São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INDÚSTRIA

Pesquisa revela que empresários não esperam mudanças significativas

Primeiro ano de Lula não entusiasma as empresas

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor produtivo não acredita que as principais variáveis macroeconômicas apresentem mudanças significativas no primeiro ano do governo Lula. A despeito desse cenário, as empresas estimam que conseguirão produzir mais, aumentar as exportações e os lucros e que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2003 vai crescer mais do que em 2002.
Em síntese, foi o que apontou pesquisa divulgada pela consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, que possui escritórios em 140 países e atua no Brasil desde 1911.
De acordo com a pesquisa, a taxa de inflação do IPCA (a inflação oficial, calculada pelo IBGE), será de 11% no próximo ano. Entre janeiro e novembro deste ano, a alta acumulada do IPCA chega a 10,22%. O mercado financeiro aposta que o fechamento de 2002 será na casa de 11%.
Ao serem indagados sobre a expectativa da taxa de juros em 2003, 37% dos executivos apostaram que ela ficará nos mesmos níveis deste ano. Para 49%, deverá diminuir, enquanto apenas 14% acreditam que subirá mais.
Foram enviados questionários às mil maiores empresas do país (nacionais e estrangeiras). As que responderam representam faturamento total de R$ 95 bilhões. Do grupo, 52% são controladas por capital estrangeiro.

Política cambial
Sobre o comportamento do câmbio, 38% dos empresários afirmam que o real deverá desvalorizar-se em relação ao dólar em percentuais superiores à inflação. Para 30%, a desvalorização acompanhará a inflação. E 32% estimam que será em níveis (nominais) inferiores à inflação.
A pesquisa revelou que as empresas têm uma expectativa ambígua quanto ao governo Lula. Primeiro porque consideram que o governo priorizará aspectos considerados chaves para suas áreas de atuação: incentivo à produção agrícola e à produção industrial. Ao mesmo tempo, são céticos em relação ao sucesso do futuro governo ao tratar da política cambial.
Quando indagados sobre o incentivo à produção industrial, 63% disseram ter boas expectativas sobre a atuação do gabinete petista. Percentual praticamente igual aos 62% que têm boas perspectivas de que a agricultura estará entre as prioridades do novo governo. Educação e saúde também foram citadas como áreas que deverão ser beneficiadas.
O mesmo otimismo não existe quando o assunto é a política cambial. Apenas 1% do empresariado diz que o governo terá ótima atuação nesse campo. Para a maioria (50% dos entrevistados), o desempenho será apenas regular. Outros 28% o prevêem como bom. E não desprezíveis 17% apostam que o PT será malsucedido nesse item. ""Como ainda não eram conhecidos os nomes da equipe econômica, essa incerteza pode estar refletida na pesquisa", disse Edgar Jabbour, sócio-diretor da Deloitte.

Reformas e produção
Na lista do que deveriam ser as prioridades do novo governo, em um questionário de múltiplas respostas, a reforma tributária despontou com 88% das citações.
Em seguida, apareceram crescimento econômico (65%), reforma da Previdência (62%), controle da inflação (53%), incentivo a investimentos que gerem empregos (51%) e, por fim, incentivo às exportações (50%). A maioria (68%) não prevê mudança na carga tributária em 2003.
Sobre as formas com as quais pretendem financiar seus investimentos em 2003, 68% das empresas responderam que o farão com recursos próprios. Outras 31% pretendem recorrer a financiamentos no mercado interno para se expandir e 22% vêem nos bancos oficiais uma fonte de recursos para possíveis investimentos.
Entre as empresas estrangeiras, 66% afirmaram que continuarão a investidor no Brasil, enquanto 30% disseram não ter nenhum plano de investimento a curto prazo. Somente 4% disseram pretender desinvestir.
Os lucros deste ano, aponta a pesquisa, aumentaram em relação aos de 2001 em 49% das empresas consultadas. Diminuíram em 35% delas e, em 16%, se mantiveram no mesmo nível do ano passado.
A grande maioria (74%) prevê que conseguirá obter maiores lucros em 2003. Expectativa que se confirma quando 55% dos consultados respondem que acreditam que vão utilizar mais de 80% da capacidade produtiva instalada ao longo do ano.

Exportação, a saída
Aparentemente, as empresas vislumbram somente uma alternativa a curto prazo para verem cumpridos seus planos de aumentar os lucros e a produção. A saída, dizem, são as exportações.
De acordo com a pesquisa, somente uma de cada quatro empresas consultadas não realiza operações de comércio exterior: 60% são exportadoras e 62% importam mercadorias.
Os empresários defendem uma política de prioridades no mercado exterior oposta à anunciada pelo futuro governo. Para 39% deles, a Alca será o bloco econômico que mais benefícios trará ao Brasil. Por isso, 87% disseram ser favoráveis à sua criação.


Texto Anterior: Luís Nassif: Um novo paradigma para o BC
Próximo Texto: Indústria paulista considera alta chance de descontrole da inflação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.