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MERCADO ABERTO
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
BC deve queimar US$ 10 bi para dólar cair, diz LCA
O Banco Central deveria despejar, de uma só tacada, uma
enxurrada de US$ 5 bilhões a
US$ 10 bilhões no mercado à
vista, para tentar quebrar essa
espiral "altista" altamente especulativa do dólar.
A opinião é de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA
Consultores Associados. Segundo ele, essa alta do dólar é
basicamente uma bolha alimentada e retroalimentada pela sensação de pânico provocada pela crise global.
De acordo com o economista,
há muito pouco ou nenhum
fundamento na alta do dólar da
semana passada, que saltou de
cerca de R$ 2 para R$ 2,30. O
fluxo cambial está positivo. Em
setembro, ficou positivo em
US$ 2,8 bilhões e continuou no
azul nos primeiros dias de outubro.
Borges afirma que, mesmo se
o Banco Central queimar US$
10 bilhões, as reservas internacionais ainda ficarão muito
próximas de US$ 200 bilhões,
um valor ainda expressivo e
que deixará o Brasil em condições favoráveis para atravessar
a crise.
Se o Banco Central deixar tudo como está, os efeitos dessa
alta do dólar sobre a economia
serão muito negativos e certamente comprometerão o crescimento do país para 2009.
Pelos cálculos de Bráulio
Borges, o dólar a R$ 2,30 implica uma inflação de 10% em
2009, o que vai obrigar o Banco
Central a uma elevação drástica dos juros para fazer o índice
voltar para os 4,5% do centro
da meta em 2009.
Com isso, caso o dólar não recue, o país crescerá apenas 1,5%
em 2009, pelas contas da LCA.
"Seria submeter o Brasil a um
"hard landing" (aterrissagem
forçada)", diz o economista.
Para Borges, o Banco Central
demorou a agir para conter a alta do dólar. Apenas na semana
passada, a autoridade monetária começou a vender dólares à
vista das reservas, muito tempo
depois do início da escalada da
moeda americana. E, mesmo
assim, a atuação do BC tem sido
tímida. "A ordem do dia do
Banco Central agora é corrigir
de forma agressiva a cotação do
dólar", diz.
O economista afirma que não
basta o BC vender dólares no
mercado. Precisa fazer isso de
forma agressiva e também a um
valor muito mais baixo -perto
de R$ 1,80- para forçar a queda
da cotação da moeda norte-americana. "Num momento
em que todos os países do mundo estão baixando os juros não
faz sentido o Brasil subir juro
em razão desse problema do
câmbio. Seria o fim."
NA LINHA
Para Marcelo Mosci, presidente da GE para a América Latina, as empresas vivem um
momento delicado no mundo todo. Mas, diz
Mosci, se a China não cair a um patamar de
crescimento muito abaixo de 7% e a Índia ficar com 5%, não haverá colapso. "Se alguém
disser que a crise não vai afetar, não está
prestando atenção." O Brasil, que entrou
nas prioridades da GE na AL, como principal
mercado, não deve perder o posto.
BASTIDORES DA CRISE
Antes da reunião dos países do G20, realizada no sábado
em Washington, capital dos EUA, e presidida por Guido
Mantega, o ministro da Fazenda do Brasil teve um encontro
com Henry Paulson, secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Paulson já tinha tido outras reuniões, e o tempo sempre
foi muito curto. Ao conversar com Mantega, o secretário
norte-americano se mostrou muito tenso, extremamente
humilde, pediu conselhos e não mediu o tempo. A crise é
braba mesmo.
EMERGÊNCIA
Quando Mantega propôs que o FMI criasse uma linha especial de crédito de emergência para os países emergentes, o ministro das Finanças da Alemanha perguntou quem iria pagar a conta. Mantega respondeu: "Somos nós, emergentes, que sempre pagamos a conta, inclusive, deste prédio em que se realiza esta reunião".
CORDIALIDADE
O encontro de Mantega
com o presidente George W.
Bush foi bastante cordial,
durante a reunião. O ministro defendeu que os países
não pisassem o pé no freio e
adotassem políticas anticíclicas. No final do encontro,
Bush disse duas vezes a
Mantega que gostava muito
de Lula e que o Brasil iria
sair mais forte da crise.
Crise deve afetar micro-transferências
Com a crise, as microtransferências de dinheiro
do Brasil ao exterior devem
cair, segundo Roger Ades, da
ABMTransf (associação de
empresas de microtransferência). A tendência era de
alta, com US$ 410 milhões de
janeiro a julho de 2008, ante
US$ 253 milhões em 2007. O
número é estimulado por estrangeiros vivendo no Brasil.
"Enquanto a situação aqui
for melhor do que nos países
de origem, as remessas não
serão totalmente paralisadas." Já do exterior para o
Brasil deve haver alta. "Com
a alta do dólar, sobe a entrada. Quem tinha economias lá
fora está mandando agora."
Segundo Ades, o Banco Rendimento registrou, na primeira semana do mês, o
equivalente às remessas de
setembro ao Brasil.
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