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Brasil não é "estúpido" para adotar medidas iguais às da Venezuela, afirma estrategista
DA REPORTAGEM LOCAL
Pioneiro da onda de investimentos em países emergentes,
Mark Mobius diz não acreditar
que o Brasil seja "estúpido" a
ponto de adotar medidas nacionalistas como as anunciadas
pelo presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, semana passada.
"As políticas brasileiras são
muito sensatas", afirma Mobius, responsável pela administração de US$ 32 bilhões que o Franklin Templeton Investment, dos EUA, aplica em países emergentes. Desse total, 18% estão investidos no Brasil.
Mobius falou à Folha por telefone na sexta-feira, do Vietnã, depois de se reunir com o presidente do país. Leia a seguir trechos da entrevista.
(CLÁUDIA TREVISAN)
FOLHA - Qual sua previsão para
mercados emergentes em 2007?
MARK MOBIUS - É positiva. Claro
que haverá correções no caminho porque o mercado subiu
muito. Estamos otimistas em
relação ao Brasil. Acreditamos
que o Brasil apresenta oportunidades muito boas.
FOLHA - Vocês investem mais no
Brasil hoje do que no passado?
MOBIUS - Sim. Investimos no
Brasil 18% dos US$ 32 bilhões
que investimos em mercados
emergentes. No passado, o Brasil recebia 2%, 3%.
FOLHA - O anúncio de nacionalização das áreas de energia e telecomunicações na Venezuela muda a
percepção dos investidores em relação aos emergentes?
MOBIUS - Creio que não. A
maioria dos investidores já esperava que [Hugo] Chávez fizesse isso. Nós deixamos a Venezuela há dois anos. Não cremos que o Brasil adotará medidas semelhantes. Não acreditamos que o Brasil seja estúpido
para fazer alguma coisa como
essa. As políticas brasileiras são
muito sensatas.
FOLHA - O ritmo de crescimento do
Brasil é satisfatório?
MOBIUS - Esse é o grande problema no Brasil. O ritmo de
crescimento é muito baixo. É
muito importante que o governo tome medidas para encorajar investimentos, tanto externos quanto domésticos.
FOLHA - O sr. está agora no Vietnã?
MOBIUS - Sim.
FOLHA - Há uma diferenciação
crescente entre mercados emergentes da Ásia e da América Latina, já
que os asiáticos crescem mais?
MOBIUS - Sim. A razão para isso
é que os países asiáticos fazem
um esforço considerável para
atrair investidores estrangeiros. Nesta manhã me encontrei
com o presidente do Vietnã
[Nguyen Minh Triet] e ele nos
disse: "Quero que vocês invistam aqui e faremos tudo o que
pudermos para tornar a vida de
vocês aqui boa e lucrativa".
FOLHA - Quais são os países mais
atraentes entre os emergentes?
MOBIUS - A China, que está lá
em cima, Coréia, Taiwan, África do Sul e Brasil.
FOLHA - O sr. mencionou a China e
antes falou no Vietnã. Não é uma
ironia que ambos sejam governados
por partidos comunistas?
MOBIUS - Sim, ambos são governados por partidos comunistas, mas esses partidos estão
encorajando a privatização de
empresas estatais e estão seguindo um modelo de economia de mercado.
FOLHA - A enorme liquidez que
existe no mundo hoje pode se transformar em um problema para os
mercado emergentes, com a valorização excessiva de suas moedas?
MOBIUS - Pode haver excesso
de dinheiro e isso ter um grande impacto. Mas acredito que o
real brasileiro, o baht tailandês
e o yuan chinês estão um pouco
subavaliados, mas estão mais
ou menos onde deveriam estar.
Não estamos preocupados.
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