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EMPRESAS
Organização não-governamental calcula impacto da desvalorização de 8,26% do real no endividamento
Dívida privada em dólar sobe R$ 15 bi
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Em apenas um dia, o estoque da
dívida externa das empresas privadas brasileiras saltou R$ 15,3 bilhões.
A desvalorização de 8,26% do
real, ocorrida de anteontem para
ontem, transformou uma dívida
de R$ 168,8 bilhões em uma dívida
de R$ 184,1 bilhões, segundo dados
do especialista Octávio de Barros,
diretor-técnico da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais), uma organização não-governamental de
pesquisa.
Os dados incluem empresas e
bancos do setor privado nacional
que captaram recursos no exterior.
Em dólar, essa dívida é de US$
139,5 bilhões.
Se durante muito tempo a dívida
externa foi privilégio do governo,
hoje essa situação se inverteu e
62% de toda a dívida externa do
país é do setor privado. A captação
de recursos no exterior surgiu como alternativa aos altos juros praticados internamente.
Embora esse mercado tenha se
fechado para captações brasileiras
nos últimos meses, por causa da
perda de credibilidade do país,
ainda é grande o estoque de dívida
a vencer.
A dívida externa total do país -
que é de US$ 225 bilhões, com setores privado e público, incluindo
todos níveis de governo e estatais- saltou de R$ 272,3 bilhões
para R$ 297 bilhões por conta da
mexida no câmbio.
"Isso terá um impacto negativo
direto sobre o resultados das empresas, ou seja, reduzindo o lucro",
diz Barros.
O aumento da dívida significa o
aumento do passivo das empresas.
"Os balanços trimestrais de 99 já
mostrarão esse impacto."
O fato de os resultados serem afetados, não significa que o caixa das
empresas sentirá isso na mesma
medida. As dívidas são de longo
prazo, o que dilui o impacto sobre
o caixa ao longo do tempo, segundo Barros. Ou seja, o impacto no
caixa só acontecerá no momento
do vencimento dessas dívidas e no
pagamento dos juros sobre seu valor principal. O quadro acima lista
as dívidas das empresas e bancos
públicos e privados que vencem
até o final de março.
Em 99, Octávio de Barros estima
que o país (setores privado e público) tem US$ 50 bilhões para pagar
de suas dívidas. Desse total, US$ 18
bilhões são juros e US$ 32 bilhões,
principal.
Por causa da desvalorização
cambial ocorrida ontem o desembolso subiu muito em reais, saltou
R$ 5,5 bilhões para R$ 66 bilhões.
"Não é nada que assuste, já que o
valor está diluído ao longo do
ano", diz Barros. Ele alerta, no entanto, que junho e dezembro costumam ser períodos de concentração de vencimentos.
O verdadeiro impacto do crescimento da dívida sobre os resultados e caixas das empresas dependerá do grau de "hedge" (proteção) que estava sendo adotado. Ou
seja, se as empresas estavam ou
não usando instrumentos financeiros que anulam o efeito de uma
variação cambial.
Empresas exportadoras podem
ganhar muito com a medida. A Vale do Rio Doce, por exemplo, viu
suas ações se valorizarem ontem,
enquanto o índice Bovespa fechava em queda de cerca de 5%. Isso
porque, segundo o gerente de Relações com o mercado, Antonio
Maria de Castro Pereira, o mercado sabe que a empresa tem 90% de
suas receitas em dólares.
Assim, a dívida da empresa aumentou num primeiro momento,
mas o faturamento, diz Pereira,
continuará crescendo no ano.
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