São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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TRABALHO
Metalúrgicos levaram famílias para a montadora e saíram em passeata no ABC, bloqueando a Anchieta
Protesto contra cortes na Ford ganha força

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

Os metalúrgicos demitidos pela Ford no ABC paulista realizaram ontem o maior protesto desde que a fábrica anunciou os cortes, em dezembro do ano passado.
Cerca de 6.000 pessoas, entre demitidos e seus familiares, participaram de uma ceia de Natal simbólica na porta da fábrica da Ford em São Bernardo e depois saíram em passeata até o bairro de Rudge Ramos, no mesmo município.
A rodovia Anchieta, que liga a capital paulista ao litoral, foi ocupada pelos manifestantes e o trânsito ficou paralisado por mais de uma hora.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, vem protestando contra as demissões desde o início de janeiro e organizou a ceia para celebrar "o Natal que os demitidos não tiveram".
A montadora enviou cartas aos funcionários demitidos poucos dias antes do Natal.
Desde o início de janeiro, todos os metalúrgicos da Ford, demitidos ou não, ocupam diariamente a fábrica no ABC.
A montadora, entretanto, mantém a linha de produção paralisada, alegando que não é seguro fazer a fábrica funcionar com excesso de funcionários.
Segundo Luiz Marinho, presidente do sindicato, a cada semana haverá uma manifestação diferenciada contra as demissões.
A próxima, disse ele, será uma passeata de metalúrgicos de outras montadoras da região (Volkswagen, Mercedes e Scania).
Marinho também afirmou que, em outros Estados, metalúrgicos ligados à CUT vão realizar ocupações simbólicas de concessionárias da rede Ford.
O evento de ontem reuniu prefeitos da região do ABC, sindicalistas e parlamentares. Participaram também o presidente nacional do PT, José Dirceu, e o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, que já foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O presidente nacional da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, acusou a Ford de estar adotando uma política tacanha de obtenção de lucro a qualquer custo.
"Se for necessário, seguiremos exemplo dos trabalhadores sem terra, que foram até Brasília", disse Vicentinho.
Para a ceia de Natal simbólica realizada ontem, o sindicato colocou mesas com pães, bolos, salgadinhos e refrigerantes no pátio da Ford. Após os discursos, os familiares dos demitidos se serviram e depois saíram em passeata.
Um grupo de aproximadamente dez crianças depositou flores no portão de entrada da fábrica.
Apesar do protesto, a empresa afirmou que manteve o dia de ontem como data para as homologações das demissões. A montadora diz que depositou o valor das verbas rescisórias.



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