São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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CRISE NO AR

Fundação Ruben Berta também recebeu a recomendação de não aceitar o acordo dos credores para reescalonar dívida

Ministério Público propõe venda da Varig


LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Ministério Público gaúcho recomendou à Fundação Ruben Berta não aceitar o memorando de entendimento com os credores proposto no mês passado para ajudar a Varig, empresa que controla, a pagar suas dívidas. Além disso, defendeu a venda da companhia aérea.
O curador de fundações do Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Ziomkowski, disse ter recomendado a rejeição do documento à Ruben Berta, que controla 87% do capital votante e 55% do capital total da Varig.
Autorizou-a também a vender o controle. Isso, segundo ele, permitiria que algum grupo recuperasse a empresa. ""Seria uma solução para o problema", afirma.
Ziomkowski, que aborda o assunto com muita cautela e evita entrar no seu mérito, atribui ao governo federal a responsabilidade pelo que ocorre na Varig, especialmente em razão dos planos econômicos lançados até hoje. Somam-se a isso a situação do câmbio e a atual crise da aviação mundial.

"Recompensa"
""O problema da Varig não é de má gestão. Ela tem uma ação contra a União de cerca de R$ 2 bilhões, por perdas causadas pelos planos econômicos", afirmou, explicando que os congelamentos de tarifas foram nocivos à empresa.
""O ideal seria o governo federal reconhecer os prejuízos por ele causados."
A dívida da Varig, até setembro deste ano, era de US$ 764 milhões (cerca de R$ 2,90 bilhões pela cotação do dólar ontem).
Caso o governo federal preste algum tipo de auxílio à Varig, não será, segundo o promotor, uma ajuda, mas sim uma ""recompensa" à empresa.
Ziomkowski diz concordar com o teor do que a fundação sustentou ao não aceitar o plano proposto para consolidar uma dívida de US$ 118 milhões com pagamento até 30 de novembro deste ano, durante assembléia realizada em Porto Alegre.
Os motivos da fundação: não haver previsão de como a dívida será honrada; não haver indicativo de ingresso de recursos novos; ocorrer o reconhecimento da inadimplência sem discussão de valores; existir privilégio a alguns credores em detrimento de outros; e não haver oferecimento de qualquer garantia do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a liberação de recursos destinados à capitalização da empresa.

Problemas desde 86
""Os problemas atuais do transporte aéreo brasileiro datam do congelamento das tarifas em 1986 (Plano Cruzado), com a acumulação de prejuízos incorridos pela defasagem entre preço de venda e custo de operação", segundo a fundação.
Isso resultou, segundo a Ruben Berta, na seguinte situação: deterioração do desempenho econômico-financeiro das empresas (prejuízos); incapacidade de geração de recursos próprios; erosão do capital circulante líquido; aumento sensível do nível de endividamento; alienação de ativos produtivos; e deterioração da estrutura de capital da indústria em seu conjunto (descapitalização).
A Ruben Berta, além da Varig, controla outras empresas, como a Companhia Tropical de Hotéis, a VEM (Varig Engineering & Maintenance), a Rio-Sul, a Sata (Serviços Auxiliares de Transportes Aéreos) e a Nordeste. Presta serviços médicos, odontológicos e de alimentação a 120 mil pessoas. ""Ela sobrevive sem a Varig. Faz 12 anos que a Varig não dá resultado positivo", diz o curador.


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