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Vinícolas vivem boom de investimentos
De olho no mercado de espumantes, empresas do RS investem em tecnologia e na ampliação de unidades industriais
Enquanto as vendas
de espumantes nacionais cresceram 20% neste ano,
o consumo da bebida importada diminuiu
ALESSANDRA KIANEK
ENVIADA ESPECIAL À SERRA GAÚCHA (RS)
O espumante brasileiro está
borbulhando: conquistou o
consumidor no país e ganhou
projeção internacional. De olho
no crescimento desse mercado,
as vinícolas do Rio Grande do
Sul, Estado responsável pela
produção de 90% dos vinhos
brasileiros, investem em tecnologia, na modernização dos
equipamentos e na ampliação
de unidades industriais.
De acordo com levantamento feito pela Folha, mais de
R$ 40 milhões estão sendo investidos pelas vinícolas neste
ano. Após empenho na fabricação de vinhos tintos e brancos,
agora o foco está nos espumantes e também no suco de uva.
O espumante brasileiro é
considerado de excelente qualidade e tem recebido premiações no mundo todo. Um dos
dados que mostram essa melhora da qualidade da bebida é
o ritmo das vendas. A comercialização no mercado interno
cresceu 20% neste ano até
agosto sobre igual período de
2008, enquanto o consumo de
espumantes importados, mesmo com a queda do dólar, acumula retração de 22% até junho -último dado disponível.
Na opinião de Mauro Zanus,
pesquisador da Embrapa Uva e
Vinho e diretor de degustação
da ABE (Associação Brasileira
de Enologia), os espumantes
brasileiros já despontam com
boa imagem no mercado e têm
boa competitividade ante os
importados, diferentemente
dos vinhos tintos. Devido a essa
vantagem dos espumantes, "a
indústria percebe esse movimento e direciona os investimentos", diz Zanus.
De olho nesse consumo crescente e em busca de novos
mercados, o Grupo Famiglia
Valduga criou a Domno, empresa voltada principalmente
para a fabricação de espumantes, pelo método "charmat"
(em que a bebida envelhece em
tanques de aço inoxidável e o
custo é mais baixo que no método "champenoise", o mais
tradicional, em que o envelhecimento é feito na garrafa). A
nova linha de espumantes foi
batizada de Ponto Nero.
Segundo Jones Valduga, o
administrador da Domno, os
investimentos da empresa para
montar a fábrica e operar, que
incluíram a compra das antigas
instalações da Domecq, foram
de R$ 10 milhões.
Butique
Já a Cooperativa Vinícola
Aurora realiza um projeto audacioso. Ela está transformando o seu centro tecnológico de
viticultura, com vinhedos experimentais, no distrito de Pinto Bandeira, em Bento Gonçalves, em uma vinícola-butique
para a elaboração exclusiva de
espumantes pelo método
"champenoise". Serão 15 hectares de parreirais exclusivos de
uvas chardonnay e pinot noir.
O diretor-geral da Aurora,
Alem Guerra, diz que estão sendo investidos R$ 6 milhões nas
adequações do vinhedo e na
instalação de equipamentos.
O vinho ainda é o grande volume de produção da cooperativa. Mas Guerra vê uma tendência cada vez maior de o brasileiro passar a consumir mais
espumante. "O principal promotor do vinho brasileiro tanto
no mercado interno como no
externo será o espumante."
Apesar de estarem crescendo, os embarques brasileiros
ainda são pequenos se comparados aos de outros exportadores. Atualmente, os produtos
brasileiros podem ser encontrados em mais de 20 países.
A Vinícola Miolo, que acaba
de comprar a Almadén, também investe no mercado de espumantes. Ela aplicou R$ 5,5
milhões em equipamentos para
a fabricação da bebida pelo método "champenoise". Todo o
processo será automatizado.
Dois processos que são feitos
manualmente serão acelerados: o "remuage" (girar a garrafa para levar a levedura para a
boca do recipiente), que será
substituído por máquinas chamadas giropaletas; e o "dégorgement" (processo que expulsa
a borra congelada), que também será automatizado.
Para ter uma ideia do efeito
dessa automação, enquanto no
processo manual se levam de
30 a 40 dias para a bebida ficar
pronta, no novo serão apenas
três dias, no cálculo da vinícola.
Segundo Adriano Miolo, enólogo e diretor técnico da vinícola, a empresa é a primeira a ter
esse tipo de equipamento no
Brasil. Com esse investimento
em tecnologia, dentro dos próximos cinco anos, a vinícola irá
quase triplicar a produção de
espumante pelo método
"champenoise", para 1,5 milhão
de garrafas, diz o enólogo.
A aposta da vinícola não é só
na demanda crescente, mas
também na busca do consumidor por uma bebida de qualidade superior. "O brasileiro vai
passar a notar a diferença entre
um espumante feito pelo método "charmat" e outro pelo
"champenoise'", diz Adriano
Miolo. Os tradicionais champanhes franceses são feitos pelo
método "champenoise".
O custo de produção de um
espumante feito pelo método
"champenoise" é de 30% a 50%
maior que o pelo "charmat".
Inovação
Seguindo a linha de inovação
tecnológica, a Vinícola Garibaldi investiu R$ 4 milhões principalmente na produção de espumantes, com a compra de equipamentos para envase, armazenamento e filtração.
Um dos equipamentos mais
modernos adquiridos neste
ano pela vinícola é o filtro tangencial, que tem um sistema de
filtragem que melhora a qualidade dos espumantes.
Segundo o diretor-presidente da Vinícola Garibaldi, Oscar
Ló, a demanda crescente pelo
produto nacional vem da conscientização do consumidor. "O
brasileiro está começando a conhecer melhor o vinho nacional. Ele está percebendo que
nem todo importado é bom."
Já a Vinícola Salton está investindo no aumento das instalações, incluindo obras civis,
equipamentos e tancagem. Até
o fim deste ano, serão empregados R$ 15 milhões para a expansão da produção de espumante,
suco e vinho fino, segundo Antônio Salton, superintendente
da vinícola.
Com o foco no suco de uva
natural, a Vinícola Perini está
ampliando a produção. "Não
estávamos preparados para
atender a demanda tão grande
de suco e espumante. Agora estamos adequando a nossa capacidade", diz Franco Onzi Perini, gerente comercial.
Segundo ele, a empresa irá
investir neste semestre R$ 1,5
milhão em instalações, como
tanques, e tecnologias para a fabricação de suco de uva. Paralelamente, a vinícola espera dobrar a capacidade de produção
de espumante no próximo ano.
No campo
Fora das unidades industriais, as vinícolas demonstram
estar cada vez mais preocupadas com a qualidade das uvas. A
Casa Valduga é uma das que estão investindo nos parreirais.
A vinícola está importando
da França mudas certificadas
da variedade merlot -um investimento de R$ 400 mil neste
ano, segundo João Valduga. A
empresa também aplicou R$ 1
milhão na infraestrutura do
restaurante e da pousada.
A jornalista ALESSANDRA KIANEK
viajou a convite do Ibravin
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