São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Brasil não é "estúpido" para adotar medidas iguais às da Venezuela, afirma estrategista

DA REPORTAGEM LOCAL

Pioneiro da onda de investimentos em países emergentes, Mark Mobius diz não acreditar que o Brasil seja "estúpido" a ponto de adotar medidas nacionalistas como as anunciadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, semana passada.
"As políticas brasileiras são muito sensatas", afirma Mobius, responsável pela administração de US$ 32 bilhões que o Franklin Templeton Investment, dos EUA, aplica em países emergentes. Desse total, 18% estão investidos no Brasil. Mobius falou à Folha por telefone na sexta-feira, do Vietnã, depois de se reunir com o presidente do país. Leia a seguir trechos da entrevista. (CLÁUDIA TREVISAN)  

FOLHA - Qual sua previsão para mercados emergentes em 2007?
MARK MOBIUS
- É positiva. Claro que haverá correções no caminho porque o mercado subiu muito. Estamos otimistas em relação ao Brasil. Acreditamos que o Brasil apresenta oportunidades muito boas.

FOLHA - Vocês investem mais no Brasil hoje do que no passado?
MOBIUS
- Sim. Investimos no Brasil 18% dos US$ 32 bilhões que investimos em mercados emergentes. No passado, o Brasil recebia 2%, 3%.

FOLHA - O anúncio de nacionalização das áreas de energia e telecomunicações na Venezuela muda a percepção dos investidores em relação aos emergentes?
MOBIUS
- Creio que não. A maioria dos investidores já esperava que [Hugo] Chávez fizesse isso. Nós deixamos a Venezuela há dois anos. Não cremos que o Brasil adotará medidas semelhantes. Não acreditamos que o Brasil seja estúpido para fazer alguma coisa como essa. As políticas brasileiras são muito sensatas.

FOLHA - O ritmo de crescimento do Brasil é satisfatório?
MOBIUS
- Esse é o grande problema no Brasil. O ritmo de crescimento é muito baixo. É muito importante que o governo tome medidas para encorajar investimentos, tanto externos quanto domésticos.

FOLHA - O sr. está agora no Vietnã?
MOBIUS
- Sim.

FOLHA - Há uma diferenciação crescente entre mercados emergentes da Ásia e da América Latina, já que os asiáticos crescem mais?
MOBIUS
- Sim. A razão para isso é que os países asiáticos fazem um esforço considerável para atrair investidores estrangeiros. Nesta manhã me encontrei com o presidente do Vietnã [Nguyen Minh Triet] e ele nos disse: "Quero que vocês invistam aqui e faremos tudo o que pudermos para tornar a vida de vocês aqui boa e lucrativa".

FOLHA - Quais são os países mais atraentes entre os emergentes?
MOBIUS
- A China, que está lá em cima, Coréia, Taiwan, África do Sul e Brasil.

FOLHA - O sr. mencionou a China e antes falou no Vietnã. Não é uma ironia que ambos sejam governados por partidos comunistas?
MOBIUS
- Sim, ambos são governados por partidos comunistas, mas esses partidos estão encorajando a privatização de empresas estatais e estão seguindo um modelo de economia de mercado.

FOLHA - A enorme liquidez que existe no mundo hoje pode se transformar em um problema para os mercado emergentes, com a valorização excessiva de suas moedas?
MOBIUS
- Pode haver excesso de dinheiro e isso ter um grande impacto. Mas acredito que o real brasileiro, o baht tailandês e o yuan chinês estão um pouco subavaliados, mas estão mais ou menos onde deveriam estar. Não estamos preocupados.


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