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CRISE NO AR
Fundação Ruben Berta também recebeu a recomendação de não aceitar o acordo dos credores para reescalonar dívida
Ministério Público propõe venda da Varig
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O Ministério Público gaúcho recomendou à Fundação Ruben
Berta não aceitar o memorando
de entendimento com os credores
proposto no mês passado para
ajudar a Varig, empresa que controla, a pagar suas dívidas. Além
disso, defendeu a venda da companhia aérea.
O curador de fundações do Rio
Grande do Sul, Luiz Carlos Ziomkowski, disse ter recomendado a
rejeição do documento à Ruben
Berta, que controla 87% do capital votante e 55% do capital total
da Varig.
Autorizou-a também a vender o
controle. Isso, segundo ele, permitiria que algum grupo recuperasse a empresa. ""Seria uma solução para o problema", afirma.
Ziomkowski, que aborda o assunto com muita cautela e evita
entrar no seu mérito, atribui ao
governo federal a responsabilidade pelo que ocorre na Varig, especialmente em razão dos planos
econômicos lançados até hoje.
Somam-se a isso a situação do
câmbio e a atual crise da aviação
mundial.
"Recompensa"
""O problema da Varig não é de
má gestão. Ela tem uma ação contra a União de cerca de R$ 2 bilhões, por perdas causadas pelos
planos econômicos", afirmou, explicando que os congelamentos
de tarifas foram nocivos à empresa.
""O ideal seria o governo federal
reconhecer os prejuízos por ele
causados."
A dívida da Varig, até setembro
deste ano, era de US$ 764 milhões
(cerca de R$ 2,90 bilhões pela cotação do dólar ontem).
Caso o governo federal preste
algum tipo de auxílio à Varig, não
será, segundo o promotor, uma
ajuda, mas sim uma ""recompensa" à empresa.
Ziomkowski diz concordar com
o teor do que a fundação sustentou ao não aceitar o plano proposto para consolidar uma dívida de
US$ 118 milhões com pagamento
até 30 de novembro deste ano, durante assembléia realizada em
Porto Alegre.
Os motivos da fundação: não
haver previsão de como a dívida
será honrada; não haver indicativo de ingresso de recursos novos;
ocorrer o reconhecimento da inadimplência sem discussão de valores; existir privilégio a alguns
credores em detrimento de outros; e não haver oferecimento de
qualquer garantia do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a
liberação de recursos destinados à
capitalização da empresa.
Problemas desde 86
""Os problemas atuais do transporte aéreo brasileiro datam do
congelamento das tarifas em 1986
(Plano Cruzado), com a acumulação de prejuízos incorridos pela
defasagem entre preço de venda e
custo de operação", segundo a
fundação.
Isso resultou, segundo a Ruben
Berta, na seguinte situação: deterioração do desempenho econômico-financeiro das empresas
(prejuízos); incapacidade de geração de recursos próprios; erosão
do capital circulante líquido; aumento sensível do nível de endividamento; alienação de ativos produtivos; e deterioração da estrutura de capital da indústria em seu
conjunto (descapitalização).
A Ruben Berta, além da Varig,
controla outras empresas, como a
Companhia Tropical de Hotéis, a
VEM (Varig Engineering &
Maintenance), a Rio-Sul, a Sata
(Serviços Auxiliares de Transportes Aéreos) e a Nordeste. Presta
serviços médicos, odontológicos e
de alimentação a 120 mil pessoas.
""Ela sobrevive sem a Varig. Faz 12
anos que a Varig não dá resultado
positivo", diz o curador.
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