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Zona do euro segue modelo britânico
Pacote prevê recapitalização para melhorar liquidez e garante depósitos e empréstimos interbancários
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A recapitalização dos bancos
em dificuldade e as garantias
estatais para os empréstimos
interbancários seguem a linha
da solução para a crise adotada
pelo Reino Unido. O pacote britânico ao setor bancário estipulou uma ajuda de 50 bilhões de
libras esterlinas.
"Um ação conjunta é urgente
tendo em vista os problemas
persistentes do mercado interbancário e o contágio da crise
financeira na economia real",
diz o texto do comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu.
Durante a entrevista coletiva, o
presidente francês Nicolas Sarkozy enfatizou a necessidade
de apoiar os bancos. "Os bancos
precisam de dinheiro para que
eles possam continuar a emprestar para as empresas e para
o cidadão comum que deseja financiar o seu apartamento",
explicou.
Pouco antes do encontro dos
15 membros da zona do euro,
Sarkozy teve uma conversa
com o premiê britânico Gordon
Brown na manhã de ontem na
capital francesa. O Reino Unido
não adota a moeda única européia, mas possui a principal
praça financeira do continente
e um setor bancário que exibe
fragilidades na economia que
se mostrava uma das mais dinâmicas da União Européia.
A declaração final dos 15,
emitida ao término da reunião,
evitou citar números, mas deu
mais detalhes em relação às
ações em comum. Sarkozy disse ontem que a reunião, em si,
já havia sido um grande avanço
político. "Não foi simples organizar uma declaração comum
levando em consideração as
convicções diferentes de cada
membro", declarou.
A cúpula da zona do euro foi
inédita. Foi a primeira vez que
os chefes de Estado da região
lançaram uma decisão conjunta. Até então, apenas os ministros das finanças desses países
participavam das reuniões do
grupo. No entanto, o agravamento da crise na Europa fez
com que Sarkozy finalmente
conseguisse convencer os seus
parceiros a participar dessa cúpula excepcional.
À frente da União Européia
até janeiro de 2009, a França
organizou na semana passada
em Paris um encontro dos quatro países europeus membros
do G7 (o grupo das sete maiores
economias). O resultado foi
uma decepção para os mercados, porém. Nenhuma medida
concreta de apoio ao setor financeiro foi anunciada. Como
conseqüência, o pânico se instalou nas Bolsas de Valores européias. Em Paris, a Bolsa acumulou uma queda de 22,2% ao
longo da semana.
Obstáculos
Um dos principais entraves
para se alcançar o consenso
tem sido a política alemã. A
chanceler Angela Merkel mostrava-se reticente a um programa geral de salvamento de bancos europeus. O Estado alemão
não estava disposto a pagar a
conta da quebra do setor bancário de outros países.
Na semana passada, no encontro do G4 (Alemanha, Reino Unido, França e Itália),
Merkel se opôs à proposta de
um plano Paulson à européia,
mesmo depois de uma semana
de forte queda nas Bolsas alemãs. No entanto, discretamente, o governo já preparava um
pacote de ajuda aos bancos nacionais estimado entre 300
bilhões e 400 bilhões, segundo a imprensa alemã.
Portugal também anunciou
uma ajuda ao setor bancário de
20 bilhões.
Nesta segunda-feira, a maioria dos países divulgará os detalhes dos programas de salvamento de suas economias. Na
França, a ministra da Economia, Christine Lagarde, enfatizou que a entrada do Estado no
capital dos bancos não se aplicaria ao país. Isso porque, na
sua avaliação, "o sistema bancário francês está entre os mais
sólidos da Europa".
Bancos na mira
A decisão conjunta dos 15
países está estruturada em dois
pilares.
Primeiro, garantir liquidez
para as instituições financeiras
e uma nacionalização parcial se
necessário. Os Estados membros irão garantir os créditos
interbancários por um período
temporário até 31 de dezembro
de 2009. Essa medida visa a
atingir o centro da crise de confiança dos mercados. Por medo
de falências dos seus pares, os
bancos praticamente pararam
de conceder empréstimos entre si, o que faz secar o crédito
para o resto da economia.
Os 15 comprometeram-se
também a impedir que os grandes bancos quebrem. Para isso,
poderão lançar mão de operações de recapitalização. Para os
bancos contemplados, porém,
haverá contrapartidas. Os governos poderão intervir na remuneração dos seus executivos
dessas instituições e ainda supervisionar a contabilidade dos
bancos.
O plano será apresentado aos
chefes de Estado e de governo
dos 27 países da União Européia nos próximos dias 15 e 16
em Bruxelas. A próxima etapa,
indicou Sarkozy, será a apresentação das medidas aos EUA.
O presidente francês tem insistido na "refundação do capitalismo". "Nós iremos convencer nossos amigos americanos
sobre a necessidade de uma cúpula internacional para refundar o sistema financeiro internacional."
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