São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Zona do euro segue modelo britânico

Pacote prevê recapitalização para melhorar liquidez e garante depósitos e empréstimos interbancários

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A recapitalização dos bancos em dificuldade e as garantias estatais para os empréstimos interbancários seguem a linha da solução para a crise adotada pelo Reino Unido. O pacote britânico ao setor bancário estipulou uma ajuda de 50 bilhões de libras esterlinas.
"Um ação conjunta é urgente tendo em vista os problemas persistentes do mercado interbancário e o contágio da crise financeira na economia real", diz o texto do comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu. Durante a entrevista coletiva, o presidente francês Nicolas Sarkozy enfatizou a necessidade de apoiar os bancos. "Os bancos precisam de dinheiro para que eles possam continuar a emprestar para as empresas e para o cidadão comum que deseja financiar o seu apartamento", explicou.
Pouco antes do encontro dos 15 membros da zona do euro, Sarkozy teve uma conversa com o premiê britânico Gordon Brown na manhã de ontem na capital francesa. O Reino Unido não adota a moeda única européia, mas possui a principal praça financeira do continente e um setor bancário que exibe fragilidades na economia que se mostrava uma das mais dinâmicas da União Européia.
A declaração final dos 15, emitida ao término da reunião, evitou citar números, mas deu mais detalhes em relação às ações em comum. Sarkozy disse ontem que a reunião, em si, já havia sido um grande avanço político. "Não foi simples organizar uma declaração comum levando em consideração as convicções diferentes de cada membro", declarou.
A cúpula da zona do euro foi inédita. Foi a primeira vez que os chefes de Estado da região lançaram uma decisão conjunta. Até então, apenas os ministros das finanças desses países participavam das reuniões do grupo. No entanto, o agravamento da crise na Europa fez com que Sarkozy finalmente conseguisse convencer os seus parceiros a participar dessa cúpula excepcional.
À frente da União Européia até janeiro de 2009, a França organizou na semana passada em Paris um encontro dos quatro países europeus membros do G7 (o grupo das sete maiores economias). O resultado foi uma decepção para os mercados, porém. Nenhuma medida concreta de apoio ao setor financeiro foi anunciada. Como conseqüência, o pânico se instalou nas Bolsas de Valores européias. Em Paris, a Bolsa acumulou uma queda de 22,2% ao longo da semana.

Obstáculos
Um dos principais entraves para se alcançar o consenso tem sido a política alemã. A chanceler Angela Merkel mostrava-se reticente a um programa geral de salvamento de bancos europeus. O Estado alemão não estava disposto a pagar a conta da quebra do setor bancário de outros países.
Na semana passada, no encontro do G4 (Alemanha, Reino Unido, França e Itália), Merkel se opôs à proposta de um plano Paulson à européia, mesmo depois de uma semana de forte queda nas Bolsas alemãs. No entanto, discretamente, o governo já preparava um pacote de ajuda aos bancos nacionais estimado entre 300 bilhões e 400 bilhões, segundo a imprensa alemã.
Portugal também anunciou uma ajuda ao setor bancário de 20 bilhões.
Nesta segunda-feira, a maioria dos países divulgará os detalhes dos programas de salvamento de suas economias. Na França, a ministra da Economia, Christine Lagarde, enfatizou que a entrada do Estado no capital dos bancos não se aplicaria ao país. Isso porque, na sua avaliação, "o sistema bancário francês está entre os mais sólidos da Europa".

Bancos na mira
A decisão conjunta dos 15 países está estruturada em dois pilares.
Primeiro, garantir liquidez para as instituições financeiras e uma nacionalização parcial se necessário. Os Estados membros irão garantir os créditos interbancários por um período temporário até 31 de dezembro de 2009. Essa medida visa a atingir o centro da crise de confiança dos mercados. Por medo de falências dos seus pares, os bancos praticamente pararam de conceder empréstimos entre si, o que faz secar o crédito para o resto da economia.
Os 15 comprometeram-se também a impedir que os grandes bancos quebrem. Para isso, poderão lançar mão de operações de recapitalização. Para os bancos contemplados, porém, haverá contrapartidas. Os governos poderão intervir na remuneração dos seus executivos dessas instituições e ainda supervisionar a contabilidade dos bancos.
O plano será apresentado aos chefes de Estado e de governo dos 27 países da União Européia nos próximos dias 15 e 16 em Bruxelas. A próxima etapa, indicou Sarkozy, será a apresentação das medidas aos EUA.
O presidente francês tem insistido na "refundação do capitalismo". "Nós iremos convencer nossos amigos americanos sobre a necessidade de uma cúpula internacional para refundar o sistema financeiro internacional."


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