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VINICIUS TORRES FREIRE
O petróleo e a besteira são nossos
Lula delira com Opep e "Bolsa Gasosa", lobby vulgar ataca o governo e debate chega a um nível abaixo da camada de sal
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SERIA DIVERTIDO ver Lula erguer
um brinde a Deus/Alá diante
de um estuporado muçulmano
petrolífero da Opep, quiçá um saudita da casa real, daqueles de expressão
pétrea, de areia vitrificada. Pena que
o Itamaraty impediria tal gesto, a
saudação alcoólica à dádiva divina do
óleo, à altura dos comentários finais
de Lula sobre a Cúpula Ibero-Americana, de inteligência inferior à de um
comercial de cerveja. O xeque-presidente aceitou o desafio do "clown"
sinistro da Venezuela, Hugo Chávez,
e prometeu uma espécie de Bolsa
Gasosa para os pobres do mundo,
pois "logo, logo, o Brasil vai participar da Opep" e "vamos brigar para
baixar o preço".
Faz tempo que o hábito presidencial do disparate deixou de parecer
bizarro para provocar apenas o torpor desdenhoso do tédio. Mas o despropósito luliano vez e outra ainda
causa irritação, pois transtorna as escassas chances de debate público racional, mesmo quando seu governo toma decisões corretas. Foi o caso da
suspensão da venda do direito de explorar petróleo nas novas e talvez
enormes reservas do litoral.
Excluir as novas reservas do próximo leilão de áreas de exploração de
petróleo foi uma decisão acertada.
Além de não ser conhecido o potencial das reservas, não se conhecem as
suas conexões (se se trata de um único imenso campo etc.), não há política para o ritmo de extração de petróleo naquelas áreas e, enfim, as reservas são da União, ponto.
Os lobistas que criticaram a decisão oficial recorreram ao clichê vulgar e automático ("quebra de contratos", "incerteza", "ameaça ao investimento privado"). Mas até quem estudou petróleo com o Visconde de Sabugosa, de Monteiro Lobato, poderia argumentar que os investimentos e tecnologia de Petrobras e
cia., que gastaram os tubos para descobrir petróleo literalmente no
quinto dos infernos, poderiam ser
vampirizados por empresas que despenderiam uns trocados para comprar a concessão de explorar petróleo na área vizinha às da estatal.
Se o governo e o império da Petrobras pretendem estatizar todo o negócio, são outros quinhentos (maus
quinhentos). Por ora, houve apenas
atitude prudente e razoável de repensar as concessões. Mas os lobistas choram uns US$ 4 milhões que as
petroleiras interessadas no leilão teriam investido em estudos etc., que
alegam desperdiçados agora que o
governo suspendeu a concessão das
reservas boca-rica. Oh, dó! Dá até
vontade de fazer uma vaquinha para
compensar Chevron, Repsol, ExxonMobil ou quaisquer que fossem as
grandes irmãs interessadas.
As viúvas do tucanato e/ou lobistas ainda reclamam do atropelamento da agência reguladora do setor, a ANP, pelo governo. Supondo
que tal coisa tivesse ocorrido (e não
uma decisão de governo legítima),
onde estavam nossos amigos da
concorrência, do mercado e da regulação independente quando FHC
transformou a Aneel num dois de
paus? Foi o que fez ao criar o ministério do apagão, a "junta" que pôs esparadrapo na mãe de todas as lambanças administrativas, o racionamento elétrico. Onde estavam
quando o governo FHC politizou a
privatização das teles, abjurando a fé
em leilões de desestatização, que seriam por si só capazes de dar conta
de preço e concorrência justa?
vinit@uol.com.br
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