São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Reino Unido injeta capital em 4 bancos

Governo deve se tornar sócio majoritário do RBS e do HBOS; medida também deve beneficiar Lloyds TSB e Barclays

Mercado estima que capitalização de grandes bancos pelo Tesouro possa chegar a 75 bilhões de libras, o equivalente a R$ 290,6 bi

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

A capacidade da atual crise de tornar insuficientes em poucas horas pacotes que pareciam salvadores será provada mais uma vez hoje, quando o governo do Reino Unido deve anunciar uma capitalização (na prática, uma estatização) maior que a planejada de quatro dos maiores bancos do país.
A compra de ações, que varia de 35 bilhões de libras (US$ 59,5 bilhões ou R$ 135,6 bilhões) a até 50 bilhões de libras (US$ 84,9 bilhões, R$ 193,7 bilhões) por algumas estimativas que circulavam ontem à noite, deve transformar o governo em sócio majoritário de ao menos dois bancos, o RBS (Royal Bank of Scotland) e o HBOS (Halifax Bank of Scotland).
Os detalhes serão anunciados hoje, antes da abertura dos mercados da Europa. Em Londres, se discutia ontem à noite suspender a negociação das ações por algum tempo, para que os investidores consigam assimilar as novas medidas.
A idéia inicial do governo, quando o megapacote foi lançado, há quatro dias, era colocar 25 bilhões de libras à disposição para comprar ações de alguns dos oito maiores bancos do país e deixar mais 25 bilhões à espera. Agora, as estimativas são que a capitalização dos bancos por meio de fundos do Tesouro britânico possa chegar a 75 bilhões de libras (US$ 127,4 bilhões ou R$ 290,6 bilhões).
Em conversas que avançaram na madrugada de hoje, o novo total do pacote deixou claro que a situação dos bancos britânicos era mais delicada do que se pensava. "A City [a Wall Street londrina] jamais viu nada parecido", escreveu em seu blog o editor de economia da BBC, Robert Peston.
Só no caso do RBS, o governo pode comprar ao menos 15 bilhões de libras em ações, o que vai dar à gestão de Gordon Brown o controle sobre o banco (que tinha valor de 12 bilhões na sexta-feira). O HBOS, que valia 6,5 bilhões de libras quando os mercados fecharam, deve receber em torno de 10 bilhões.
Até bancos tidos como mais sólidos foram obrigados a recorrer ao socorro do governo. O Lloyds TSB deve receber 5 bilhões de libras, enquanto o Barclays pode levar 9 bilhões de libras. A fusão entre o Lloyds e o HBOS, decidida no mês passado, deve ser renegociada.
Nem todos os grandes bancos dizem precisar do socorro. O HSBC e o Abbey (do Santander) elogiaram a iniciativa, mas diziam não precisar da ajuda.
O plano anunciado pelo governo na quinta-feira previa também a compra de ações preferenciais (sem direito a voto), mas agora ao menos parte delas deve ser de ordinárias (com direito a voto), o que vai colocar representantes do governo na direção dos bancos. Com isso, deve ficar mais fácil implementar algumas das condições impostas pelo governo, como limites no salário dos executivos e empréstimos para pequenos negócios e donos de imóveis.
Os acionistas dos bancos também poderão comprar os papéis que o governo deve adquirir, mas no atual cenário o mais provável é que quase tudo acabe em poder do Estado.
A injeção de "dinheiro dos contribuintes", como a mídia britânica se refere ao plano, é o primeiro dos três pilares de um megapacote de 500 bilhões de libras lançado pelo governo. Além da recapitalização, o governo decidiu fornecer garantias para até 250 bilhões de libras em novos empréstimos entre os bancos. Também colocou 200 bilhões de libras à disposição das instituições, para refinanciarem suas dívidas.


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