São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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EMPRESAS
Organização não-governamental calcula impacto da desvalorização de 8,26% do real no endividamento
Dívida privada em dólar sobe R$ 15 bi

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Em apenas um dia, o estoque da dívida externa das empresas privadas brasileiras saltou R$ 15,3 bilhões.
A desvalorização de 8,26% do real, ocorrida de anteontem para ontem, transformou uma dívida de R$ 168,8 bilhões em uma dívida de R$ 184,1 bilhões, segundo dados do especialista Octávio de Barros, diretor-técnico da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais), uma organização não-governamental de pesquisa.
Os dados incluem empresas e bancos do setor privado nacional que captaram recursos no exterior. Em dólar, essa dívida é de US$ 139,5 bilhões.
Se durante muito tempo a dívida externa foi privilégio do governo, hoje essa situação se inverteu e 62% de toda a dívida externa do país é do setor privado. A captação de recursos no exterior surgiu como alternativa aos altos juros praticados internamente.
Embora esse mercado tenha se fechado para captações brasileiras nos últimos meses, por causa da perda de credibilidade do país, ainda é grande o estoque de dívida a vencer.
A dívida externa total do país - que é de US$ 225 bilhões, com setores privado e público, incluindo todos níveis de governo e estatais- saltou de R$ 272,3 bilhões para R$ 297 bilhões por conta da mexida no câmbio.
"Isso terá um impacto negativo direto sobre o resultados das empresas, ou seja, reduzindo o lucro", diz Barros.
O aumento da dívida significa o aumento do passivo das empresas. "Os balanços trimestrais de 99 já mostrarão esse impacto."
O fato de os resultados serem afetados, não significa que o caixa das empresas sentirá isso na mesma medida. As dívidas são de longo prazo, o que dilui o impacto sobre o caixa ao longo do tempo, segundo Barros. Ou seja, o impacto no caixa só acontecerá no momento do vencimento dessas dívidas e no pagamento dos juros sobre seu valor principal. O quadro acima lista as dívidas das empresas e bancos públicos e privados que vencem até o final de março.
Em 99, Octávio de Barros estima que o país (setores privado e público) tem US$ 50 bilhões para pagar de suas dívidas. Desse total, US$ 18 bilhões são juros e US$ 32 bilhões, principal.
Por causa da desvalorização cambial ocorrida ontem o desembolso subiu muito em reais, saltou R$ 5,5 bilhões para R$ 66 bilhões.
"Não é nada que assuste, já que o valor está diluído ao longo do ano", diz Barros. Ele alerta, no entanto, que junho e dezembro costumam ser períodos de concentração de vencimentos.
O verdadeiro impacto do crescimento da dívida sobre os resultados e caixas das empresas dependerá do grau de "hedge" (proteção) que estava sendo adotado. Ou seja, se as empresas estavam ou não usando instrumentos financeiros que anulam o efeito de uma variação cambial.
Empresas exportadoras podem ganhar muito com a medida. A Vale do Rio Doce, por exemplo, viu suas ações se valorizarem ontem, enquanto o índice Bovespa fechava em queda de cerca de 5%. Isso porque, segundo o gerente de Relações com o mercado, Antonio Maria de Castro Pereira, o mercado sabe que a empresa tem 90% de suas receitas em dólares.
Assim, a dívida da empresa aumentou num primeiro momento, mas o faturamento, diz Pereira, continuará crescendo no ano.



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