São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Presidência de fato veio há 6 meses

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O mineiro de Belo Horizonte Francisco Lafaiete de Pádua Lopes, 53, é tido por amigos e críticos como um economista mais arraigado aos fundamentos macroeconômicos que seu antecessor na presidência do Banco Central, Gustavo Franco, e que o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Nos bastidores, conta-se que, no primeiro semestre de 97, quando o cenário externo era de relativa tranquilidade, Franco, então diretor da área externa do Banco Central, e Malan eram favoráveis a uma maior flexibilização da política cambial, mas se renderam aos argumentos de Lopes sobre os riscos que isso poderia trazer para a economia do país.

Presidente de fato
O que se diz também nos bastidores é que havia pelo menos seis meses ele era o presidente de fato do Banco Central, enquanto problemas pessoais afastavam cada vez mais Gustavo Franco da linha de frente.
Chico Lopes, como é conhecido, é tido no mercado como um especialista em hiperinflação, uma definição que o economista Estêvão Kopscjitz, seu ex-sócio na empresa Macrométrica, considera limitada. "Ele é um especialista em macroeconomia", define.
Nas folgas, Lopes corre para sua casa de campo em Petrópolis (região serrana do Rio de Janeiro). Ali, longe de possíveis ouvidos críticos, se dedica a tocar saxofone e pistom, a ouvir jazz e a jogar sinuca. Nesta última atividade, segundo quem já viu, é considerado um perito.
A fama de conhecedor de processos hiperinflacionários vem do final dos anos 80, quando Lopes publicou o segundo dos seus dois livros até agora editados, "O Desafio da Hiperinflação, em Busca de uma Moeda Real".
No livro, distribuído em 1989, ele analisa os avanços dos economistas na compreensão dos processos inflacionários e propõe a criação de uma moeda que se chamaria real.
Para Kopscjitz, era uma época na qual todos os estudiosos se debruçavam sobre o problema da hiperinflação. Os índices no Brasil já estavam na casa dos 50% ao mês, e outros países do mundo, como a Argentina, também eram assolados por processos hiperinflacionários.
O outro livro de Lopes, "O Choque Heterodoxo: Combate à Inflação e Reforma Monetária", de 1987, também pode ser considerado um texto de época.
Um dos formuladores do Plano Cruzado (1986, governo Sarney), o futuro presidente do Banco Central, diferentemente do seu atual apego aos fundamentos (ortodoxia), defendia a aplicação de um choque na economia para vencer a inflação.
Na visão dele e dos seus parceiros de idéias, a inflação brasileira tinha uma componente inercial impossível de ser combatida só com ajuste fiscal e política monetária.
O Plano Cruzado teve como principal característica visível um congelamento de preços que acabou por gerar desabastecimento de produtos essenciais, como a carne.

PUC-RJ
Graduado em economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pós-graduado na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e com PhD em Harvard (Massachusetts, Estados Unidos), foi na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) que Lopes viveu mais intensamente sua carreira acadêmica.
Um dos fundadores do mestrado em economia da universidade (1978), após um racha na FGV, ele formou com Pérsio Arida, André Lara Resende, Edmar Bacha, todos também formuladores do Plano Real, e outros o núcleo do grupo heterodoxo.

Ressurreição
Passado o momento dos choques heterodoxos, o papel da PUC-RJ na condução da política econômica do país se retraiu, para então ressurgir nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso com os mesmos nomes do Plano Cruzado, somados aos de alguns dos seus alunos mais brilhantes, como Gustavo Franco e Edward Amadeo.



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