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LUÍS NASSIF
Os falsos dogmas
Uma das jóias do pensamento circular dos cabeças de planilha é a tese de que
bastará cair o risco Brasil para,
alguns meses depois, recomeçar o fluxo de investimento direto no país.
Converse com qualquer presidente de multinacional no
Brasil. Wall Street pode adorar
Palocci, o risco pode cair. Só
que nos centros de decisão de
investimentos não existe mais
o Brasil. As filiais estão sendo
esvaziadas e todas as decisões
de investimentos estão sendo
para a China, e, agora, a Rússia e a Índia. E por uma razão
muito simples: o que eles querem, do Brasil, é o mercado de
consumo interno ou competitividade para exportar. E o modelo oferece queda de renda,
aumento de tributos e dificuldade de acesso a crédito.
A única maneira, firme e sustentada, de dar um choque de
competitividade sistêmico na
economia é pelo câmbio, de
modo a criar condições para
que as filiais das multinacionais convençam suas matrizes
a investir no país visando
transformá-lo em plataforma
exportadora. A partir desse impulso se criarão as demais condições de competitividade.
Ex-consultor da McKinsey,
com doutorado nos EUA, o
economista Eduardo Giuliani
envia o seguinte e-mail, a respeito da circularidade do pensamento cabeça de planilha:
"Não adianta usar lógica
com esse povo. A discussão
sempre volta para crenças absurdas. Exemplo: eles acham
que violência não tem nada a
ver com pobreza, apesar da reconhecida pirâmide de necessidades de Maslow e toda evidência empírica das regiões
mais pobres do mundo."
"Eles acham que dívida tem
de ser paga a qualquer custo,
apesar de, no custo dela, existir
um componente de risco, exatamente pelo fato de algumas
dívidas não poderem ser pagas
e terem de ser renegociadas."
"Acham que tem de haver dinheiro para crescer, para poupança, em vez de entender que,
antes, é preciso demanda para
atrair o investimento. Acham
que temos de ter melhor nível
educacional para crescer, em
vez de entender que a alta da
demanda eleva o interesse pelo
produto educação."
Há séculos inventou-se a contabilidade e, com ela, os conceitos de caixa e de competência.
O conceito de caixa mostra o
resultado imediato do caixa da
companhia. O de competência
leva em conta situações contingentes passadas e futuras.
Se uma empresa deixa de
honrar um compromisso em
um determinado ano, no conceito de caixa sobrarão recursos. No conceito de competência, não, pois o passivo terá de
ser pago em algum momento.
Com países, a contabilidade
é muito mais complexa. Corte
de gastos de saúde, hoje, resultarão em piora no padrão de
vida da população e em mais
gastos amanhã, quando começarem a aparecer as doenças. O
mesmo ocorre com a estrada
que deixou de ser feita, o investimento em infra-estrutura
que foi adiado.
No entanto o que mais se ouve dos cabeças de planilha é
que o superávit fiscal de 2003 é
virtuoso porque foi feito com
redução de despesas. Caso típico de cérebros com excesso de
caixa e falta de competência.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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