São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Gustavo Franco uniu quase todos contra ele

da Reportagem Local

Polemista e polêmico, o economista Gustavo Franco, carioca, 42, conseguiu, durante sua passagem pelo governo, uma façanha rara: unir frequentemente pessoas das mais variadas opiniões políticas e econômicas -todas contra ele.
A grande exceção à essa unanimidade, e a mais importante, foi o apoio permanente do presidente Fernando Henrique Cardoso, que mostrou seu apreço escrevendo o prefácio de um dos livros escritos por Franco, "O Plano Real".
O exemplo mais claro disso é consenso que acabou se formando de que era necessário mudar a política cambial. Ao longo dos últimos anos, foi crescendo a lista de críticos à política governamental, bancada especialmente por Gustavo Franco, de manter o real sobrevalorizado em relação ao dólar.
Do ex-ministro Mário Henrique Simonsen (falecido em 1997) até Maria da Conceição Tavares, entre os economistas, empresários, outros participantes do governo FHC, sindicalistas passaram a concordar que era preciso mudar a política cambial.
Primeiro como diretor do Banco Central e depois como seu presidente, Gustavo Franco não só defendeu a política cambial seguida desde o início do Real como atacou seus críticos, bem ao seu estilo, mais para Sérgio Motta do que para Pedro Malan.
Ao tomar posse como presidente do Banco Central, ele afirmou, por exemplo, que "não é a desvalorização da moeda que vai fazer o Brasil crescer 10% e ter um milagre econômico. O Brasil já se iludiu muito com soluções mágicas. O assunto é importante, mas é preciso tirar a temperatura elevada da discussão de economistas que gostam de aparecer".
Gustavo Franco não se limitou a opinar de forma pouco tradicional sobre política econômica. Defendeu que os filhos da elite brasileira passassem a pagar universidades, por exemplo. Considerado por políticos de oposição de esquerda como símbolo neoliberal do governo FHC, afirmou que tinha dificuldade em entender o que era neoliberalismo. "É difícil classificar pessoas ou idéias. Este governo repudia esse tipo de classificação."
Formando em economia, com doutorado em Harvard, nos Estados Unidos, diretor de assuntos internacionais do BC no início do governo FHC e presidente do banco desde agosto de 1997, Franco não se enquadra no estereótipo do economista ocupando um alto posto no governo.
Em geral, se apresenta com a barba por fazer, a gravata fora do lugar e já foi comparado ao ator americano Jack Nicholson, mas um Jack Nicholson bonito.
Franco também gosta de falar das suas preferências fora do campo econômico, como da época em que participou de uma banda de rock batizada de O Circo dos Horrores -da qual fazia parte também o ex-ministro do Trabalho, Edward Amadeo. Ou de pesca submarina, paixão que o levou a sugerir que a nota de R$ 100 fosse ilustrada com a figura da garoupa.
Casado pela segunda vez, com Cristiana Laet Barroso Franco, ele tem quatro filhos.
Filho único, ele gosta de dizer que seu pai nasceu "muito pobre" no Amazonas. Arinos Franco mudou-se para o Rio, foi durante muitos anos funcionário do Banco do Brasil e chegou a chefe do gabinete do ministro da Fazenda nos anos 40 e secretário particular de Getúlio Vargas.
Quando Getúlio morreu, Arinos Franco foi para a iniciativa privada, tornando-se, mais tarde, sócio minoritário do Banco Garantia,vendido no ano passado para o Credit Suisse First Boston por um valor estimado pelo mercado em cerca de US$ 1 bilhão.
A confortável situação financeira de Arinos permitiu que ele sustentasse o filho até os 30 anos -quando ele começou a dar aulas na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio. Da PUC, passou diretamente para o governo, levado pelo seu professor Winston Fritsch.
Apesar dos sobrenomes, Gustavo não é parente do governador Itamar Franco, mas sim de Marcello Alencar, ex-governador do Rio.



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