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Ações de Chávez não contagiam emergentes
Contas externas equilibradas, alta liquidez e capacidade do investidor de diferenciar entre países evitam "efeito manada" dos anos 90
Queda nas Bolsas no início
do ano é vista como um
movimento de realização de
lucros, depois da forte
valorização de dezembro
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Venezuela anunciou a nacionalização dos setores de
energia e telecomunicações na
semana passada e não houve
pânico dos investidores em relação ao Brasil, em um sinal de
que o contágio entre os emergentes é bem menor hoje do
que nos instáveis anos 90.
Na década passada, crises do
outro lado do mundo eram suficientes para desencadear um
movimento de manada entre os
investidores, que transferiam
seus recursos da noite para o
dia dos países em desenvolvimento para ativos mais seguros, como títulos do Tesouro
norte-americano.
De lá para cá, mudaram os
emergentes e os investidores, e
aumentou barbaramente a
quantidade de dinheiro no
mundo em busca de boas oportunidades de ganhos.
Apesar de quedas na Bovespa
desde o início do ano, o Brasil
sofreu poucos abalos com os
anúncios da Venezuela. Para os
analistas, a desvalorização nas
ações foi um movimento de
realização de lucros, depois da
forte valorização que havia sido
registrada em dezembro.
Liquidez em alta
O Brasil também passou incólume por outros fatos que, no
passado, provocariam um terremoto entre os emergentes,
como a decisão da Tailândia de
impor controle sobre o fluxo de
capitais, adotada em dezembro
e revogada parcialmente.
"Um dos novos fenômenos
em relação aos países em desenvolvimento é a enorme liquidez, que faz com que os investidores perdoem mais facilmente os pecados dos mercados emergentes", afirma Walter Molano, do banco de investimentos norte-americano
BCP Securities. Nos países
emergentes, a principal mudança foi a transformação em
suas contas externas, que passaram de deficitárias a superavitárias. Com isso, tornaram-se
menos dependentes de capitais
externos e passaram a ter
maior capacidade de suportar
crises internacionais.
"Todos os emergentes passaram por crises no fim dos anos
90, desvalorizaram suas moedas e corrigiram suas contas
correntes. As crises foram importantes para esses países se
acertarem", diz Caio Megale,
sócio da Mauá Investimentos.
Novo olhar
Também mudou a maneira
pela qual os investidores analisam esses mercados, avalia
Guillermo Ossis, da Pimco, empresa norte-americana que administra US$ 35 bilhões de investimentos em emergentes.
"Os investidores estão diferenciando cada vez mais entre
os países. O que aconteceu na
Venezuela teve pouquíssimo
impacto sobre outros mercados emergentes", afirma.
Nos anos 90, a tendência dos
investidores era considerar a
América Latina como um todo,
o que deixava pouco espaço para a análise da situação particular de cada país.
Mark Mobius, um dos mais
célebres estrategistas de investimentos em emergentes, concorda. "Os investidores estão
muito mais sofisticados. Eles
sabem que o Brasil é diferente
da Argentina e que a Argentina
é diferente do Chile", ressalta
ele, que administra os US$ 32
bilhões que o Franklin Templeton Investment destina a aplicações em mercados emergentes [leia entrevista abaixo].
Roberto Padovani, estrategista de investimentos para a
América Latina do WestLB,
aponta quatro países na região
que se diferenciam dos demais:
Brasil, Chile, Colômbia e México. Para ele, episódios como os
da Venezuela ou da Bolívia
-que nacionalizou a exploração de petróleo e gás- têm impacto nos mercados locais e sobre as empresas com negócios
nesses países.
"A América Latina deixou de
experimentar movimentos simultâneos entre os países, que
foram comuns nos últimos cem
anos. Agora, há movimentos
não coincidentes. A Argentina
caminhou para a moratória ao
mesmo tempo em que o Chile
conseguia o grau de investimento", exemplifica Padovani.
Previsões
Todos os entrevistados apresentam um cenário otimista
para os países emergentes em
2007. A queda nas Bolsas no
início do ano é vista como uma
correção de preços, depois da
valorização de dezembro. No
longo prazo, a tendência é de alta, principalmente em relação
às commodities.
O grande risco também é
apontado de forma unânime:
uma eventual freada na economia mundial, que parece cada
vez mais improvável.
Na opinião de Mobius, tudo
indica que o ano será positivo
para os emergentes. "Sei que
muita gente está com medo disso ou daquilo. Você pode ter
medo de muitas coisas, mas, se
as evidências de que caminhamos para uma crise não estão
lá, não há razão pela qual deveríamos temer isso."
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