São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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AS RAZÕES
Mudanças nas políticas cambial e de juros foram as pela saída de Franco da presidência do Banco Central
Câmbio foi motivo da saída

Juca Varella/Folha Imagem
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, após anunciar sua saída do cargo, ontem em Brasília


da Sucursal de Brasília

O presidente demissionário do Banco Central, Gustavo Franco, associou sua saída do cargo à mudança na política de câmbio. "Jamais seria minha intenção servir como embaraço à natural reorientação das políticas de juros e câmbio, conforme desejo do presidente da República."
Um dos pais intelectuais do Plano Real e principal defensor da estratégia que sobrevalorizou o real em relação ao dólar para derrubar a inflação, Franco disse ter defendido medidas voltadas para a maioria, "frequentemente contrariando interesses poderosos e despertando ressentimentos".
Ele anunciou sua saída do cargo ao ler uma nota de uma página e meia, por volta das 9h30, no Banco Central. No pronunciamento, apresentou seu sucessor, Francisco Lopes, que hoje acumula as diretorias de Política Monetária e Política Econômica do BC.
Na explicação de Franco para seu afastamento, ele estaria convencido da conveniência de mudar o câmbio.
"Já faz tempo, também, que venho amadurecendo a idéia de que necessitamos flexibilizar as políticas de juros e de câmbio, de modo a superarmos a crise e retomarmos o crescimento", afirmou.
Logo adiante, declarou que não seria embaraço à mudança dessas políticas e emendou: "Assim sendo, tornou-se natural que os dois assuntos -meu desligamento e a flexibilização nas políticas de juro e câmbio- devessem ser considerados em conjunto".
Por essa versão, Franco teria passado a acreditar que a política por ele defendida desde 1995 estava errada e, mesmo com a mudança de opinião, deixaria o cargo para que outro fizesse a correção.
Quando assumiu a presidência do Banco Central, em 97, Franco disse que as âncoras cambial e monetária do Plano Real seriam "para sempre".
Posições como essa valeram a Franco a condição de inimigo preferencial dos críticos da política econômica, que, embora bem-sucedida no controle da inflação, dependia de juros altos e pouco crescimento econômico.
"A defesa da moeda não conta com a ajuda de lobbies nem grupos de pressão. O trabalho de se evitar a tributação do pobre através (sic) da inflação traz benefícios a maiorias silenciosas e desorganizadas, cuja voz se faz ouvir apenas ocasionalmente, no momento das eleições", disse Franco ontem.
Franco continuará mantendo vínculos com o governo Fernando Henrique Cardoso, como membro do Conselho de Assessores Econômicos, ainda a ser criado.
Francisco Lopes assumirá interinamente a presidência do BC, enquanto Franco tirará férias. Nesse meio tempo, a indicação de Lopes será encaminhada ao Senado e, logo que seja aprovada, Franco se desligará formalmente do BC.
Lopes, a quem caberá conduzir a nova política de câmbio, era outro defensor intransigente da política adotada até anteontem. Seu substituto na diretoria de Política Monetária ainda não foi anunciado oficialmente.



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