São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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O SUBSTITUTO
Francisco Lopes, que assume o BC, diz que mudanças permitem redução de taxa sem risco de fuga de capital
Juro pode cair 4 pontos em 99

da Sucursal de Brasília

A mudança na política cambial permite ao governo reduzir os juros sem provocar nova fuga de recursos estrangeiros. Sem citar de quanto poderá ser a queda, o futuro presidente do Banco Central, Francisco Lopes, disse que há um potencial de redução de cerca de quatro pontos percentuais.
O cálculo de Lopes leva em conta que a desvalorização cambial em 1999 deverá ficar abaixo de 3% com as mudanças. Se nada tivesse sido alterado, haveria uma desvalorização de cerca de 7,5% ao longo deste ano. A diferença entre os dois indicadores é o potencial de redução dos juros básicos em 99.
"A motivação da política cambial é flexibilizar a política monetária, dar mais liberdade para a redução dos juros", afirmou. Hoje, os juros pagos pelo governo para rolar seus títulos estão em 29% ao ano. A redução dos juros depende ainda da aprovação do ajuste fiscal e da melhora na credibilidade do país.
Lopes disse que a redução das taxas de juros fica "potencialmente" facilitada pela mudança na política cambial. Mas, segundo ele, essa potencialidade só será transformada em realidade com a aprovação do ajuste fiscal proposto pelo governo e que ainda está sendo examinado pelo Congresso Nacional.
Questionado sobre a intensidade da redução dos juros, Lopes disse que tudo será feito de forma conservadora. O Copom (Comitê de Política Monetária) não pode se comprometer com uma trajetória de taxa de juros, disse. A próxima reunião do Copom está marcada para o próximo dia 27 de janeiro.
Ao falar sobre medidas provisórias do ajuste que seriam votadas ontem no Congresso, Lopes afirmou que "certamente a aprovação melhorará os fundamentos da economia e permitirá ao Copom uma maior ousadia ao definir as taxas de juros na sua próxima reunião".
A redução das taxas de juros já foi reivindicada a FHC por empresários. A queda também foi uma das exigências feitas pelos 16 governadores e dois vice-governadores aliados do governo federal que se reuniram nesta semana em São Luís (MA). Ao reduzir juros, o governo incentiva o setor produtivo.
Lopes afirmou que a redução dos juros diminuirá o custo de rolagem dos títulos públicos federais. A elevação das taxas foi a primeira medida adotada pelo governo como resposta ao agravamento, no ano passado, da crise financeira iniciada nos países do Sudeste Asiático e que atingiu o mundo.
Com o aumento dos juros, o governo esperava manter no país o capital externo aplicado no Brasil. Afinal, o dinheiro do investidor estrangeiro é importante para ajudar o país a cobrir seu déficit nas contas externas. Ao mesmo tempo, porém, essa medida elevou os gastos com juros da dívida pública.
Se a crise persistir, o governo poderá voltar a elevar juros. "Temos reservas de quase US$ 45 bilhões hoje. Estaremos dispostos a usar as reservas e, se for necessário, usaremos também as taxas de juros para defender a estabilidade da moeda", disse Lopes, acrescentado que nada muda na política econômica.
"Acreditamos que preservar a estabilidade é o melhor caminho para desenvolver o país", afirmou. Por isso, a redução dos juros deverá ser feita com base em fatos, disse. Nesse cenário, a aprovação das medidas do programa de ajuste fiscal é fundamental.
Lopes também cobrou a aprovação da prorrogação da CPMF o mais rápido possível.



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