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TRABALHO
CUT e Força Sindical devem ser autorizadas a descontar direto na Previdência a mensalidade dos aposentados associados
Reforma sindical começa a sair do papel
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula deve dar hoje o
primeiro passo para a reforma
sindical sair do papel, ao permitir
que dois sindicatos nacionais de
aposentados e pensionistas -o
da CUT e o da Força Sindical-
possam fazer o desconto da mensalidade de seus associados diretamente na folha de pagamento
da Previdência Social.
Desde 2000, quando essas entidades sindicais foram criadas para representar os trabalhadores
inativos, CUT (Central Única dos
Trabalhadores) e Força Sindical
negociavam, sem sucesso, autorização para efetuar o desconto de
forma voluntária.
No país, existem 21,4 milhões de
aposentados e pensionistas no
sistema privado, segundo informa a Previdência.
O argumento usado para não
permitir o desconto até 2002 foi o
de que a Constituição Federal reconhece o princípio da unicidade
sindical -só pode haver um sindicato de uma categoria profissional por base territorial.
Sinalização
Ao permitir o desconto das
mensalidades para os dois sindicatos nacionais de aposentados, o
governo dá mostras, entretanto,
de que a liberdade sindical deve
ser adotada no país.
O tema, porém, ainda é objeto
de discussão no Fórum Nacional
de Trabalho, órgão integrado por
representantes dos trabalhadores,
das empresas e do governo.
A idéia é mandar a proposta de
reforma sindical para o Congresso no início do ano que vem, após
ser debatida no fórum.
O convênio que permitirá o repasse da mensalidade aos sindicatos será assinado hoje, em Brasília, pelo ministro da Previdência
Social, Ricardo Berzoini, por líderes das duas centrais sindicais e
dos dois sindicatos nacionais de
aposentados e pensionistas.
O Ministério da Previdência
não comentou o reconhecimento
dos sindicatos. Apenas informou,
por meio de sua assessoria, que o
desconto das mensalidades na folha do aposentado era uma reivindicação antiga das entidades
que está sendo atendida agora.
A Folha apurou, entretanto, que
a medida também tem como objetivo permitir que as centrais sindicais, por meio desses sindicatos,
possam viabilizar acordos para
aposentados e pensionistas tomarem empréstimos nos bancos -e
oferecerem como garantia o desconto na folha de pagamento do
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Isso ocorreria nos moldes dos
acordos feitos para os trabalhadores da ativa, como permite a medida provisória editada recentemente pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
A Força Sindical e o Santander
assinaram há cerca de três semanas o primeiro acordo de crédito
com desconto no contracheque
-o financiamento varia de 12 a
48 meses, com juros entre 2% e
3,8% ao mês.
Essa modalidade de empréstimo para os aposentados, já prevista na medida provisória, depende ainda de regulamentação
em decreto do INSS.
A minuta para regulamentar esse decreto, enviada pela Previdência Social ao Ministério da Casa
Civil, está em análise, informa a
assessoria do ministério.
A sugestão da Previdência para
viabilizar esses empréstimos é
que, em uma primeira etapa, somente os bancos credenciados ao
INSS para fazer o pagamento de
benefícios -no total são 25 instituições financeiras- possam
conceder os financiamentos.
As condições dos empréstimos
-prazos, limites e juros- não
estão definidas na minuta.
"Permitir que o nosso sindicato
faça o desconto da mensalidade é
um avanço. Mas vamos pedir ao
ministro Berzoini que agilize o
empréstimo com desconto na folha da Previdência", disse o presidente do Sindicato Nacional dos
Aposentados e Pensionistas da
Força Sindical, João Batista Inocentini.
Assédio
A entidade, que informa ter 220
mil sócios e cobrar R$ 6 por ano
de mensalidade sindical, já recebeu propostas de acordos de dois
bancos para viabilizar financiamentos a juros menores para seus
associados -as taxas propostas
variam de 1,78% a 2% ao mês.
"Os bancos têm de emprestar
com juros ainda menores do que
estão emprestando para quem está na ativa. Porque o trabalhador
da ativa pode ser demitido e deixar de pagar uma prestação do financiamento feito. Mas o dinheiro da aposentadoria está lá todo
mês depositado na conta do aposentado. Ou seja, o risco para o
banco é zero", diz Inocentini.
Para o presidente do Sindicato
Nacional dos Aposentados e Pensionistas da CUT, Wilson Ribeiro,
o reconhecimento dos dois sindicatos é de fato "o primeiro passo
para acabar com o monopólio da
representação sindical".
Ao permitir o desconto da cobrança de suas mensalidades na
folha do INSS, o sindicato resolve
seus problemas de inadimplência
-que atinge hoje cerca de um
quarto de seus 2.000 sócios-, diz
Ribeiro.
"Cobramos mensalidade de
0,5% do salário do aposentado, o
que dá na média uma contribuição de R$ 1 por mês. Mas a inadimplência atinge todo mês cerca
de 500 sócios."
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