São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice


MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

BC deve queimar US$ 10 bi para dólar cair, diz LCA

O Banco Central deveria despejar, de uma só tacada, uma enxurrada de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões no mercado à vista, para tentar quebrar essa espiral "altista" altamente especulativa do dólar.
A opinião é de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores Associados. Segundo ele, essa alta do dólar é basicamente uma bolha alimentada e retroalimentada pela sensação de pânico provocada pela crise global.
De acordo com o economista, há muito pouco ou nenhum fundamento na alta do dólar da semana passada, que saltou de cerca de R$ 2 para R$ 2,30. O fluxo cambial está positivo. Em setembro, ficou positivo em US$ 2,8 bilhões e continuou no azul nos primeiros dias de outubro.
Borges afirma que, mesmo se o Banco Central queimar US$ 10 bilhões, as reservas internacionais ainda ficarão muito próximas de US$ 200 bilhões, um valor ainda expressivo e que deixará o Brasil em condições favoráveis para atravessar a crise.
Se o Banco Central deixar tudo como está, os efeitos dessa alta do dólar sobre a economia serão muito negativos e certamente comprometerão o crescimento do país para 2009.
Pelos cálculos de Bráulio Borges, o dólar a R$ 2,30 implica uma inflação de 10% em 2009, o que vai obrigar o Banco Central a uma elevação drástica dos juros para fazer o índice voltar para os 4,5% do centro da meta em 2009.
Com isso, caso o dólar não recue, o país crescerá apenas 1,5% em 2009, pelas contas da LCA. "Seria submeter o Brasil a um "hard landing" (aterrissagem forçada)", diz o economista.
Para Borges, o Banco Central demorou a agir para conter a alta do dólar. Apenas na semana passada, a autoridade monetária começou a vender dólares à vista das reservas, muito tempo depois do início da escalada da moeda americana. E, mesmo assim, a atuação do BC tem sido tímida. "A ordem do dia do Banco Central agora é corrigir de forma agressiva a cotação do dólar", diz.
O economista afirma que não basta o BC vender dólares no mercado. Precisa fazer isso de forma agressiva e também a um valor muito mais baixo -perto de R$ 1,80- para forçar a queda da cotação da moeda norte-americana. "Num momento em que todos os países do mundo estão baixando os juros não faz sentido o Brasil subir juro em razão desse problema do câmbio. Seria o fim."

NA LINHA

Para Marcelo Mosci, presidente da GE para a América Latina, as empresas vivem um momento delicado no mundo todo. Mas, diz Mosci, se a China não cair a um patamar de crescimento muito abaixo de 7% e a Índia ficar com 5%, não haverá colapso. "Se alguém disser que a crise não vai afetar, não está prestando atenção." O Brasil, que entrou nas prioridades da GE na AL, como principal mercado, não deve perder o posto.

BASTIDORES DA CRISE

Antes da reunião dos países do G20, realizada no sábado em Washington, capital dos EUA, e presidida por Guido Mantega, o ministro da Fazenda do Brasil teve um encontro com Henry Paulson, secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Paulson já tinha tido outras reuniões, e o tempo sempre foi muito curto. Ao conversar com Mantega, o secretário norte-americano se mostrou muito tenso, extremamente humilde, pediu conselhos e não mediu o tempo. A crise é braba mesmo.

EMERGÊNCIA

Quando Mantega propôs que o FMI criasse uma linha especial de crédito de emergência para os países emergentes, o ministro das Finanças da Alemanha perguntou quem iria pagar a conta. Mantega respondeu: "Somos nós, emergentes, que sempre pagamos a conta, inclusive, deste prédio em que se realiza esta reunião".

CORDIALIDADE

O encontro de Mantega com o presidente George W. Bush foi bastante cordial, durante a reunião. O ministro defendeu que os países não pisassem o pé no freio e adotassem políticas anticíclicas. No final do encontro, Bush disse duas vezes a Mantega que gostava muito de Lula e que o Brasil iria sair mais forte da crise.

Crise deve afetar micro-transferências

Com a crise, as microtransferências de dinheiro do Brasil ao exterior devem cair, segundo Roger Ades, da ABMTransf (associação de empresas de microtransferência). A tendência era de alta, com US$ 410 milhões de janeiro a julho de 2008, ante US$ 253 milhões em 2007. O número é estimulado por estrangeiros vivendo no Brasil.
"Enquanto a situação aqui for melhor do que nos países de origem, as remessas não serão totalmente paralisadas." Já do exterior para o Brasil deve haver alta. "Com a alta do dólar, sobe a entrada. Quem tinha economias lá fora está mandando agora." Segundo Ades, o Banco Rendimento registrou, na primeira semana do mês, o equivalente às remessas de setembro ao Brasil.


Próximo Texto: Europa começa hoje a estatizar bancos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.