São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Uma historinha do BNDES


Banco e alguns estatismos ajudam a conter crises sociais, estabilizam o país e evitam a ascensão de populistas doidos


P OR VOLTA de 2005, sugeria-se dar fim ao BNDES e a instrumentos de poupança forçada, como PIS e FGTS -o PIS põe dinheiro no FAT, que financia seguro-desemprego e BNDES. Liberais diziam que o banco deveria se restringir a emprestar a jovens empresas inovadoras ou a pequenos negócios em geral, além de, talvez, avalizar financiamentos de longo prazo. Naqueles dias, o Brasil mal se recuperara da crise de 2001-03. Ainda não aproveitava o dilúvio de crédito dos anos 2000. Lula ainda era suspeito no mercado mundial. Em 2004, nosso mercado de capitais andava à míngua, como de costume.
O dinheiro grosso apareceu em 2006. As empresas então captaram R$ 121 bilhões com ações, debêntures e outros títulos. Em 2007, as emissões de ações e debêntures, apenas, ultrapassaram os financiamentos do BNDES. No total, as empresas captaram R$ 147 bilhões. Então se dizia que o país enfim tinha um mercado de capitais, dinheiro privado de longo prazo para as empresas. Com dinheiro sobrando, o zun-zum sobre o BNDES passou.
A participação do BNDES no crédito bancário caiu dos 24% no final de 2003, outro ano de crise e retração dos bancos privados, para 16% em meados de 2008 (agora está em 19%). Mas o estoque de crédito do banco estatal continuava em torno dos 5,5% do PIB costumeiros desde o final dos anos FHC, embora no período o crédito bancário total passasse de 22% para 46% do PIB. Agora, o crédito do BNDES é 8,8% do PIB (vide gráfico ao lado). O banco vai emprestar neste ano uns R$ 130 bilhões, o dobro das operações com ações e debêntures no mercado. O grosso do dinheiro do banco em 2008-09 terá vindo de empréstimos subsidiados do Tesouro (isto é, mais dívida pública, paga com impostos).
A seca de financiamento externo de 2008, a míngua do mercado de capitais entre o final de 2008 e meados de 2009 e a retração dos bancos privados juntaram a fome de crédito com a vontade de comer do governo Lula 2. Lula queria "Brasil grande" desde o PAC. Havia uma equipe econômica com ideias diferentes das de Antonio Palocci, mas até então tímida, digamos. O país cresceu, o prestígio de Lula explodiu, aqui e lá fora. Empresas maiores foram quase todas agraciadas com programas especiais ou negócios do governo. Pouca gente pia ou chia sobre o BNDES.
Ainda se diz que o banco é uma pedra no caminho do crescimento do mercado de capitais. Mas o mercado cresceu mesmo com a existência de BNDES e fundos de poupança forçada. Diz-se que o BNDES atrapalha a queda de juros, o que deve ser verdade. Porém, esses e outros estatismos ajudam a preservar a estabilidade econômica e social num país de iniquidade e pobreza, o que permite até a sobrevivência de reformas de mercado, além de evitar a ascensão de populistas doidos ao poder. Essa é a nossa "concertação" conservadora.

vinit@uol.com.br


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