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BALANÇA COMERCIAL
Brasil pode zerar déficit em 99; principal ganho será obtido com diminuição nas compras externas
Desvalorização deve reduzir importações
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O primeiro ganho que a desvalorização do real deve trazer para as
contas externas brasileiras é a redução das importações. Com o real
mais fraco em relação ao dólar, o
preço das mercadorias importadas
sobe e deve haver uma redução nas
compras no exterior.
Segundo os especialistas, a mudança na cotação da moeda também ajuda as exportações, mas o
efeito sobre as vendas externas
brasileiras deve ser mais lento e limitado pela desaceleração da economia mundial prevista para 1999.
Em 1998, o Brasil importou US$
6,4 bilhões a mais do que exportou.
Antes da mudança no câmbio, os
analistas projetavam um déficit
comercial de cerca de US$ 2,5 bilhões para 1999.
Agora já se fala que o país pode
equilibrar sua balança comercial
com exportações e importações
em valores muito parecidos.
Os analistas ainda divergem se a
desvalorização de 12% a 15% ao
ano, como foi anunciada, corrige
de vez o problema do câmbio.
Mas uma coisa é certa: a supervalorização do real está deixando de
ser o principal empecilho ao aumento das exportações: "Com a
desvalorização de 8,26% voltamos
praticamente ao nível de 1994", diz
Mário Carvalho, professor de comércio externo da Uerj.
"A defasagem cambial foi praticamente eliminada, mas pode não
haver aumento significativo das
exportações", diz José Augusto de
Castro, diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior.
As empresas já estão fazendo as
contas de seus ganhos e prejuízos
com a medida. Com 90% de suas
vendas concentradas no mercado
externo, a Embraer poderá sair ganhando, mesmo com a alta de impostos anunciada em dezembro.
"Teremos aumento de custos
com a alta dos impostos e empréstimos externos mais caros devido
às incertezas políticas no Brasil.
Mas, se a desvalorização se mantiver, poderemos ser beneficiados",
diz Maurício Botelho, presidente
da Embraer, que fatura por volta
de R$ 1,5 bilhão por ano.
A desvalorização do real pode
não trazer ganhos diretamente
proporcionais à Embraer e a outras empresas porque os clientes
podem querer renegociar seus preços e também aproveitar os ganhos
da mudança no câmbio.
"É preciso ter cautela para avaliar
os ganhos das empresas exportadoras", diz Boris Tabacof, presidente da Associação Brasileira de
Produtores de Papel e Celulose.
Dos 6,5 milhões de toneladas de
celulose produzidos anualmente
pelas empresas brasileiras, cerca
de 2 milhões de toneladas são exportados.
"A desvalorização é positiva para
as exportações, mas muitas empresas têm dívidas e é preciso ver
se não haverá muita turbulência na
economia."
O efeito benéfico da desvalorização para as contas externas é mais
claro em relação às importações.
Como os produtos importados ficarão mais caros, muitas empresas
vão se voltar para os fornecedores
brasileiros.
"Estamos fazendo as contas para
ver se trocamos nossos fornecedores franceses e norte-americanos
por brasileiros", diz Artur
Grynbaum, diretor do Boticário,
que importa 70% dos 21 milhões
de frascos que utiliza por ano.
Setores que importam muito, como os fabricantes de produtos eletrônicos, terão de estudar mudanças em suas estratégias. "Não temos pressa, porque os contratos
de importação são para 280 dias,
mas vamos ver o quanto as encomendas de peças feitas aos países
asiáticos ficarão mais caras", diz
Guilherme Coletti, diretor da
Sharp.
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