|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula quer modelo universal de Previdência
Reforma para vigorar a partir de 2011 deverá propor mesmas regras a trabalhador da iniciativa privada e do setor público
Presidente deverá assinar ainda neste mês decreto para a criação de um fórum de negociação da proposta de reforma previdenciária
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A reforma da Previdência
que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva planeja realizar
para entrar em vigor a partir de
2011 deverá propor um modelo
universal para trabalhadores
da iniciativa privada e do setor
público, inclusive militares.
Lula pretende que tenha ainda
regras para uma transição de
longo prazo.
"O presidente tem dito que é
preciso haver um pacto de solidariedade entre as gerações.
Quer uma Previdência universal para todos os trabalhadores
e pretende negociá-la com o
Congresso, as centrais sindicais
e os empresários", diz o ministro do Planejamento, Paulo
Bernardo.
O colega da Previdência, Nelson Machado, afirma que Lula
deverá assinar neste mês ainda
um decreto-presidencial para
criar o fórum de negociação da
proposta de reforma. "Não partiremos de nenhum modelo
preconcebido. A idéia é buscar
um consenso com a perspectiva do longo prazo e de uma
transição longa", diz Machado.
Lula tem dito que politicamente é inviável fazer uma nova reforma de curto prazo. No
entanto, avalia que uma mudança da Previdência que passe
a valer no futuro possa trazer
regras que estipulem uma idade mínima para todos os trabalhadores.
Hoje, apenas os servidores
públicos têm idade mínima para se aposentar -60 anos para
homens e 55 para mulheres. Na
área privada, exigem-se 35
anos de contribuição para os
homens e 30 anos para as mulheres. Ainda há o fator previdenciário, uma regra que estipula o valor do benefício levando em conta a expectativa de vida do aposentado.
A Folha apurou que o governo gostaria de elevar a idade
mínima, fixando-a para trabalhadores da iniciativa privada
também. No entanto, não pretende apresentar no fórum
uma reforma da Previdência
que seja reflexo apenas da vontade do Executivo.
Para que seja aprovada pelo
Legislativo, seria importante o
apoio das centrais sindicais e
dos empresários. "A pauta do
fórum está em aberto, caso
contrário não faria sentido. Ele
a construirá. Agora, não pode
haver assuntos tabus", diz Machado.
O fórum deverá ter um prazo
de 120 dias ou de 180 dias para
apresentar uma proposta. Será
coordenado pelo ministro da
Previdência. Outros colegas de
primeiro escalão participarão.
E haverá um número equivalente de sindicalistas e empresários.
Bernardo rebate a crítica de
que Lula deseja que as novas
regras da Previdência entrem
em vigor a partir de 2011, quando estará fora do poder, para
evitar o desgaste político. "O
próximo presidente não terá o
desgaste de promover a reforma. Todo mundo saberá que foi
Lula quem buscou aprová-la,
pois será preciso que o Congresso concorde e a apóie", diz
o ministro do Planejamento.
Segundo Bernardo, a discussão de uma reforma da Previdência mostra "responsabilidade" de Lula com as contas públicas. Estima-se que o déficit
da Previdência em 2006 tenha
sido de cerca de R$ 42 bilhões.
Machado afirma que serão
analisados "cenários de longo
prazo, para 2030 e 2040, dentro da filosofia de que a Previdência precisa ter um modelo
isonômico e sustentabilidade
no longo prazo".
Universal
Segundo ele, o objetivo central é montar uma previdência
básica universal e solidária,
com um sistema de previdência
complementar e uma transição
longa. "A partir daí, tudo está
em aberto."
Na campanha eleitoral, Lula
rejeitou a idéia de realizar uma
reforma previdenciária que endurecesse regras durante seu
mandato. Tem dito que deseja
fazer uma reforma "sem susto"
e por consenso. Do contrário, o
Congresso a rejeitaria.
Bernardo avalia que, ao jogar
a reforma para o futuro, evita-se que governo e oposição travem uma "guerra política". Ele
diz que, em 2006, quando Lula
quis dar reajuste de 5% aos
aposentados (maior que os
3,14% que devia por força legal), a oposição tentou elevar o
índice para mais de 16%, igualando-o ao reajuste do salário
mínimo concedido por Lula. O
presidente vetou.
A legislação atual já prevê um
sistema único de previdência
para os setores público (civil) e
privado. No público, porém, ele
ainda não começou a vigorar
porque o governo não regulamentou o fundo de previdência
complementar dos servidores
federais, apesar de tê-lo aprovado em 2003.
Segundo o ministro Nelson
Machado, a regulamentação
não estará associada aos trabalhos do fórum e deve ser feita
antes de uma nova reforma da
Previdência.
Depois de sua regulamentação, o trabalhador que ingressar no serviço público terá a garantia de uma aposentadoria
básica como no setor privado,
cujo teto hoje é de R$ 2.801. Para receber uma renda extra, terá de contribuir para o fundo de
previdência complementar a
ser criado pelo governo.
Em 2003, primeiro ano do
mandato anterior, o governo
chegou a discutir a proposta de
um sistema único para os setores privado e público. Por determinação de Lula, os militares foram excluídos da discussão inicial, que não foi levada
adiante.
Texto Anterior: Luiz Gonzaga Belluzzo: Política monetária, ontem e hoje Próximo Texto: Frase Índice
|