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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Política monetária, ontem e hoje
O juro que afeta as decisões dos agentes econômicos é aquele prevalecente nos mercados secundários
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CHARLES GOODHART , economista do Banco da Inglaterra,
publicou recentemente um
texto sobre a macroeconomia de ontem e de hoje. Com todos nós, "coroas", Goodhart aprendeu nos manuais "soi-disants" keynesianos,
contaminados pelas curvas IS-LM.
Para o leitor não-especialista, posso tentar uma explicação sumária,
sob o risco de simplificar o simplório.
A curva IS é formada pelos pontos de
"equilíbrio" entre poupança e investimento. Um aumento na expectativa de lucros dos empresários suscitará um maior incentivo ao investimento. Daí o aumento da renda e do emprego, o que vai provocar o aumento da poupança e garantir o
equilíbrio no mercado de bens.
LM estabelece os pontos de "equilíbrio" entre demanda e oferta de
moeda. A demanda é composta da
fração da riqueza e da renda monetária que os indivíduos desejam manter de forma inativa. O nível de renda
determina a demanda para transações, e a taxa de juro, a demanda especulativa.
No caso de uma situação de desemprego, a política monetária do
Banco Central provocaria aumento
no gasto mediante a "injeção" de liquidez no sistema bancário. Os multiplicadores de crédito se encarregariam de expandir os agregados monetários, o que determinaria uma
queda da taxa de juros monetários,
uma redução na demanda de moeda
e um aumento do dispêndio, da renda e do emprego. A oferta de moeda é
exógena, controlada pelo BC.
Na vida real, a demanda de crédito
é que vai suscitar a criação de moeda
pelos bancos. Operando num regime
de reservas fracionárias, os bancos
desfrutam de uma condição peculiar
-a prerrogativa de multiplicar depósitos, isto é, passivos bancários que
se convertem em meios de pagamento.
Os empresários demandam crédito e gastam na expectativa de capturar lucros, enquanto geram a renda
da comunidade. Podemos, dessa forma, imaginar a economia como uma
estrutura de balanços inter-relacionados e em transformação: aos ativos correspondem passivos que resultaram de decisões passadas. A essa configuração patrimonial estão se
agregando os resultados das decisões
em curso relativas à posse de ativos e
à forma de financiá-los.
De acordo com o modelo IS-LM, a
autoridade monetária, ao manipular
a taxa de juros, promove o equilíbrio
do sistema, tornando compatíveis as
decisões de consumo, poupança e investimento por parte dos agentes
econômicos. Entretanto essa é uma
representação extremamente simplificada do "modus operandi" da
economia, pois atribui um papel
completamente exógeno para o Banco Central.
O funcionamento dos mercados
monetários, no entanto, mostra que
essa hipótese está longe de ser precisa. Na verdade, as taxas de juros que
afetam as decisões dos agentes econômicos são aquelas prevalecentes
nos mercados secundários de títulos
de dívida, sujeitos a risco de liquidez
e de pagamento. Os juros das operações de crédito privadas dependem
não apenas da taxa de curto prazo
mas (fundamentalmente) da expectativa formada pelos agentes econômicos com relação à trajetória dos
preços dos ativos já existentes. Essa
interação estratégica, portanto, coloca a autoridade monetária como
mais um agente endógeno ao funcionamento do sistema. Para que ele
execute o papel de agente coordenador das expectativas, é necessário
que suas ações sejam percebidas como críveis e totalmente comprometidas com seu objetivo anunciado.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 64, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo (governo Quércia).
Agradeço aos comentários e à colaboração de Marcelo Fonseca
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