São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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BALANÇA COMERCIAL
Brasil pode zerar déficit em 99; principal ganho será obtido com diminuição nas compras externas
Desvalorização deve reduzir importações

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

O primeiro ganho que a desvalorização do real deve trazer para as contas externas brasileiras é a redução das importações. Com o real mais fraco em relação ao dólar, o preço das mercadorias importadas sobe e deve haver uma redução nas compras no exterior.
Segundo os especialistas, a mudança na cotação da moeda também ajuda as exportações, mas o efeito sobre as vendas externas brasileiras deve ser mais lento e limitado pela desaceleração da economia mundial prevista para 1999.
Em 1998, o Brasil importou US$ 6,4 bilhões a mais do que exportou. Antes da mudança no câmbio, os analistas projetavam um déficit comercial de cerca de US$ 2,5 bilhões para 1999.
Agora já se fala que o país pode equilibrar sua balança comercial com exportações e importações em valores muito parecidos.
Os analistas ainda divergem se a desvalorização de 12% a 15% ao ano, como foi anunciada, corrige de vez o problema do câmbio.
Mas uma coisa é certa: a supervalorização do real está deixando de ser o principal empecilho ao aumento das exportações: "Com a desvalorização de 8,26% voltamos praticamente ao nível de 1994", diz Mário Carvalho, professor de comércio externo da Uerj.
"A defasagem cambial foi praticamente eliminada, mas pode não haver aumento significativo das exportações", diz José Augusto de Castro, diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior.
As empresas já estão fazendo as contas de seus ganhos e prejuízos com a medida. Com 90% de suas vendas concentradas no mercado externo, a Embraer poderá sair ganhando, mesmo com a alta de impostos anunciada em dezembro.
"Teremos aumento de custos com a alta dos impostos e empréstimos externos mais caros devido às incertezas políticas no Brasil. Mas, se a desvalorização se mantiver, poderemos ser beneficiados", diz Maurício Botelho, presidente da Embraer, que fatura por volta de R$ 1,5 bilhão por ano.
A desvalorização do real pode não trazer ganhos diretamente proporcionais à Embraer e a outras empresas porque os clientes podem querer renegociar seus preços e também aproveitar os ganhos da mudança no câmbio.
"É preciso ter cautela para avaliar os ganhos das empresas exportadoras", diz Boris Tabacof, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Papel e Celulose.
Dos 6,5 milhões de toneladas de celulose produzidos anualmente pelas empresas brasileiras, cerca de 2 milhões de toneladas são exportados.
"A desvalorização é positiva para as exportações, mas muitas empresas têm dívidas e é preciso ver se não haverá muita turbulência na economia."
O efeito benéfico da desvalorização para as contas externas é mais claro em relação às importações. Como os produtos importados ficarão mais caros, muitas empresas vão se voltar para os fornecedores brasileiros.
"Estamos fazendo as contas para ver se trocamos nossos fornecedores franceses e norte-americanos por brasileiros", diz Artur Grynbaum, diretor do Boticário, que importa 70% dos 21 milhões de frascos que utiliza por ano.
Setores que importam muito, como os fabricantes de produtos eletrônicos, terão de estudar mudanças em suas estratégias. "Não temos pressa, porque os contratos de importação são para 280 dias, mas vamos ver o quanto as encomendas de peças feitas aos países asiáticos ficarão mais caras", diz Guilherme Coletti, diretor da Sharp.



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