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CABO ELEITORAL
Consumo das famílias compensará queda no comércio externo
Demanda interna forte
será motor da economia
DA REPORTAGEM LOCAL
A forte expansão da demanda
interna será o motor da economia
em 2006 e compensará a perda de
fôlego do setor externo. A demanda interna é composta pelo consumo das famílias, pelos gastos do
governo e pelos investimentos.
E o que vai puxar a demanda,
dizem os analistas, será o crescimento recorde do consumo das
famílias: entre 3,8%, segundo
projeções da LCA Consultores, e
5,1%, segundo a UAM (Unibanco
Asset Management).
"Será a maior taxa de expansão
desde 1995, quando chegou a
8,7%", diz Alexandre Matias, economista-chefe da UAM. Se confirmada a projeção da LCA, será
compatível com o crescimento
verificado em 2000.
Para este ano, as projeções são
uma alta de 2,5% no consumo.
O combustível de 2006, segundo
Matias, será o aumento do nível
de emprego, que eleva a massa salarial, e a recuperação da renda. O
desemprego terá em 2006 a menor taxa média anual desta década -de 9,5%, segundo projeção
da Austin Rating.
Os analistas trabalham com
uma taxa de desemprego de um
dígito -o que não ocorre desde
abril de 1995, quando a taxa média anualizada foi de 9,9%, segundo dados do Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco.
A renda será encorpada pelo
crescimento do rendimento médio do pessoal ocupado e pela recuperação do poder de compra
do salário mínimo.
Segundo cálculos da MS Consult, Lula entregará ao final de seu
mandato o maior salário mínimo,
em dólar, desde 1994: US$ 126,61.
"E sem "truques" na taxa de câmbio", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
A estimativa baseia-se no valor
do salário mínimo previsto para
2006 no Orçamento da União,
convertido a uma taxa média de
câmbio projetada em R$ 2,48 para
2006. O valor médio do salário
mínimo, em dólar, no governo
Lula será 37,5% superior à média
verificada no segundo mandato
de Fernando Henrique Cardoso,
quando passou a vigorar a política de câmbio flutuante. "Só esse
aumento real do mínimo já causará um impacto brutal no consumo", observa Simino.
Renda em dólar
Além disso, o rendimento médio real da população também será o mais alto em dólar desde
1999, quando ocorreu a liberação
do câmbio -de US$ 429,49.
"O consumo das famílias deve
crescer em 2006 também por conta da queda da inflação e do juro
real", observa Solange Srour Chachamovitz, economista-chefe da
Mellon Global Investments Brasil.
Segundo suas projeções, a taxa
média real de juros deverá chegar
a 10% no ano que vem -hoje, está em 13%. "Com isso, devem
crescer os investimentos e muitos
projetos serão desengavetados
pelas empresas", diz ela.
Para Octavio de Barros, do Bradesco, esse processo já começou.
O consumo de máquinas e equipamentos continua crescente, e a
taxa de investimento (formação
bruta de capital fixo) deverá chegar a 20% do PIB neste ano e a
20,5% em 2006, segundo suas
projeções. Em 2003, pior ano do
atual governo, a taxa de investimento foi de 17,78% do PIB.
Segundo Barros, apesar da crise
política, do juro alto e do câmbio
valorizado, "ninguém tirou o pé
[do acelerador]".
Não há grandes projetos em andamento, como novas fábricas.
Mas as empresas continuaram
neste ano a fazer o que ele denomina de "investimento incremental": comprando mais máquinas e
modernizando a produção.
Outro fator que deve impulsionar a demanda interna em 2006
será o aumento dos gastos do governo. "Em anos eleitorais, os governos buscam expandir a atividade econômica. Isso pode ser
feito via política monetária, com
redução dos juros, ou via política
fiscal, aumentando gastos com
programas de transferência de
renda, como o Bolsa-Família", diz
Carlos Eduardo Gonçalves, economista da consultoria MCM.
O governo também pode estimular a economia ao aumentar
seus investimentos. "Esperamos
uma aceleração do investimento
do setor público no ano que
vem", diz Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. Segundo ele, se o governo conseguir
fechar o ano com um superávit
primário de 4,9% do PIB, terá
uma folga para investir em 2006.
O Orçamento da União para
2006 dá uma pista de onde o governo irá apostar, depois de forte
contenção dos investimentos nos
três anos de mandato de Lula.
Os ministérios voltados para a
área social e infra-estrutura vão
aumentar de 13,98%, neste ano,
para 16,36%, no ano que vem, sua
participação no orçamento global. As verbas destinadas ao Ministério da Integração Nacional
devem crescer 44,4%; as de Cidades, 40%; as de Desenvolvimento
Social e Fome, 32,4%; Desenvolvimento Agrário, mais 44%. Os recursos destinados a esses ministérios totalizam R$ 13,1 bilhões.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, "a expansão da demanda interna deverá compensar o menor crescimento do setor externo em 2006".
As exportações devem crescer entre 4,1%, segundo projeção da
Unibanco Asset Management, e
5,4%, segundo o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
(SANDRA BALBI)
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