pagas pelos funcionários públicos. O governo não paga contribuições como o empregador
privado e, quando paga, chama o
pagamento de déficit da previdência pública;
4) os pagamentos da Previdência feitos pelo governo -e chamados de déficit- incluem os valores pagos aos funcionários contratados pelo regime da CLT que
se transformaram em funcionários públicos a partir da Constituição de 1988. Esse evento não
faz parte dos problemas da Previdência, pois é história e não foi
corrigido pela reforma proposta
pelo governo e aprovada na Câmara;
5) a reforma da Previdência iniciada no governo anterior e que
continua como objetivo do governo atual tem corrigido algumas
distorções do sistema previdenciário que foram sendo aprovadas por leis nos últimos 40 anos. A
correção de algumas dessas distorções é justa e faz sentido;
6) os ganhos financeiros da reforma para os governos federal,
estaduais e municipais são estimados entre R$ 50 bilhões e R$ 1,5
trilhão (igual a um Produto Interno Bruto) quando se consideram as economias decorrentes da
reforma durante os próximos 30
anos e se usa uma taxa de desconto de 3% ao ano;
7) a taxa de desconto de 3% ao
ano é muito baixa quando se consideram as taxas praticadas no
país. Se fosse utilizada uma taxa
maior, digamos 6%, como na caderneta de poupança, ou 10% ao
ano -a taxa real que o Banco
Central considera como taxa de
equilíbrio-, os ganhos seriam irrisórios;
8) a reforma da previdência pública não reduz o déficit público
do governo brasileiro neste ano
nem nos próximos. Se o governo
vier a contribuir com os fundos de
previdência complementar criados na nova lei aprovada na Câmara, o déficit público tende a
aumentar;
9) as informações anteriores
vêm de estudos e perguntas que
fiz a diversos economistas que estudam a Previdência. Não existem discordâncias a respeito, a
não ser sobre a "importância" da
economia de gastos para o governo.
Defensores da reforma partem
das premissas anteriores e concluem que a reforma "tem de ser
feita". Porque o governo tem despesas muito altas e porque, uma
vez feita a reforma, o mercado financeiro internacional passará a
acreditar que o governo brasileiro
poderá pagar a dívida pública no
longo prazo.
O Brasil seria o único -e o primeiro- país do mundo que teria
"resolvido" o problema da Previdência. O mercado financeiro vive disso -inventa mitos, depois
faz contas, deixa de acreditar e
inventa outro mito.
De minha parte, acredito que
sociedades organizadas e "governáveis" sejam eventos pouco prováveis. Revoluções, reformas ou
novas constituições devem ser feitas com muito cuidado e apenas
em casos de extrema necessidade.
Com os mesmos cuidados que o
médico decide fazer intervenções
mais ou menos dolorosas e arriscadas em seus pacientes.
No caso da Previdência, está
faltando resposta a uma pergunta objetiva, que banqueiros sempre fazem antes de tomar qualquer decisão: "Quanto é?". Ainda
não ouvi resposta firme, convincente ou robusta.
Se estivéssemos falando de dezenas de bilhões de reais por ano,
e não em 30 anos, os custos políticos da aprovação das reformas
-concentração dos talentos políticos do governo nesse assunto,
alianças políticas, concessões, desgaste da legitimidade do governo- se justificariam.
O governo gastará com juros,
neste ano, R$ 75 bilhões. Se baixasse os juros um pouco mais depressa, poderia economizar R$ 25
bilhões, metade do que talvez venha a ganhar nos próximos 30
anos com a reforma da Previdência. É a alternativa conservadora
e mais confiável. O único problema dessa alternativa é que ficaríamos -governo e colunistas de
jornal- sem assunto.
João Sayad, 57, economista, é professor
da Faculdade de Economia e Administração da USP.
E-mail - jsayad@attglobal.net
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